O Papa investiga o suspeito banco do Vaticano
Escândalos como a falência do banco Ambrosiano em 1982, que envolveu a máfia, a maçonaria e os serviços secretos estadunidenses, mancharam a credibilidade do banco do Papa, conhecido como o Instituto para as Obras da Religião. Além das boas intenções do papa Francisco, a comissão tem um duro trabalho pela frente. O chamado banco do Papa, fundado em 1942 por Pio XII, com ativos por 7,1 bilhões de euros, maneja milhares de contas de padres e freiras em todo o mundo.
Página/12
O papa Francisco colocou na mira o controvertido banco do Vaticano ao designar uma comissão especial de investigação para investigar as atividades econômicas e a situação jurídica da maior entidade financeira da Santa Sede, envolvida durante décadas em escândalos por suspeitas de lavagem de dinheiro. Formada por cinco especialistas, a comissão deverá informar diretamente o pontífice sobre as atividades do banco do Vaticano, conhecido como o Instituto para as Obras da Religião (IOR), para conhecer melhor sua situação jurídica, a fim de “permitir uma harmonização da entidade com a missão da Igreja universal e da santa sede apostólica”, segundo informou a nota do Vaticano.
“Se trata do segundo passo importante do Papa depois da designação de oito cardeais para a reforma da cúria romana”, comentou Marco Politi, que considera que Francisco “decidiu encarar seriamente o problema IOR”. Para a criação da comissão pontifícia, o papa argentino assinou um “quirógrafo”, um documento escrito pessoalmente, à mão, com data de 24 de junho.
“Depois de ter escutado a opinião de vários cardeais e de outros irmãos no episcopado assim como de outros colaboradores e à luz da necessidade de introduzir reformas nas instituições que prestam ajuda à sede apostólica, decidimos estabelecer uma Comissão Referente sobre o Instituto para as Obras da Religião que junte informação precisa sobre a situação jurídica e as diversas atividades do Instituto a fim de permitir, em caso necessário, uma maior harmonização com a missão universal da santa sede apostólica”, diz o texto escrito por Francisco.
O quirógrafo papal sublinha também que “o segredo de ofício e as outras eventuais restrições estabelecidas pelo sistema jurídico não inibem ou limitam o acesso da comissão aos documentos, dados e informações”, ou seja, que poderá agir livremente. Além de seu relatório, a comissão deverá entregar “todo seu arquivo, no momento oportuno, ao final de seus trabalhos”, pede Jorge Bergoglio no documento.
Os membros da comissão são o cardeal italiano Raffaele Farina, ex-responsável pelos arquivos secretos do Vaticano; o cardeal francês Jean Louis Tauran; o espanhol Juan Ignacio Arrieta Ochoa de Chinchetru, especialista na legislação do Vaticano (coordenador); o estadunidense Peter Bryam Wells, membro da Secretaria de Estado, e a professora laica estadunidense Mary Ann Glendon, especialista em direito de Harvard e ex-embaixadora dos Estados Unidos na Santa Sede.
O chamado banco do Papa, fundado em 1942 por Pio XII, com ativos por 7,1 bilhões de euros, maneja milhares de contas de padres e freiras em todo o mundo, de simples irmãs filipinas que estudam em Roma, passando por bispos e cardeais, até poderosas congregações religiosas espalhadas em todos os cantos do planeta.
Escândalos como a falência do banco Ambrosiano em 1982, que envolveu a máfia, a maçonaria e os serviços secretos estadunidenses, mancharam a credibilidade do banco do Papa, acusado de lavar o dinheiro sujo de organizações criminosas através de contas anônimas.
“Não acho que o transformem em um banco ético (N. da R.: sem fins lucrativos), mas em uma entidade que serve só aos interesses da Santa Sede como, por exemplo, enviar dinheiro a uma igreja que se encontra em um país sob uma ditadura”, explicou Politi.
Além das boas intenções do Papa, a comissão tem um duro trabalho pela frente. No verão passado o Moneyval, o órgão de controle do Conselho da Europa para a luta contra a lavagem de capitais e o financiamento do terrorismo, publicou um relatório demolidor sobre as ações e costumes financeiros do Vaticano.
O precedente pontificado de Bento XVI quis limpar este passado nebuloso e normalizar sua gestão sem conseguir. Ao menos seis investigações judiciais foram abertas, nos últimos anos, pela Justiça italiana contra o banco do Vaticano por irregularidades e transações suspeitas, segundo o relatório anual da Autoridade de Informação Financeira divulgado em maio.
Desde que chegou o novo presidente do IOR, o alemão Ernst von Freyberg, nomeado dias antes da eleição de Francisco, uma equipe de especialistas da agência financeira Promontory verifica a situação de cada uma das 19.000 contas do IOR.
