terça-feira, 28 de maio de 2013

Estudante tem parte da casa incendiada em Yahmur


Foto: Now

Marwa Olleik, uma estudante de jornalismo de 20 anos foi banida de sua aldeia Yahmur, uma pitoresca aldeia nas planícies do sul, próximo ao Castelo Shqeef, do tempo das Cruzadas, e também a 5 km da fronteira com Israel. O motivo? Suas opiniões, e seu explícito apoio aos rebeldes sírios, e suas críticas acirradas em relação ao envolvimento do Hezbollah no conflito sírio. 

A jovem disse, que desde o primeiro dia da revolução síria, ela se posicionou a favor dos rebeldes, porque ela apoia qualquer pessoa que opta por revolta, para exigir sua liberdade, independente de política ou história. O fato de o povo querer mudar o regime foi o suficiente, para que ela decidisse apoia-los em sua causa, e em virtude disso, ela esteve usando seu perfil no Facebook, durante meses, para expressar seu apoio à revolução síria. 

A princípio, os seus pensamentos e postagens, não incomodaram ninguém na aldeia, mas devido ao envolvimento do Hezbollah ter se intensificado, e se tornado mais explícito, bem como suas críticas e postagens também foram ficando mais afiadas, ela começou a receber mensagens intimidadoras de pessoas que falavam que envergonhava a honra da aldeia e os xiitas, além de lançarem a ela muitos insultos, das formas mais baixas possíveis. 

Mas os ânimos ferveram de vez no último domingo, quando o Hezbollah atacou cidade síria de Qusair, próxima a fronteira do Líbano. Olleik postou fotos e comentários, perguntando o que eles estavam fazendo lá, especialmente porque ela estava vendo cerca de 2 a 3 corpos retornando a Nabatieh, a cada dia. 

As pessoas, então, começaram a falar que ela era um insulto a Sayyida Zeinab (neta do profeta Mohammad), e ela respondeu que insultar Sayyida Zeinab, era mil vezes mais misericordioso, do que matar uma criança da Síria. 

Esse comentário levantou eclodiu o auge da ira da aldeia, e seu pai, um partidário mais ou menos ortodoxo do Hezbollah, começou a receber ligações de afiliados locais do partido, pedindo-lhe para que ele fizesse sua filha moderar seus comentários na rede social. 

Por questão de segurança e respeito à reputação de seu pai, ela publicou um pedido de desculpas em seu perfil, porém a retratação não foi aceita. No dia seguinte, sua mãe, disse ter encontrado um bilhete na parede da casa em Nabatieh que dizia: “Não pense em voltar para Yahmur”, e ignorando o aviso, ela foi até a casa, e constatou que o conteúdo da varanda da frente, havia sido incendiado na noite anterior. 

Moradores locais, da pequena aldeia de cinco mil habitantes, expressam opiniões distintas sobre o episódio. Uns dizem não ser nada demais, apenas uma disputa entre jovens, e que os responsáveis pelo incêndio são encrenqueiros já conhecidos da aldeia, e que ela pode voltar para sua aldeia, sem problemas. 

Um rapaz que disse ser primo de Olleik, disse que ela não pode voltar, porque ela está proibida, por ter insultado Sayyida Zeinab, e que não existe maneira alguma dos aldeões permitirem o seu retorno a aldeia. Outro morador local, que também não quis se identificar, afirmou que o pai de Olleik havia se reunido com um representante do Hezbollah, e que tudo havia se resolvido. 

Olleik, no entanto, disse que o rabit, um oficial local do Hezbollah, havia ido à sua casa e dito a sua mãe, que ela não podia voltar à aldeia, e tinha o dever de publicar um pedido de desculpas, porque desta vez, queimaram a varanda, mas na próxima, eles queimarão a casa toda. 

O rabit disse ainda, que se um combatente do Hezbollah for um martirizado de Yahmur, que eles que iriam matá-la. O Porta-Voz do Hezbollah, Ibrahim Mousawi, disse que ele ainda não tinha ouvido nada sobre este incidente. 

A estudante que há meses vem protestando suas críticas contra o Hezbollah, sem repercussões, acredita que as reações hostis em relação aos seus comentários nos últimos dias, se intensificaram em virtude da condenação que o grupo vem recebendo desde a ofensiva em Qusair. 

A jovem explicou que o Hezbollah vem perdendo o apoio, inclusive dos próprios xiitas, onde muitas mães e familiares de jovens que foram enviados para os combates no país vizinho e retornaram em caixões, têm demonstrado muita raiva contra as decisões tomadas pelo partido, e eles então, querem silenciar as críticas. 

 A jovem afirmou que não pretende tomar providências legais contra os agressores que queimaram a varanda de sua casa na aldeia, porque ela acredita ser uma causa perdida. Alguns familiares dela, mesmo ex-membros do Hezbollah, acham que ela deveria voltar à aldeia.

Mas a estudante diz que sua reputação está arruinada, e que ela não terá mais uma vida na aldeia. Instalada num apartamento em Asharafieh, Olleik está pensando em morar em Beirute, e foi categórica em dizer que voltar pra Nabatieh, não é mais uma opção. 


Claudinha Rahme
Gazeta de Beirute


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