Principais regiões produtoras no Brasil sofrem com falta de chuva e altas temperaturas, e produto sobe em média 66% no mercado internacional. Mesmo com redução na safra, país não deve perder espaço para concorrentes.
Os efeitos da seca prolongada no Brasil – e o consequente aumento do preço do café – chegaram aos consumidores europeus. A Tchibo, líder do mercado de café torrado em países como Alemanha, Áustria e Polônia, colocou panfletos em supermercados e pontos de venda para informar que o valor do tipo arábica do produto aumentou neste mês devido à queda na produção brasileira.
Desde o início do ano, a produção de café no Brasil – maior produtor e exportador mundial e que abastece cerca de 40% do mercado internacional de café arábica – vem sendo prejudicada por conta da falta de chuvas e das altas temperaturas. O valor da saca de 60 quilos, que custava cerca de 300 reais em janeiro, saltou para 480 reais. O aumento médio no período foi de 66% no mercado internacional.
O calor excessivo em janeiro provocou a maior seca em décadas e afetou importantes regiões que produzem café do tipo arábica, como o sul de Minas Gerais e o nordeste de São Paulo. A situação provocará o primeiro déficit de produção (de cerca de dois milhões de sacas no período 2014/2015) no mercado mundial de café em cinco anos, de acordo com a Organização Mundial do Café (OIC).
“Além da seca, outro motivo foi o aumento do consumo mundial no segundo semestre de 2013. Em dezembro, os grandes compradores começaram um movimento de compras intenso, também porque os preços da saca de café estavam muito baixos”, diz Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). “Simultaneamente, o inverno no Hemisfério Norte ativou o consumo e as compras de café.”
No Brasil, o consumidor começou a sentir a mudança de preço em abril. De acordo com Herszkowicz, a indústria ainda não repassou todo o aumento de custo, de cerca de 35%, ao consumidor. O quilo do produto passará, em média, de 13 para 18 reais. “O repasse está sendo feito de forma gradual”, diz.
Redução de 15% na safra
O economista Paulo Henrique Cotta Pacheco, do Ibmec/MG, diz que o baixo investimento de pequenos e médios agricultores no cuidado dos pés de café é também um dos motivos para a queda da produção brasileira. Ele explica que, por causa do baixo preço do produto no ano passado, os produtores investiram menos no uso de defensores agrícolas, adubos e irrigação.
“Isso é histórico. Sempre que os preços ficam baixos num ano, há quebra de safra no ano seguinte, e a qualidade piora. E neste ano não seria diferente”, afirma Pacheco. “E, ainda por causa do baixo investimento, houve em Minas Gerais o ressurgimento da pragaHypothenemus hampei, que ataca os frutos dos pés de café.”
Com a seca, o Brasil deverá produzir 32,23 milhões de sacas de arábica em 2014, uma redução de 15,81% em relação ao ano anterior. De acordo com dados de maio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de café conilon – que não teve suas regiões produtoras atingidas pela seca – em 2014 é estimada em 12,33 milhões de sacas, um crescimento de 13,49% em comparação com 2013.
Posição sólida no mercado
A safra do ano que vem também será afetada por conta da seca de 2014. O motivo, segundo especialistas, é que a falta de chuva aliada às altas temperaturas fez com que os ramos produtivos dos pés de café crescessem menos. De acordo com previsão do Conselho Nacional do Café (CNC) divulgada em abril, a safra de 2015 deverá ficar entre 38,7 milhões e 43,6 milhões de sacas.
“O nosso prognóstico é que os preços continuem altos. Vamos ter uma ideia melhor dos preços e da safra para 2015 a partir de setembro deste ano, quando acontecer a floragem do café”, diz Jânio Zeferino da Silva, diretor do Departamento do Café do Ministério da Agricultura. “Isso vai acontecer até porque a Indonésia já anunciou uma quebra de safra e o Vietnã, como o Brasil, também passou por seca nas regiões produtoras.”
Brasil é responsável por abastecer 40% do mercado internacional de café arábica
Apesar da crise, o especialista afirma que o Brasil, responsável por 33,73% da produção mundial, não perdeu mercado para outros produtores importantes, como Vietnã (18,9%), Indonésia (8%) e Colômbia (7,5%). Segundo ele, esses países não conseguem aumentar a produção a tempo de tomar o espaço brasileiro.
Por outro lado, países da América Central têm tido um sério problema de ferrugem em suas plantações. E, mesmo que esses países não tenham grande produção, eles são reconhecidos por um café de grande qualidade e muito mais caro.
“Se houver aumento de produção nesses países, isso será a partir de 2017. Mas, até lá, o Brasil também se recuperou”, explica Zeferino da Silva. “Temos falado para os produtores brasileiros que tenham consciência do que está acontecendo no mercado e que não expandam muito as lavouras, já que a planta de café demora três anos para entrar em produção e não dá para se basear no preço de hoje.”
Mas produtores e comerciantes brasileiros estão aproveitando a alta do valor do produto no mercado internacional para liberar estoques, estimados pela Conab em cerca de 15,5 milhões de sacas– o que Zeferino da Silva afirma ser uma recomendação do governo. As sacas estavam armazenadas nos depósitos desde o ano passado, quando os preços do café atingiram o mínimo recorde em seis anos e meio.
“A maioria desses estoques não pertence mais aos fazendeiros, mas às trades, que estão ganhando muito dinheiro nesta virada de preço”, explica Pacheco. “E essas grandes empresas, que detêm informações de mercado não só no Brasil, mas no mundo inteiro, aproveitam a assimetria informacional para fazer suas apostas”, completa o economista do Ibmec/MG.
Fonte: DW.DE
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