segunda-feira, 4 de março de 2013

Para concretizar o direito à mobilidade noturna



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Como assegurar transporte público também na madrugada, quando as metrópoles estão vivas? Outras Palavras convida a participar de um debate de relevância nacional
Por Gabriela Leite
Uma petição virtual que pede ampliação do horário do metrô de São Paulo atingiu grande alcance nas redes sociais. Lançada há 20 dias, reuniu quase 83 mil assinaturas. Exige que o transporte subterrâneo funcione 24 horas, todos os dias, para atender aos trabalhadores noturnos, estudantes e a quem queira divertir-se à noite pela cidade. Coloca em foco, de maneira mais ampla, uma contradição de nossas metrópoles. Nelas, milhões de pessoas estão despertas de madrugada — mas têm mobilidade extremamente restrita. É possível superar tal limite, considerando dificuldades técnicas e financeiras? Outras Palavras passará a tratar deste tema e convida os leitores aportar informações e opiniões sobre ele.
Há, a princípio, três fatores a considerar: o direito; os obstáculos para efetivá-lo; as alternativas. Segundo alguns estudos, cerca de 15 milhões de brasileiros (um em cada sete integrantes da população economicamente ativa) trabalham entre 22h e 5h. Na maior parte de nossas metrópoles, o transporte público nestes horários é ou inexistente, ou muito rarefeito. Quem não tem carro, enfrenta longas esperas, preço alto do táxi, insegurança ou é, na maior parte das vezes, obrigado a adiar por horas a volta para casa.
O problema tornou-se mais complexo a partir da Lei Seca, que agora pune rigidamente quem consome qualquer quantidade de álcool e dirige. Ela já ajudou a diminuir os acidentes de carro, mas não criou alternativas para quem deseja ir a shows, festas e bares e quer regressar com rapidez e conforto.
É possível um metrô que funcione ininterruptamente? Para alguns engenheiros, não. Eles afirmam que o período da noite é essencial para a manutenção dos vagões e trilhos, necessária para a segurança e agilidade dos trens durante o dia. Olhando para as grandes cidades do mundo, percebe-se que talvez isso seja verdade, afinal a únicacidade com um sistema de metrô que funciona sem parar é Nova York. Suas linhas são muito mais complexas do que as de São Paulo, mas ainda assim, todas as estações funcionam permanentemente. Existem também exemplos de funcionamento parcial — como o de Chicago, onde apenas duas linhas ficam abertas.
Quais as alternativas? Um projeto difundido por Gabriel Medina, candidato a vereador de São Paulo em 2012, sugere ônibus mais frequentes e seguros durante a noite. Segundo pesquisas da SPTrans, apesar de existirem algumas linhas noturnas na cidade (apenas 2,48% do total delas), o tempo médio de espera sobe para 50 minutos, entre as 2 e as 3 da manhã. Essa alternativa, menos ambiciosa e mais imediatamente viável que a do metrô, já se concretizou, em parte, em muitas outras cidades, como em diversas capitais europeias e mesmo em Campinas, onde existe sistemas de ônibus noturnos.
Os parágrafos acima apenas esboçam o problema. Queremos aprofundar, nos próximos dias, três aspectos: a) A radiografia do trabalho noturno, em São Paulo e outras grandes cidades brasileiras. Qual o perfil de quem o exerce. Como estas pessoas se deslocam. b) A situação, em detalhes, do metrô. A manutenção precisa ser feita todos os dias? Estende-se pelas cinco horas em que o serviço é interrompido? Poderia haver exceções, poupando, por exemplo, os fins de semana? c) Qual a real situação das linhas de ônibus noturnas? Quantas teriam de existir, para assegurar conforto e rapidez à população?
Dados concretos e pontos de vista sobre estes e outros temas serão muito bem-vindos. Para contribuir, basta comentar este post.
A economia noturna de São Paulo é intensa, com uma grande quantidade de bares, casas noturnas e restaurantes que costumam se concentrar nas áreas mais centrais da cidade. Restringir o direito ao transporte público apenas no horário comercial — e mesmo assim cheio de falhas — é negar uma parte importante da cidade à população. É necessário procurar caminhos para que os cidadãos tenham maior acesso a uma vida noturna que faz fama na maior metrópole do país.

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