Os moradores da disputada região de Abyei, localizada na fronteira entre o Sudão e o Sudão do Sul, começaram decidir, por meio de um referendo que teve início no domingo passado, a qual país querem pertencer. Embora a votação seja, em grande medida, simbólica e provavelmente bastante injusta, ela poderá ter consequências bastante reais caso provoque o aumento das tensões e alimente mais conflitos em uma região já assolada pela violência.
Isma'il Kushkush E Nicholas Kulish
Isma'il Kushkush E Nicholas Kulish
Homem gesticula durante protesto na cidade de Abyei, no Sudão: moradores da região disseram que vão lutar até o fim para decidir o futuro
Durante mais de dois anos, desde que o Sudão do Sul declarou sua independência, Abyei tem estado no limbo. E, como resultado, a fronteira entre o Sudão e o Sudão do Sul, que tem aproximadamente 2 mil km de extensão, ainda não foi definida.
A região é desconfortavelmente compartilhada por dois grupos étnicos: os Ngok Dinka, que fixaram residência no local, e os nômades Misseriya. Espera-se que os Ngok Dinka, que têm vínculos com o sul, votem a favor da adesão da região ao Sudão do Sul. O povo Misseriya, que costuma entrar e sair do distrito em questão com seus rebanhos, temem que caso eles se juntem ao Sudão do Sul sua migração possa ser restringida e seu modo de vida ameaçado – mas, mesmo assim, eles não devem participar do referendo.
Luka Biong, porta-voz do Alto Comitê para o Referendo de Abyei, que organizou a votação, disse à agência de notícias Associated Press que a votação deve durar três dias. "Este é um momento especial, um momento histórico para nós", disse ele. "O referendo é a coroação da história de lutas do povo de Abyei. Eu estou testemunhando a determinação do meu povo". Os resultados do referendo são esperados para quinta-feira (31).
Segundo os moradores locais, a votação tem seguido pacífica e organizada, com as pessoas esperando pacientemente nas filas das zonas eleitorais por sua vez de votar. Grande parte da tensão que envolve o referendo está relacionada à definição de quem pode ser considerado residente de Abyei e, portanto, eleitor. A União Africana não considera os Misseriya residentes locais, pois eles ficam em Abyei apenas durante a estação da seca.
"Legalmente, o referendo não tem valor, já que a maioria dos partidos envolvidos decidiu não reconhecê-lo", disse Al-Tayib Zainalabdin, professor de ciência política da Universidade de Cartum. Mas, politicamente, o referendo terá consequências, segundo o professor.
Membros de ambos os grupos étnicos se mantêm fortemente armados, e os confrontos entre eles foram especialmente sangrentos em 2008, quando foram contabilizadas centenas de vítimas. Analistas dizem que o referendo poderá reavivar a violência na região. "O referendo pode causar mais tensão entre os Ngok Dinka e os Misseriya", disse Zainalabdin. "E é possível que eles peguem em armas e lutem entre si por conta própria, independentemente do governo sudanês".
No domingo passado, a União Africana acusou o governo sudanês de impedir que sua delegação visitasse a área disputada e expressou "sua profunda decepção" com o ocorrido. O partido disse que "o Sudão deve abster-se de obstruir seu trabalho e oferecer ampla cooperação para apoiar aos esforços da União Africana em administrar e resolver a situação em Abyei".
Ambos os países têm enfrentado dificuldades para se firmar desde que o Sudão do Sul se separou do Sudão, há dois anos. A capital sudanesa, Cartum, foi abalada por protestos no mês passado, depois que o governo, na tentativa de compensar a perda das receitas do petróleo desde que o Sudão do Sul foi criado, decidiu parar de subsidiar a gasolina, o que fez o preço do combustível quase dobrar.
O Sudão do Sul vem tentando construir um estado moderno após décadas de conflitos. Mas, com pouca infraestrutura, altas taxas de mortalidade infantil e divisões étnicas, o desafio se revelou enorme.
O presidente Omar al-Bashir, do Sudão, e o presidente Salva Kiir, do Sudão do Sul, se reuniram na semana passada em Juba, capital do Sudão do Sul, e prometeram dar prosseguimento aos planos para estabelecer um governo e uma força policial na região de Abyei. Mas os Ngok Dinka têm se mostrado cada dia mais impacientes.
"A comunidade internacional não está falando sério", disse o Reverendo Biong Kuol, padre católico de Abyei, em entrevista concedida por telefone. Ele afirma que votou pela incorporação de Abyei ao Sudão do Sul, pois as pessoas da região estão sofrendo e os planos para a implantação de um governo local já demoraram tempo demais para se materializar. "Não é direito de Cartum nem de Juba" decidir os rumos da região, disse ele, "mas sim direito dos Ngok Dinka".
O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) expressou "sérias preocupações em relação à situação altamente volátil na região de Abyei" na quinta-feira passada e pediu para que ambos os lados não tomassem atitudes unilaterais. Marie Harf, porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, pediu que "os líderes comunitários de Abyei se abstenham de tomar alguma atitude que possa aumentar as tensões na região".
Os campos de petróleo de Abyei, região que tem aproximadamente 10 mil km quadrados de área, já foram responsáveis por uma parcela importante das exportações de petróleo do Sudão e têm sido uma fonte de tensão entre os dois países. Mas a produção de petróleo de Abyei diminuiu significativamente.
