Na safra agrícola de 2012 foram pulverizados, aproximadamente, 100 bilhões de litros de agrotóxicos nas lavouras. Este foi um dos dados apresentado pelo médico e pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso, Wanderlei Pignati, nesta terça-feira (20), em audiência pública da Comissão de Seguridade Social e Família, que debateu os impactos dos agrotóxicos na saúde humana e os procedimentos adotados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o registro desses produtos.
Luiz Gustavo Xavier
Luiz Gustavo Xavier
Pignati coordenou estudo que avaliou os impactos na saúde e no meio ambiente em razão da utilização de agrotóxicos em cidades do interior do Mato Grosso. Segundo a pesquisa, no município de Lucas do Rio Verde, por exemplo, 100% das amostras de leite materno estavam contaminados com resíduos de agrotóxicos.
O professor afirmou que as regiões onde há maior exposição de agrotóxicos, há três vezes maior incidência de câncer e de má-formação do feto ou do recém-nascido do que em cidades sem exposição direta aos produtos. Pignati disse ainda que 83% dos poços de água potável e 56% das amostras de chuva estavam contaminadas por resíduos.
Efeitos tóxicos
Para a médica e pesquisadora do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Márcia Sarpa de Campos Mello, há diversos estudos que comprovam que a exposição prolongada aos agrotóxicos causam ataques ao sistema nervoso, ao sistema imunológico, má formações, atinge a fertilidade e possui efeitos cancerígenos.
Márcia Mello destacou que, em muitos casos, os efeitos tóxicos causados por superexposição de agrotóxicos, como cólicas, diarreias, convulsões e vômitos são registrados como virose. “É uma epidemia silenciosa, pois não são notificados como intoxicação por agrotóxicos”, explicou a médica.
Fiscalização
Irregularidades
Outras falhas levantadas por ele mostram, entre outras: fragilidades nos controles internos, pois não há um sistema próprio de registro; descumprimento de exigências previstas na legislação, uma vez que alguns requerimentos para obtenção dos registros se encontram sem a documentação necessária.
Falta de servidores
Segundo Vekic, a agência do governo norte-americano que faz a mesma atividade da Anvisa possui 800 servidores. “No Brasil, reunindo a Anvisa, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Ministério da Agricultura não chegamos a 50”, explicou.
O registro de agrotóxico é feito pela Anvisa, que avalia os impactos na saúde; pelo Ibama, no meio ambiente; e pelo Ministério da Agricultura, na produção. Ele é concedido por tempo indeterminado e só pode ser retirado ou alterado após reavaliação que mostre mudança no perfil de segurança do produto. Para Ana Maria Vekic, esse registro pode até se tornar temporário, mas são necessários mais servidores para a função.
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