Zissi
Este poema é dedicado a Manuel Bandeira, sacerdote maior, que adotou o Menino, na alegria e na tristeza: "Depois da poeira, a porta que rangia. / Como os dentes que consertava por ofício / Mas será que ninguém dá um jeito nesse barulho, que irrita e vicia?"
Jacques Gruman
A Manuel Bandeira, sacerdote maior, que adotou o Menino, na alegria e na tristeza.
Depois da poeira, a porta que rangia.
Como os dentes que consertava por ofício.
Mas será que ninguém dá um jeito nesse barulho, que irrita e vicia ?
Vencido o muro empenado, a tortura dos degraus.
Metafísicos. Iam para o alto, mas, desgovernadas naus,
Movediças, desciam para a tristeza e o desvario.
Degraus viscosos, oh tende piedade,
Limpam o barro e deixam, intacta, a ancestral saudade.
Todo dia, sempre, aquela
E
S
C
A
D
A
Sonhava sonhos de alpinista, everestiando de olhos abertos.
Nunca, porém, fincou bandeira no último degrau,
Pano que enxugaria suas lágrimas e aliviaria seus desacertos.
Com o tempo, transformou-se no Espírito que Anda,
Sem imortalidade, nem pigmeus bandar.
Justiceiro desarmado. Bolo que desandou.
Um dia, flutuou.
A sola gasta, objeto inútil, foi depositada,
Delicadamente,
No primeiro degrau.
Sobrevoa rotinas e apaga rastros. Deixa os dentes
E a melancolia
Para trás.
Finalmente,
O último degrau.
Salta para os olhos de Regina, anjo triste,
Que nunca mais pararam de chover.
A umidade, teimosa, insiste.
Lubrifica a porta, que para de ranger,
E a Vida, triunfante, desliza para as mãos do Menino,
Que, abraçado ao Zissi, toma posse da memória
Tantos anos emperrada.
Depois da poeira, a porta que rangia.
Como os dentes que consertava por ofício.
Mas será que ninguém dá um jeito nesse barulho, que irrita e vicia ?
Vencido o muro empenado, a tortura dos degraus.
Metafísicos. Iam para o alto, mas, desgovernadas naus,
Movediças, desciam para a tristeza e o desvario.
Degraus viscosos, oh tende piedade,
Limpam o barro e deixam, intacta, a ancestral saudade.
Todo dia, sempre, aquela
E
S
C
A
D
A
Sonhava sonhos de alpinista, everestiando de olhos abertos.
Nunca, porém, fincou bandeira no último degrau,
Pano que enxugaria suas lágrimas e aliviaria seus desacertos.
Com o tempo, transformou-se no Espírito que Anda,
Sem imortalidade, nem pigmeus bandar.
Justiceiro desarmado. Bolo que desandou.
Um dia, flutuou.
A sola gasta, objeto inútil, foi depositada,
Delicadamente,
No primeiro degrau.
Sobrevoa rotinas e apaga rastros. Deixa os dentes
E a melancolia
Para trás.
Finalmente,
O último degrau.
Salta para os olhos de Regina, anjo triste,
Que nunca mais pararam de chover.
A umidade, teimosa, insiste.
Lubrifica a porta, que para de ranger,
E a Vida, triunfante, desliza para as mãos do Menino,
Que, abraçado ao Zissi, toma posse da memória
Tantos anos emperrada.
(*) Engenheiro químico, é militante internacionalista da esquerda judaica no Rio de Janeiro.
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