Da periferia ao centro: cultura e política em tempos pós-modernos
As relações entre cultura e política ganharam novos contornos no Brasil a partir da década de 1990.
A explosão cultural da periferia - tendo à frente o rap - expressou-se numa lógica dualista que
dividia a sociedade em brancos e negros, centro e periferia, "manos" e "playboys". Essa visão dualista,
por sua vez, reflete uma forma de pensar prisioneira do imediato - no caso, a recusa abstrata do
"sistema". O mesmo procedimento pode ser visto na classe média que foi às ruas nas jornadas
de junho, em 2013. Conduzida pela lógica do espetáculo e manipulada pela mídia, as jornadas
também expressaram, na outra ponta da sociedade, uma estetização da política que
reproduzia, a seu modo, a permanência no visível, no imediato.
Celso Frederico
A explosão cultural da periferia - tendo à frente o rap - expressou-se numa lógica dualista que
dividia a sociedade em brancos e negros, centro e periferia, "manos" e "playboys". Essa visão dualista,
por sua vez, reflete uma forma de pensar prisioneira do imediato - no caso, a recusa abstrata do
"sistema". O mesmo procedimento pode ser visto na classe média que foi às ruas nas jornadas
de junho, em 2013. Conduzida pela lógica do espetáculo e manipulada pela mídia, as jornadas
também expressaram, na outra ponta da sociedade, uma estetização da política que
reproduzia, a seu modo, a permanência no visível, no imediato.
Celso Frederico
I
No mês de fevereiro de 2013, a revista Carta Capital publicou diversas matérias sobre cultura, mais precisamente sobre o chamado "vazio cultural", que seria, segundo o diagnóstico da revista, a característica definidora do tempo presente.
E hoje? Depois de 12 anos da era Lula, as políticas de inclusão social e de incentivo à educação e à cultura, o que se pode dizer? O tom geral da revista é de desânimo: estamos vivendo um vazio cultural. A superestrutura caminha vagarosamente e parece não querer acompanhar o desenvolvimento social...
Essa mesma percepção acompanha muitos estudantes que se voltam para o passado com olhos nostálgicos, deixando transparecer que eles prefeririam ter nascido noutros tempos, quando as coisas importantes aconteciam...
De fato, toda a movimentação cultural da década de 1960 gravitou em torno do público estudantil e da classe média escolarizada. Esse segmento conheceu um vertiginoso crescimento. Marcelo Ridenti (2013) chamou a atenção para esse fato:
Dados eloquentes que, contudo, não tiveram reflexos significativos no campo cultural. Mas as manifestações culturais surpreendentemente apareceram na outra ponta: entre os 85% dos jovens conhecidos como "nem nem" - aqueles que não estão nem na universidade e nem no mercado de trabalho formal.
Esses novos protagonistas habitam um território de localização geográfica imprecisa, que passou a ser designado pela polissêmica palavra periferia. Essa é a novidade que nega o propalado "vazio cultural", diagnóstico que revela uma concepção restrita do que se entende por cultura.1
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