31/03/2013 - 18h31
Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A dor de perder um filho assassinado não passa, mesmo depois de anos. Esse é o sentimento de parentes de vítimas da Chacina da Baixada, ocorrida em 2005 e que hoje (31) completou oito anos. Na ocasião, um grupo de policiais militares saiu matando indiscriminadamente moradores inocentes dos municípios de Nova Iguaçu e de Queimados, na Baixada Fluminense, deixando um rastro de 29 mortes. Para marcar a data, um grupo de mães e parentes realizou uma caminhada, que começou na Rodovia Presidente Dutra e passou pela rua Gama, em Nova Iguaçu, principal palco da tragédia.
“Queremos que pare o extermínio de jovens que acontece na Baixada Fluminense. Temos o exemplo do que aconteceu na Chatuba [em setembro de 2012, quando traficantes mataram oito jovens inocentes] e outros meninos que morrem aqui, não em grupo, mas a varejo. Por isso, a caminhada não é só para homenagear as vítimas daquele dia, mas para dizer à sociedade e às autoridades que existe um grupo que se incomoda com o que continua acontecendo”, declarou Luciene Silva, organizadora do ato e mãe de Raphael Silva, morto aos 17 anos no massacre.
Ela disse que a vida das famílias que tiveram mortos na chacina nunca mais foi a mesma, embora passados tantos anos: “É um vazio que nunca se acaba. É um vazio eterno. A gente sente uma falta dele muito grande. Nunca mais as reuniões da minha família foram as mesmas. Sempre temos a sensação de que está faltando alguém”.
A manifestação contou com pessoas ligadas a outros assassinatos acontecidos no estado e também em São Paulo, que registrou dezenas de mortes entre os dias 12 e 21 de maio de 2006, como resposta a uma série de atentados de criminosos paulistas contra civis e policiais. Em todo o estado de São Paulo, os homicídios praticados por grupos de extermínio resultou na morte direta de pelo menos 142 pessoas. Só na Baixada Santista, foram 40 vítimas. Entre elas, a filha de Vera Lúcia Gonzaga, Ana Paula, de 20 anos, que estava grávida de nove meses.
“Na noite de 15 de maio de 2006 morreram ela, o marido e o bebê. Só nesta noite foram 25 assassinatos na Baixada Santista. Até hoje ninguém foi preso. Depois de quatro meses, o inquérito foi arquivado, disse Vera Lúcia. Até hoje ela não se conforma com a perda da filha e do bebê que ia nascer, sem que ninguém tenha sido condenado: “Ficou tudo bagunçado. A gente não tem mais festa, Natal, Páscoa. Não temos mais nada. A dor não sai e as lembranças continuam. O que mais dói é o manto da impunidade”.
Para o ativista social Adriano Dias, fundador da organização Com Causa, que trabalha na defesa dos direitos humanos na Baixada Fluminense, as mortes continuam acontecendo na região, mas cada vez mais ligadas ao tráfico de drogas, que vem se fortalecendo nos municípios vizinhos, na medida em que se enfraquece nas favelas cariocas ocupadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora.
“Hoje tem um aumento considerável das áreas controladas pelo narcotráfico. Está mudando o perfil. Sempre houve tráfico aqui, mas a mudança de controle territorial, com mais armamentos e brutalidade, está acontecendo a olhos vistos. Os negócios [do tráfico] estão migrando para cá. Por conta das políticas de pacificação das favelas do Rio”, disse Adriano.
Edição: Beto Coura
Nenhum comentário:
Postar um comentário