Juventude toma conta da marcha de abertura do FSM 2013
Uma constelação de movimentos sociais, organizações, sindicatos e grupos compuseram a marcha de abertura e comporão todo o Fórum Social Mundial da Tunísia. Em termos temáticos, questões como a das mulheres e palestina estiveram fortemente presentes.
Maurício Hashizume
Túnis – Em meio à conhecida diversidade e engajamento que sempre marcaram as marchas de abertura dos Fóruns Sociais Mundiais, a que reuniu mais uma vez dezenas de milhares de pessoas nesta terça-feira (26) contou particularmente com a presença maciça dos jovens do país. Com gritos, faixas, canções e muita empolgação, seguidos grupos formados pela juventude – que, não por acaso, tem sido uma dos principais protagonistas da chamada Primavera Árabe – que percorreu as ruas da capital da Tunísia.
Um deles era o residente médico Handi Gzara, de 25 anos. “Estamos muito orgulhosos com a realização deste Fórum no nosso país. É um grande encontro que certamente nos ajudará muito nas nossas lutas internas”, afirmou. “Estamos recebendo a solidariedade dos demais movimentos que aqui estão. Trata-se de um sinal de união para o mundo”.
Outra participante da marcha que não escondia o entusiasmo com a realização do FSM na Tunísia era a jornalista Chadwa Chadha, que escreve matérias para uma agência de notícias online do país. Ela denuncia a ocorrência de casos de violência contra colegas de imprensa e perseguição política de artistas, em vários países do Norte da África, que contestam o status quo. E define-se como defensora dos direitos humanos, das mulheres e das crianças. “Há muito desemprego. O ditador Ben Ali foi destituído, mas muitos que estavam antes continuam em seus postos dentro do governo”.
Formado em psiquiatria e amigo de Handi, o jovem Walid Bel Haj Salah também esteve presente na marcha e frisou que a realização do FSM em Tunis se tornou possível a partir das rebeliões das quais participaram. Para ele, a forte presença da juventude no encontro internacional pode ser explicada pela esperança que os move para a construção de um futuro diferente, que não esteja confinado “em uma forma única e dogmática de se pensar”. Diante de um clima de frustração que se seguiu à euforia da emergência da Primavera Árabe, o Fórum, prossegue ele, pode ajudar a militância tunisiana a “recobrar o ânimo”.
Nos discursos que se ouviram no Estádio Menzah, ponto de chegada da marcha que partiu da Praça 14 de Janeiro de 2011, representantes do comitê local de organização do FSM destacaram que um intenso trabalho vem sendo desenvolvido por organizações da sociedade civil junto a jovens e desempregados desde 2002, quando a indústria têxtil nacional relegou ao desemprego um enorme número de trabalhadoras e trabalhadores.
Por diversas vezes foi citado o nome de Chokri Belaid, líder tunisiano da oposição de esquerda que mantinha uma forte ligação com a juventude e foi assassinado no inicio do mês passado. Também não foi olvidado o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também falecido recentemente. “Quando o Fórum Social Mundial surgiu, em 2001”, observou um deles, “ninguém poderia imaginar que a sua 12ª edição pudesse ser realizada na Tunísia”.
Durante o percurso da marcha, também se viram algumas pichações de crítica (“Fórum Social do Capital”) ao FSM, assinadas por grupos anarquistas que estão organizando, assim como já havia ocorrido em Mumbai (2004), atividades paralelas de contestação ao processo que propugna “outro mundo possível”.
Aberturas e uniões
Uma constelação de movimentos sociais, organizações, sindicatos e grupos compuseram a marcha. Em termos temáticos, questões como a das mulheres (veja reportagem sobre a Assembleia das Mulheres) e palestina estiveram fortemente presentes. ”Simbolicamente, é muito importante que o Fórum esteja sendo realizado aqui em Tunis. Encontramos aqui as portas abertas quando deixamos o Líbano, em 1982”, coloca Faisal Malak, do Movimento Fateh. “Queremos reforçar durante as discussões que a causa palestina é uma questão social, e não exclusivamente política”.
Além da participação intensa de variados coletivos da África e do Oriente Médio, associações e participantes vindos da Europa também compareceram em peso. O intérprete Jesus de Manoel, que vive em Granada, na Espanha, demonstrava satisfação em “poder participar da construção de um mundo mais justo”. Presente em duas edições do FSM (2003 e 2005) em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, ele vê a Primavera Árabe como um processo em curso que - assim como nos casos de outras mobilizações sociais como os Indignados (15M) e o movimento Occupy – deve priorizar a aproximação entre forças progressistas. “A unidade política permitiu que experiências concretas de caminhos que não seguem o receituário neoliberal fossem possíveis na América Latina”.
Professor da Universidade Central de Venezuela e experimentado conhecedor do processo do FSM, o sociólogo venezuelano Edgardo Lander adverte exatamente sobre os possíveis estragos que podem ser causados por sectarismos na esquerda latino-americana. “É preciso que reflitamos sobre isso. O custo de que organizações se fechem em si mesmas é altíssimo”.
Edgardo considera muito importante que o Fórum esteja sendo realizado na Tunísia, pois experiências passadas têm mostrado que o encontro internacional pode deixar “um sopro de agitação e ânimo por onde passa” – como é o caso do Syryza, partido grego de esquerda que ganhou espaço na disputa político-partidária que tem a sua formação associada à abertura advinda de desdobramentos do Fórum Social Europeu.