Grande parte da região é formada por pântanos e vegetação rasteira, mas ela também conta com pastagens cobiçadas e um rio, cujo nome ainda não foi definido porque os dois grupos étnicos de Abyei ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre como batizá-lo. Os Misseriya o chamam de Bahr al-Arab e os Ngok, de Dinka o Kiir.
A região é desconfortavelmente compartilhada por dois grupos étnicos: os Ngok Dinka, que fixaram residência no local, e os nômades Misseriya. Espera-se que os Ngok Dinka, que têm vínculos com o sul, votem a favor da adesão da região ao Sudão do Sul. O povo Misseriya, que costuma entrar e sair do distrito em questão com seus rebanhos, temem que caso eles se juntem ao Sudão do Sul sua migração possa ser restringida e seu modo de vida ameaçado – mas, mesmo assim, eles não devem participar do referendo.
Luka Biong, porta-voz do Alto Comitê para o Referendo de Abyei, que organizou a votação, disse à agência de notícias Associated Press que a votação deve durar três dias. "Este é um momento especial, um momento histórico para nós", disse ele. "O referendo é a coroação da história de lutas do povo de Abyei. Eu estou testemunhando a determinação do meu povo". Os resultados do referendo são esperados para quinta-feira (31).
Segundo os moradores locais, a votação tem seguido pacífica e organizada, com as pessoas esperando pacientemente nas filas das zonas eleitorais por sua vez de votar. Grande parte da tensão que envolve o referendo está relacionada à definição de quem pode ser considerado residente de Abyei e, portanto, eleitor. A União Africana não considera os Misseriya residentes locais, pois eles ficam em Abyei apenas durante a estação da seca.
"Legalmente, o referendo não tem valor, já que a maioria dos partidos envolvidos decidiu não reconhecê-lo", disse Al-Tayib Zainalabdin, professor de ciência política da Universidade de Cartum. Mas, politicamente, o referendo terá consequências, segundo o professor.
Membros de ambos os grupos étnicos se mantêm fortemente armados, e os confrontos entre eles foram especialmente sangrentos em 2008, quando foram contabilizadas centenas de vítimas. Analistas dizem que o referendo poderá reavivar a violência na região. "O referendo pode causar mais tensão entre os Ngok Dinka e os Misseriya", disse Zainalabdin. "E é possível que eles peguem em armas e lutem entre si por conta própria, independentemente do governo sudanês".
No domingo passado, a União Africana acusou o governo sudanês de impedir que sua delegação visitasse a área disputada e expressou "sua profunda decepção" com o ocorrido. O partido disse que "o Sudão deve abster-se de obstruir seu trabalho e oferecer ampla cooperação para apoiar aos esforços da União Africana em administrar e resolver a situação em Abyei".
Ambos os países têm enfrentado dificuldades para se firmar desde que o Sudão do Sul se separou do Sudão, há dois anos. A capital sudanesa, Cartum, foi abalada por protestos no mês passado, depois que o governo, na tentativa de compensar a perda das receitas do petróleo desde que o Sudão do Sul foi criado, decidiu parar de subsidiar a gasolina, o que fez o preço do combustível quase dobrar.
O Sudão do Sul vem tentando construir um estado moderno após décadas de conflitos. Mas, com pouca infraestrutura, altas taxas de mortalidade infantil e divisões étnicas, o desafio se revelou enorme.
O presidente Omar al-Bashir, do Sudão, e o presidente Salva Kiir, do Sudão do Sul, se reuniram na semana passada em Juba, capital do Sudão do Sul, e prometeram dar prosseguimento aos planos para estabelecer um governo e uma força policial na região de Abyei. Mas os Ngok Dinka têm se mostrado cada dia mais impacientes.
"A comunidade internacional não está falando sério", disse o Reverendo Biong Kuol, padre católico de Abyei, em entrevista concedida por telefone. Ele afirma que votou pela incorporação de Abyei ao Sudão do Sul, pois as pessoas da região estão sofrendo e os planos para a implantação de um governo local já demoraram tempo demais para se materializar. "Não é direito de Cartum nem de Juba" decidir os rumos da região, disse ele, "mas sim direito dos Ngok Dinka".
O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) expressou "sérias preocupações em relação à situação altamente volátil na região de Abyei" na quinta-feira passada e pediu para que ambos os lados não tomassem atitudes unilaterais. Marie Harf, porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, pediu que "os líderes comunitários de Abyei se abstenham de tomar alguma atitude que possa aumentar as tensões na região".
Os campos de petróleo de Abyei, região que tem aproximadamente 10 mil km quadrados de área, já foram responsáveis por uma parcela importante das exportações de petróleo do Sudão e têm sido uma fonte de tensão entre os dois países. Mas a produção de petróleo de Abyei diminuiu significativamente.
Grande parte da região é formada por pântanos e vegetação rasteira, mas ela também conta com pastagens cobiçadas e um rio, cujo nome ainda não foi definido porque os dois grupos étnicos de Abyei ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre como batizá-lo. Os Misseriya o chamam de Bahr al-Arab e os Ngok, de Dinka o Kiir.
Tradutor: Cláudia Gonçalves
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