O eleição do clérigo moderado Hassan Rohani é uma “surpresa total e absoluta”.
Saeed Kamali Dehghan
Saeed Kamali Dehghan
Rohani, uma figura favorável à abertura política moderado e ao restabelecimento de relações com o Ocidente, provavelmente acalmará as tensões internacionais. Ele foi descrito por autoridades ocidentais como um “diplomata experiente” e “um político bom de se lidar”.
“É bom ter centrífugas funcionando, desde que as vidas e meios de subsistência das pessoas também estejam funcionando”, Rohani disse em um debate na televisão durante a campanha. Durante seu mandato como negociador nuclear, o Irã foi mais cooperativo com a comunidade internacional e, nas preparações para a votação de sexta-feira, ele repetidamente salientou que em sua visão o dossiê nuclear do Irã não foi referendado pelo Conselho de Segurança da ONU.
O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, deixou claro que iria considerar cada voto da república islâmica, mas na sexta-feira muitos dos eleitores disseram que votariam para evitar qualquer risco de Rohani ser derrotado pelos conservadores próximos de Khamenei. Analistas políticos interpretaram a derrota do candidato presidencial arquiconservador Saeed Jalili como um voto contrário à atual política nuclear do Irã.
As autoridades inicialmente disseram que iriam começar a revelar os resultados logo após as 02:00 horas locais no sábado, mas levaram-se mais quatro horas até Mohammad-Najjar aparecer na televisão estatal para começar a anunciar os resultados.
Na votação anterior, em 2009, que muitos afirmam ter sido fraudada, os resultados finais foram anunciados muito mais rapidamente.
Analistas acreditam que qualquer esquema era menos provável este ano porque Ahmadinejad não está concorrendo e o governo não apoiou nenhum dos candidatos.
O apoio a Rohani no início da semana de líderes reformistas como Mohammad Khatami e Akbar Hashemi Rafsanjani injetou entusiasmo de última hora à corrida, aumentando suas chances.
Meir Javedanfar, professor de política iraniana do Centro Interdisciplinar de Israel, descreveu os resultados como “surpresa total e absoluta”.
“Com base nos resultados de 2009, que muitos, inclusive eu, acharam ter sido fraudados, a expectativa era de que a votação genuína de Rohani não seria computada, já que seus pontos de vista não parecem estar em consonância com o Corpo da Guarda Revolucionária do Irã e seu líder supremo, assim como os dos líderes da oposição Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karoubi”, disse ele.
“Se Rohani ganhar no primeiro turno, é um sinal claro de que, após a revolta de 2009, o líder supremo tomou conhecimento de que seu regime precisa recuperar sua legitimidade, e que ela só virá a partir da contagem correta do voto do povo.”
O ex-ministro das Relações Exteriores da Inglaterra, Jack Straw, conhece Rohani e descreveu-o como “caloroso e envolvente”.
“Este é um resultado notável e bem-vindo, e eu estou torcendo para não haver trapaça com o resultado final”, disse ele.
“Este voto de confiança em Rohani parece mostrar uma fome do povo iraniano em romper com a abordagem árida e autodestrutiva do passado e em manter relações mais construtivas com o Ocidente.”
Seyed Hossein Mousavian, vice de Rohani no Conselho de Segurança Nacional do Irã de 1997 a 2005, e um porta-voz da equipe de negociação nuclear do Irã, disse que os resultados mostraram que os iranianos estão desesperados por “mudança”.
“O apoio público de Rafsanjani e Khatami e a retirada de Mohammad-Reza Aref da corrida presidencial tiveram um papel importante na vitória de Rohani”, disse ele. Khatami e Rafsanjani desempenharam um papel significativo na vitória de Rohani com suas declarações de apoio e ao persuadir Aref a sair para evitar uma divisão nos votos.
“A linha dura permanece no controle de aspectos-chave do sistema político do Irã, mas os centristas e reformistas provaram que, mesmo quando as cartas estão contra eles, ainda podem prevalecer devido ao seu apoio entre a população”, disse Trita Parsi, do Conselho Nacional Iraniano-americano.
O comparecimento às urnas foi tão grande que seções eleitorais ficaram abertas por cinco horas a mais do que o planejado.
Falando depois de depositar seu voto em Teerã, Khamenei tinha insistido num comparecimento em massa para refutar sugestões de funcionários norte-americanos de que a eleição tinha pouca legitimidade.
“Recentemente, ouvi que alguém no Conselho de Segurança Nacional dos EUA disse: ‘Nós não reconhecemos essa eleição no Irã’”, disse ele. “Nós não damos a mínima.”
Entre os que votaram estava Ebrahim Yazdi, secretário-geral do Movimento de Libertação do Irã, grupo proibido que é crítico do sistema.
“A eleição de hoje é entre o ruim e o pior”, disse ele à agência de notícias semioficial Mehr. “Votar é um dever nacional e um direito dado por Deus.”
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