Para o indiano Vijay Pratap, da organização Diálogos Sul-Asiáticos sobre Democracia Ecológica (SADED), o FSM na Tunísia tem tudo para aportar uma nova carga de energia ao processo. O espaço para a discussão do aspecto multidimensional das lutas sociais é, no entendimento do ativista, uma das maiores contribuições do encontro. “O Fórum Social Mundial de 2004 em Mumbai, na Índia, foi muito importante. Para 2014, existe a disposição de propormos a realização de um Fórum Social Temático novamente em nosso país, quem sabe sobre o próprio tema da democracia”.
Um deles era o residente médico Handi Gzara, de 25 anos. “Estamos muito orgulhosos com a realização deste Fórum no nosso país. É um grande encontro que certamente nos ajudará muito nas nossas lutas internas”, afirmou. “Estamos recebendo a solidariedade dos demais movimentos que aqui estão. Trata-se de um sinal de união para o mundo”.
Outra participante da marcha que não escondia o entusiasmo com a realização do FSM na Tunísia era a jornalista Chadwa Chadha, que escreve matérias para uma agência de notícias online do país. Ela denuncia a ocorrência de casos de violência contra colegas de imprensa e perseguição política de artistas, em vários países do Norte da África, que contestam o status quo. E define-se como defensora dos direitos humanos, das mulheres e das crianças. “Há muito desemprego. O ditador Ben Ali foi destituído, mas muitos que estavam antes continuam em seus postos dentro do governo”.
Formado em psiquiatria e amigo de Handi, o jovem Walid Bel Haj Salah também esteve presente na marcha e frisou que a realização do FSM em Tunis se tornou possível a partir das rebeliões das quais participaram. Para ele, a forte presença da juventude no encontro internacional pode ser explicada pela esperança que os move para a construção de um futuro diferente, que não esteja confinado “em uma forma única e dogmática de se pensar”. Diante de um clima de frustração que se seguiu à euforia da emergência da Primavera Árabe, o Fórum, prossegue ele, pode ajudar a militância tunisiana a “recobrar o ânimo”.
Nos discursos que se ouviram no Estádio Menzah, ponto de chegada da marcha que partiu da Praça 14 de Janeiro de 2011, representantes do comitê local de organização do FSM destacaram que um intenso trabalho vem sendo desenvolvido por organizações da sociedade civil junto a jovens e desempregados desde 2002, quando a indústria têxtil nacional relegou ao desemprego um enorme número de trabalhadoras e trabalhadores.
Por diversas vezes foi citado o nome de Chokri Belaid, líder tunisiano da oposição de esquerda que mantinha uma forte ligação com a juventude e foi assassinado no inicio do mês passado. Também não foi olvidado o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também falecido recentemente. “Quando o Fórum Social Mundial surgiu, em 2001”, observou um deles, “ninguém poderia imaginar que a sua 12ª edição pudesse ser realizada na Tunísia”.
Durante o percurso da marcha, também se viram algumas pichações de crítica (“Fórum Social do Capital”) ao FSM, assinadas por grupos anarquistas que estão organizando, assim como já havia ocorrido em Mumbai (2004), atividades paralelas de contestação ao processo que propugna “outro mundo possível”.
Aberturas e uniões
Uma constelação de movimentos sociais, organizações, sindicatos e grupos compuseram a marcha. Em termos temáticos, questões como a das mulheres (veja reportagem sobre a Assembleia das Mulheres) e palestina estiveram fortemente presentes. ”Simbolicamente, é muito importante que o Fórum esteja sendo realizado aqui em Tunis. Encontramos aqui as portas abertas quando deixamos o Líbano, em 1982”, coloca Faisal Malak, do Movimento Fateh. “Queremos reforçar durante as discussões que a causa palestina é uma questão social, e não exclusivamente política”.
Além da participação intensa de variados coletivos da África e do Oriente Médio, associações e participantes vindos da Europa também compareceram em peso. O intérprete Jesus de Manoel, que vive em Granada, na Espanha, demonstrava satisfação em “poder participar da construção de um mundo mais justo”. Presente em duas edições do FSM (2003 e 2005) em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, ele vê a Primavera Árabe como um processo em curso que - assim como nos casos de outras mobilizações sociais como os Indignados (15M) e o movimento Occupy – deve priorizar a aproximação entre forças progressistas. “A unidade política permitiu que experiências concretas de caminhos que não seguem o receituário neoliberal fossem possíveis na América Latina”.
Professor da Universidade Central de Venezuela e experimentado conhecedor do processo do FSM, o sociólogo venezuelano Edgardo Lander adverte exatamente sobre os possíveis estragos que podem ser causados por sectarismos na esquerda latino-americana. “É preciso que reflitamos sobre isso. O custo de que organizações se fechem em si mesmas é altíssimo”.
Edgardo considera muito importante que o Fórum esteja sendo realizado na Tunísia, pois experiências passadas têm mostrado que o encontro internacional pode deixar “um sopro de agitação e ânimo por onde passa” – como é o caso do Syryza, partido grego de esquerda que ganhou espaço na disputa político-partidária que tem a sua formação associada à abertura advinda de desdobramentos do Fórum Social Europeu.
Para o indiano Vijay Pratap, da organização Diálogos Sul-Asiáticos sobre Democracia Ecológica (SADED), o FSM na Tunísia tem tudo para aportar uma nova carga de energia ao processo. O espaço para a discussão do aspecto multidimensional das lutas sociais é, no entendimento do ativista, uma das maiores contribuições do encontro. “O Fórum Social Mundial de 2004 em Mumbai, na Índia, foi muito importante. Para 2014, existe a disposição de propormos a realização de um Fórum Social Temático novamente em nosso país, quem sabe sobre o próprio tema da democracia”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário