Este episódio recente é emblemático no sentido de revelar a vulnerabilidade do modo de produção capitalista e suas ramificações demonstradas em crises constantes e contínuas
Maria Luisa Mendonça
Maria Luisa Mendonça
O impasse que se instalou nas últimas semanas no Congresso e no Senado dos Estados Unidos em relação às votações sobre o orçamento da União e ao teto da dívida pública demonstra a vulnerabilidade do atual cenário de crise econômica mundial. Superficialmente, o debate entre os partidos Democrata e Republicano ocorre em meio a disputas de projetos políticos, mas é necessário compreender o contexto mais amplo que revela o estágio atual da economia capitalista.
O governo de Barack Obama tem demonstrado ambiguidade e, mais do que isso, tem abandonado muitas promessas feitas durante a campanha eleitoral, o que gera fortes críticas por parte de setores de esquerda. Ao mesmo tempo, a direita fundamentalista representada pela ala do partido Republicano conhecida como “tea party” faz oposição raivosa a qualquer tentativa de se avançar em uma pauta progressista.
Dados do Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) revelam que a dívida ultrapassou o limite imposto anteriormente de 16 trilhões de dólares. A maior parte desses papéis, estimada em cerca de $10 trilhões de dólares, é controlada por empresas multinacionais e por governos de outros países. A maior detentora individual da dívida dos Estados Unidos é a China, que coleciona papéis no valor de $1,2 trilhão de dólares.
Este é o principal elemento que justifica a atual conjuntura de controle “bilateral” que Estados Unidos e China exercem em relação à economia global. Enquanto os produtos manufaturados na China são exportados com tarifas preferenciais para o mercado estadunidense, os chineses garantem a emissão de papel-moeda em dólar que move a economia fictícia mundial.
Nas últimas décadas, muitas empresas estadunidenses se instalaram na China em busca de maior extração de mais-valia através da exploração do trabalho e de recursos naturais. Este processo de desindustrialização nos Estados Unidos deixou a economia em um estado permanente de vulnerabilidade, já que a impossibilidade de atingir taxas aceitáveis de lucro através da exploração do trabalho significou o aprofundamento da dependência em relação ao mercado financeiro.
Esta é a principal razão para o pânico gerado nas elites financeiras e empresariais diante da possibilidade de um “calote” por parte do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, caso o Congresso não aprovasse novas emissões de dinheiro. E, por este mesmo motivo, estava claro que nenhum partido político iria desagradar os senhores de Wall Street. Este episódio recente é emblemático no sentido de revelar a vulnerabilidade do modo de produção capitalista e suas ramificações demonstradas em crises constantes e contínuas.
Maria Luisa Mendonça é jornalista e coordenadora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
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