Em sua primeira intervenção sobre o IOR, em 16 de junho, Francisco designou o italiano monsenhor Battista Mario Salvatore Ricca, um de seus homens de confiança, como novo “prelado” desta instituição. Espera-se que o primeiro Papa jesuíta, que desde sua eleição em março defende uma Igreja pobre para os pobres, reforme drasticamente a opaca entidade financeira da Santa Sede.
Sobre a da duração da comissão e quando se apresentarão os resultados, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou que se desconhece sua duração, mas que se pode prever que apresentem um primeiro relatório em outubro, quando o Papa se reunirá com a comissão dos oito cardeais que o assessoram sobre a reforma da cúria romana.
Tradução: Liborio Júnior
“Se trata do segundo passo importante do Papa depois da designação de oito cardeais para a reforma da cúria romana”, comentou Marco Politi, que considera que Francisco “decidiu encarar seriamente o problema IOR”. Para a criação da comissão pontifícia, o papa argentino assinou um “quirógrafo”, um documento escrito pessoalmente, à mão, com data de 24 de junho.
“Depois de ter escutado a opinião de vários cardeais e de outros irmãos no episcopado assim como de outros colaboradores e à luz da necessidade de introduzir reformas nas instituições que prestam ajuda à sede apostólica, decidimos estabelecer uma Comissão Referente sobre o Instituto para as Obras da Religião que junte informação precisa sobre a situação jurídica e as diversas atividades do Instituto a fim de permitir, em caso necessário, uma maior harmonização com a missão universal da santa sede apostólica”, diz o texto escrito por Francisco.
O quirógrafo papal sublinha também que “o segredo de ofício e as outras eventuais restrições estabelecidas pelo sistema jurídico não inibem ou limitam o acesso da comissão aos documentos, dados e informações”, ou seja, que poderá agir livremente. Além de seu relatório, a comissão deverá entregar “todo seu arquivo, no momento oportuno, ao final de seus trabalhos”, pede Jorge Bergoglio no documento.
Os membros da comissão são o cardeal italiano Raffaele Farina, ex-responsável pelos arquivos secretos do Vaticano; o cardeal francês Jean Louis Tauran; o espanhol Juan Ignacio Arrieta Ochoa de Chinchetru, especialista na legislação do Vaticano (coordenador); o estadunidense Peter Bryam Wells, membro da Secretaria de Estado, e a professora laica estadunidense Mary Ann Glendon, especialista em direito de Harvard e ex-embaixadora dos Estados Unidos na Santa Sede.
O chamado banco do Papa, fundado em 1942 por Pio XII, com ativos por 7,1 bilhões de euros, maneja milhares de contas de padres e freiras em todo o mundo, de simples irmãs filipinas que estudam em Roma, passando por bispos e cardeais, até poderosas congregações religiosas espalhadas em todos os cantos do planeta.
Escândalos como a falência do banco Ambrosiano em 1982, que envolveu a máfia, a maçonaria e os serviços secretos estadunidenses, mancharam a credibilidade do banco do Papa, acusado de lavar o dinheiro sujo de organizações criminosas através de contas anônimas.
“Não acho que o transformem em um banco ético (N. da R.: sem fins lucrativos), mas em uma entidade que serve só aos interesses da Santa Sede como, por exemplo, enviar dinheiro a uma igreja que se encontra em um país sob uma ditadura”, explicou Politi.
Além das boas intenções do Papa, a comissão tem um duro trabalho pela frente. No verão passado o Moneyval, o órgão de controle do Conselho da Europa para a luta contra a lavagem de capitais e o financiamento do terrorismo, publicou um relatório demolidor sobre as ações e costumes financeiros do Vaticano.
O precedente pontificado de Bento XVI quis limpar este passado nebuloso e normalizar sua gestão sem conseguir. Ao menos seis investigações judiciais foram abertas, nos últimos anos, pela Justiça italiana contra o banco do Vaticano por irregularidades e transações suspeitas, segundo o relatório anual da Autoridade de Informação Financeira divulgado em maio.
Desde que chegou o novo presidente do IOR, o alemão Ernst von Freyberg, nomeado dias antes da eleição de Francisco, uma equipe de especialistas da agência financeira Promontory verifica a situação de cada uma das 19.000 contas do IOR.
Em sua primeira intervenção sobre o IOR, em 16 de junho, Francisco designou o italiano monsenhor Battista Mario Salvatore Ricca, um de seus homens de confiança, como novo “prelado” desta instituição. Espera-se que o primeiro Papa jesuíta, que desde sua eleição em março defende uma Igreja pobre para os pobres, reforme drasticamente a opaca entidade financeira da Santa Sede.
Sobre a da duração da comissão e quando se apresentarão os resultados, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou que se desconhece sua duração, mas que se pode prever que apresentem um primeiro relatório em outubro, quando o Papa se reunirá com a comissão dos oito cardeais que o assessoram sobre a reforma da cúria romana.
Tradução: Liborio Júnior
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