domingo, 1 de dezembro de 2013

Tratar a insônia pode curar depressão

Curar a insônia em pessoas com depressão pode dobrar suas chances de uma recuperação completa, 
relatam cientistas. As descobertas, com base num tratamento de insônia que usa a terapia falada ao invés 
de medicamentos, são as primeiras de uma série de estudos acompanhados com rigor sobre sono e
 depressão a serem lançados no ano que vem.

Benedict Carey

O novo relatório informa sobre os resultados de um estudo piloto menor, deixando os cientistas confiantes de que os efeitos do tratamento de insônia são reais. Se os novos dados se sustentarem, eles representam o avanço mais significativo no tratamento da depressão desde o lançamento do Prozac, em 1987.
A depressão é o transtorno mental mais comum, afetando cerca de 18 milhões de norte-americanos por ano, de acordo com dados do governo, e mais da metade deles também têm insônia.
Especialistas a par do novo relatório disseram que os resultados são plausíveis e que, se apoiados por outros estudos, eles devem levar a grandes mudanças no tratamento.
"Seria uma verdadeira bênção para o campo", disse Nada L. Stotland, professor de psiquiatria no Rush Medical College, em Chicago, que não estava ligado às últimas pesquisas.
"Isso faz muito sentido, clinicamente", disse Stotland. "Quem tem depressão costuma ficar acordado a noite inteira, é algo extremamente solitário, sombrio, e existe a consciência a cada momento de que o mundo em torno está dormindo, cada preocupação da pessoa é amplificada."
Este é o primeiro de quatro estudos sobre sono e depressão em fase de conclusão, todos financiados pelo Instituto Nacional de Saúde Mental. Eles têm como objetivo avaliar um tipo de terapia de fala para a insônia, que é barato, relativamente breve e geralmente eficaz, mas atualmente não faz parte do tratamento padrão.
O novo relatório, de uma equipe da Universidade de Ryerson, em Toronto, descobriu que 87% dos pacientes que resolveram sua insônia em quatro sessões quinzenais de terapia também viram seus sintomas de depressão diminuírem após oito semanas de tratamento, ou com um medicamento antidepressivo ou um comprimido de placebo – quase o dobro do número daqueles que não conseguiram se livrar da insônia. Esses números estão de acordo com um estudo piloto anterior sobre o tratamento de insônia em Stanford.
Numa entrevista, o principal autor do relatório, Colleen E. Carney, disse: "A maneira como a história está se desenrolando, acho precisamos começar a aumentar o tratamento padrão da depressão com terapia focada na insônia."
Carney reconheceu que o estudo foi pequeno – com apenas 66 pacientes – e disse que um quadro mais claro deve surgir à medida que as outras equipes de cientistas liberam seus resultados. Esses estudos estão sendo feitos nas universidades de Stanford, Duke e Pittsburgh e incluem cerca de 70 indivíduos cada. Carney apresentará seus dados no sábado numa convenção da Associação de Terapias Cognitivas e Comportamentais, em Nashville, Tennessee.
Os médicos há muito consideravam a falta de sono como um sintoma da depressão que desaparecia com os tratamentos, disse Rachel Manber, professora do Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais da Universidade de Stanford, cujo teste piloto de 2008 forneceu uma base para estudos maiores. "Mas agora sabemos que não é o caso", disse ela. "A relação é bidirecional – a insônia pode preceder a depressão."
A insônia forte é mais grave do que os problemas de sono que a maioria das pessoas têm ocasionalmente. Para ser diagnosticada com insônia, a pessoa deve ter sofrido um perda crônica do sono por pelo menos um mês, causando problemas no trabalho, em casa ou em relacionamentos importantes. Vários estudos sugerem que ter insônia dobra o risco de uma pessoa mais tarde se tornar deprimida – o problema de sono precede o transtorno de humor e não o contrário.
A terapia que Manber, Carney e outros pesquisadores estão usando é chamada terapia cognitivo-comportamental para insônia, ou TCC-I na sigla em inglês. O terapeuta ensina as pessoas a estabelecerem um horário regular para acordar e a cumpri-lo; sair da cama durante os períodos de vigília; evitar comer, ler, assistir TV, ou fazer atividades similares na cama, e eliminar os cochilos durante o dia.
O objetivo é reservar o tempo na cama apenas para o sono e – tão importante quanto – "eliminar a ideia de que dormir exige esforço, que é algo que é preciso resolver", diz Carney. "É aí que as pessoas entram em apuros, quando começam a pensar que precisam fazer algo para conseguir dormir."
Este tipo de terapia é diferente da chamada higiene do sono: exercícios regulares, mas não perto da hora de dormir, e evitar café e muito álcool à noite. Esses hábitos saudáveis não chegam a ser um tratamento eficaz para insônia.
Em seu estudo piloto de 2008 testando a terapia cognitivo-comportamental em pessoas com depressão, Manber, de Stanford, usou a higiene do sono como parte de seu tratamento. Ela descobriu que 60% dos pacientes que receberam sete sessões de terapia e um antidepressivo, recuperaram-se totalmente da depressão – em comparação com 33% que receberam o mesmo medicamento e terapia da higiene do sono.
Dr. Andrew Krystal, que está executando o estudo com a terapia cognitivo-comportamental em Duke, chamou o sono de uma "fronteira imensa e inexplorada da psiquiatria".
"O corpo tem ciclos circadianos complexos e, principalmente na psiquiatria, temos ignorado isso", disse ele. "Os tratamentos são realizados por conveniência. Tratamos durante o dia e fazemos pouco esforço para descobrir o que está acontecendo durante a noite."
Tradução: Eloise de Vylder

Nenhum comentário:

Postar um comentário