segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Polônia, único país da UE que evitou recessão, explode em protestos


O descontentamento demorou a pegar, mas finalmente se apoderou da rua.

Lucía Abellán
 Sindicalistas poloneses protestam contra o governo nas ruas de Varsóvia (Polônia)
Sindicalistas poloneses protestam contra o governo nas ruas de Varsóvia (Polônia)
Dezenas de milhares de poloneses marcharam durante boa parte da semana passada em Varsóvia contra políticas de cortes das quais até agora haviam escapado, em comparação com a maioria de seus vizinhos. Seis anos depois de a crise começar na Europa, a Polônia, único país comunitário que não conheceu a recessão nesse período, percebe claramente seus efeitos. Uma reforma trabalhista que amplia a margem de manobra do empresário e um agravamento do emprego provocaram as mobilizações.
Vista pela óptica espanhola, essa deterioração que sofre a Polônia parece invejável. Apesar de estar perdendo fôlego, o país espera crescer este ano 1% e o desemprego apenas supera os 10%, segundo os últimos dados do Eurostat, departamento estatístico da Comunidade Europeia. Mas a Polônia se mira no espelho de seu passado mais imediato e tem saudade dos tempos em que irrompeu na nova Europa como o milagre do leste, com altos níveis de crescimento e convergência com a UE.
Manifestantes poloneses entraram em confronto com a polícia durante celebrações do dia da independência do país em Varsóvia, capital da Polônia, neste domingo (11)
As estreitezas econômicas estão passando a conta ao primeiro-ministro de centro-direita, Donald Tusk, que a população identifica com as novas políticas de cortes. Trata-se de um importante revés no currículo de Tusk, o único chefe de Executivo reeleito na Polônia desde a queda do comunismo. E um motivo de inquietação em Bruxelas, que o recebeu calorosamente em 2007 depois dos quebra-cabeças que produziram os irmãos Kaczynski -Lech, já falecido, na presidência e Jaroslaw à frente do governo, com um discurso populista e antieuropeu.
"Houve outros protestos antes, mas estes foram mais importantes; podia-se ver nas ruas, com manifestantes durante quatro dias", explica em conversa por telefone, de Varsóvia, Magdalena Dzialoszynska, jornalista no canal de notícias TVN24. Mais que um estopim concreto, a repórter descreve uma situação de mal-estar diante da qual os sindicatos, principais convocadores das marchas, decidiram elevar a voz. A recente reforma da previdência, que eleva a idade de aposentadoria de 65 para 67 anos para os homens, e a trabalhista, que acentua a precariedade dos novos contratos, acenderam os ânimos. "Tusk parece ter menos medo de perder o voto dos jovens do que o dos empresários", reflete Dzialoszynska. A metade dos jovens poloneses está ligada a sua empresa por um contrato com menos direitos que os regulamentares, segundo dados da Comissão Europeia em seu último relatório de recomendações à Polônia.
O paradoxo é que as políticas que Tusk promove - em princípio para cumprir os ditames de Bruxelas - redundam essa precariedade que também denuncia o Executivo comunitário. Essa espiral parece estar dando asas ao temido Jaroslaw Kaczynski, cujo partido Lei e Justiça pisa nos calcanhares da Plataforma Cívica de Tusk. Embora as eleições gerais demorem em chegar - estão previstas para o final de 2015 -, os poloneses já advertiram seu primeiro-ministro sobre os riscos de abraçar a política de austeridade que permeia a UE.

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