domingo, 22 de setembro de 2013

Brasil quer elevar intensidade do diálogo com Argentina


Brasil quer elevar intensidade do diálogo com Argentina

Foi a política, e não o comércio, o tema central dos diálogos do chanceler brasileiro Luiz Alberto Figueiredo com a presidenta Cristina Kirchner, nos últimos dias. Por um lado, é verdade que o comércio costuma fazer barulho na relação bilateral, mas, por outro, é a falta de intensidade política do último ano entre Brasil e Argentina que impediu conciliar ou terminou exacerbando o efeito de conflitos como o da Vale, que suspendeu seu projeto de investimento em Mendoza. Por Martín Granovsky, para o Página/12

Buenos Aires – Se o escotismo serviu para uma cúpula entre o equatoriano Rafael Correa e Cristina Kirchner, agora só falta uma simples desculpa para gerar uma reunião cara a cara entre Cristina e Dilma: em apenas seis dias, viajaram especialmente de Brasília à Buenos Aires o ministro de Defesa Celso Amorim e o chanceler Luiz Alberto Figueiredo Machado. Ambos viram seus pares Agustín Rossi e Héctor Timerman, mas também se reuniram com a Presidenta. Desta forma, o governo argentino já contava com informação de primeira mão da postergação da visita de Estado de Dilma Rousseff à Washington. Sabe até que ponto a presidenta brasileira pesou prós e contras e resolveu não viajar aos Estados Unidos no dia 23 de outubro porque a Casa Branca nem negou tê-la espionado nem se desculpou pela espionagem.

Cada um dos visitantes – Amorim, na semana passada e Figueiredo nesta – é uma figura chave no Brasil. Amorim porque, antes de ser ministro de Defesa de Dilma, foi chanceler nos dois mandatos de Lula e agora é o encarregado de supervisionar a defesa frente a eventuais ataques cibernéticos. Figueiredo é chave por dois motivos. Um, porque substituiu o ministro Antonio Patriota depois do escândalo gerado quando a embaixada brasileira na Bolívia facilitou a fuga do dirigente opositor Manuel Pinto. Ou seja, Rousseff mudou nada menos que seu chanceler – ou terminou de decidir sua saída se é que já estava molesta com ele – para priorizar a boa relação com um país vizinho. O outro motivo é que a primeira missão de Figueiredo foi reunir-se em Washington com a poderosa Susan Rice, a conselheira de Segurança Nacional de Obama. O encontro, sem resultados favoráveis na visão do Planalto, antecedeu a ligação de Obama à Dilma, que tampouco convenceu a presidenta brasileira.

Página/12 pôde estabelecer que foi a política, e não o comércio, o tema central dos diálogos Timerman-Figueiredo e Cristina-Figueiredo. Em todo caso o comércio costuma fazer barulho na relação bilateral, mas a falta de intensidade política do último ano e os escassos contatos em profundidade entre as presidentas impediram conciliar ou terminaram magnificando o efeito de conflitos como o da mineira Vale, que suspendeu seu projeto de investimento em Mendoza.

A política também incluiu uma avaliação do Mercosul e da Unasul. O comunicado conjunto dos chanceleres inclusive fala da Secretaria Geral da União Sul-americana de Nações, que ficará vaga depois de que a deixe o venezuelano Alí Rodríguez. Diplomatas latino-americanos que pediram reserva de sua identidade disseram que, na recente cúpula do Suriname circulou um nome, o do argentino Rafael Follonier, assessor de Néstor Kirchner na Secretaria da Unasul, conselheiro de Cristina Fernández de Kirchner com status de secretário de Estado e de bom trato pessoal tanto com os presidentes de centro-esquerda da América do Sul, como com o colombiano Juan Manuel Santos e o chileno Sebastián Piñera. Se haverá à cabeça da Unasul apenas uma figura forte, um mandato colegiado, um brasileiro, um argentino ou um terceiro com forte apoio de brasileiros e argentinos na segunda linha do organismo e nas chancelarias, é um menu que está se cozinhando por estas horas. Mas seja qual for a figura escolhida, se o Brasil e a Argentina não retomam a intensidade política que tinham em nível presidencial, a Secretaria da Unasul será um assunto abstrato.

Pelo menos no caso brasileiro, ainda que Dilma não saiu da zona de risco político, a situação refletida nas manifestações massivas de junho parece encaminhar-se mais ao gosto do Partido dos Trabalhadores, a força que conduz a coalisão. É verdade que o Partido Socialista Brasileiro, de Eduardo Campos, acaba de deixar os postos de governo. Entretanto, o governador de Pernambuco não passou para a oposição e, também, nas pesquisas de intenção de voto que medem que aconteceria se as eleições presidenciais de 2014 fossem hoje, Campos está entre os que não crescem. Também andam por ali Aécio Neves e José Serra, do Partido da Socialdemocracia Brasileira. Com mais chances, aparece a verde Marina Silva, mas carece de estrutura. Dilma, que havia caído de 57 pontos no princípio de junho a 30 no final deste mês, já alcançou os 38, segundo dados da consultora Vox Populi. Se as eleições fossem já, ganharia no segundo turno.

Correa e seus amigos escoteiros – ele pertenceu 20 anos à organização e vários de seus funcionários também – estão ainda mais tranquilos que o PT. O presidente equatoriano foi revalidado em fevereiro.

Tradução: Liborio Júnior

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