Contra os gays e contra os imigrantes
Rodrigo Vianna
Rodrigo Vianna
Só que a notícia é surpreendente e deve provocar arrepios entre os velhos liberais franceses: o gesto extremo foi de um francês. Um militante da extrema-direita francesa. Sim. E o mais impressionante: ele se suicidou dentro da Catedral de Notre-Dame. A seguir, as informações, traduzidas (com meus parcos conhecimentos de francês) do portal do “Le Monde”.
O ministro do Interior francês disse que o suicídio aconteceu quando havia 1.500 pessoas na catedral, que é – segundo ele – “um dos símbolos de Paris e de nosso país”.
O objetivo de Venner parece ter sido este mesmo: um gesto extremo, num lugar simbólico para o catolicismo francês.
Marine Le Pen, dirigente da “Frente Nacional” (partido da extrema-direita francesa, fundado pelo pai dela), logo se manifestou no twiter qualificando o suicídio como “um gesto político”.
Antigo militante da extrema-direita, Venner foi paraquedista durante a Guerra da Argélia, e lutou para que o país africano seguisse sendo uma colônia francesa.
A direita francesa tem feito grandes manifestações contra a lei que aprovou o casamento gay no país. Venner escreveu que não basta combater o casamento gay. Para ele, o inimigo principal seria o Imigrante (esse grande “outro”, ameaçador, que toma o lugar do judeu na mitologia do fascismo francês). A imigração de árabes (que, em sua maioria, professam fé muçulmana) é vista pela direita como ameaça à identidade da chamada “Civilização Européia”.
No próximo dia 26 (domingo), uma grande marcha foi convocada pela extrema-direita e por grupos cristãos tradicionalistas. O gesto extremo de Venner pod ser lido como uma tentativa de mobilizar os militantes ultraconservadores e xenófobos.
O ato de Venner mostra que o fundamentalismo chegou ao coração da Europa. Ou, talvez, tenha estado sempre ali – feito o monstro da lagoa que de repente vem à superfície.
O professor e jornalista Nilson Lage, pelo twitter nesta terça à tarde, comentou: “Espetacular suicídio: monge tibetano? Militante árabe? Não. Um católico fundamentalista homófobo francês”. E, mais tarde completou: “É bom lembrar que a França é o berço dos primeiros grandes teóricos do fascismo no Século XX: Le Bon, Maurras e Sorel.”
O site Opera Mundi lembrou que Venner deixou um último texto em seu blog, com indicações do que considera os próximos passos para mobilizar a extrema-direita:
Segundo ele, “são necessários gestos novos, espetaculares e simbólicos para fazer agitar essa sonolência chacoalhar as consciências anestesiadas e despertar a memória para as nossas origens”.
Verdade que Paris tem como um dos seus símbolos o lindo prédio do Instituto da Cultura Árabe. Prova de que boa parte dos franceses (e, sobretudo, o Estado francês) tem conseguido incorporar os traços de outras culturas. Mas há uma outra França que se agita: a mesma que deu as boas-vindas a Hitler nos anos 40. A França de Vichy, dos colaboracionistas. A França fascista.
Assustador? A história não se repete, ok. Mas já vimos filme parecido nos anos 20/30 – em meio a crise econômica tão severa como a atual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário