Maior exportador mundial de carne bovina, o Brasil ainda precisa importar leite para atender à demanda interna, que cresceu 4,5% ao ano, em média, nos últimos dez anos. A produção não acompanhou o ritmo e subiu apenas 2,2% ao ano no mesmo período. Apoiado na alta da renda da população, o consumo per capita de leite saltou de 123 litros em 2003 para 171 litros no ano passado.
Analista responsável pela equipe de leite do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola de Agronomia da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Marcelo Velazco Bedoya diz que esse descasamento foi causado pela falta de investimento durante um longo período.
A produção pulverizada entre muitos pequenos fazendeiros também é um motivo que levou o país a depender do mercado externo. Por mais de 45 anos, até o início dos anos 1990, o preço do leite e de derivados era tabelado em toda a cadeia, o que impossibilitou qualquer tipo de investimento na pecuária leiteira.
“Além disso, até meados de 1990, a pecuária de corte era vista como uma reserva de capital para ganhar lá na frente. O baixo investimento necessário para a produção fazia com que investidores comprassem fazendas e gados como capital especulativo”, afirma.
Por outro lado, diz Bedoya, o leite foi deixado de lado pelos produtores. Ainda hoje, a pecuária de corte é mais barata em termos de investimento do que a leiteira.
Com pastos fartos e retorno financeiro garantido, o produtor brasileiro se voltou cada vez mais para a produção de gado de corte e o Brasil se tornou o maior exportador de carne do mundo. No ano passado, vendeu cerca de 1,5 milhão de toneladas e importou 1 milhão de litros de leite.
A importação é apontada pelo presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação Nacional Agropecuária (CNA), Rodrigo Alvim, como outro fator que inibiu a produção de leite no Brasil.
“Quando acabou o tabelamento no início dos anos 1990, o país passou a conviver com a concorrência predatória da União Soviética e da Nova Zelândia, que subsidiam ospreços de lácteos. Ou seja, os produtores não conseguiam renda para romper esse círculo vicioso”, afirma Alvim.
O quadro começou a mudar em 2003, quando ficou comprovada a prática de dumping. “Desde então, foi estabelecida uma tarifa de importação de 28% sobre derivados lácteos de fora do Mercosul, com tarifas antidumping adicionais de 3,9% para a Nova Zelândia e de 14,8% para União Europeia”, conta Alvim. Três anos depois, o Brasil conseguiu fechar a balança comercial do setor no azul.
Ainda assim, a importação continuou, mas em volume menor. Segundo Valter Bertini Galan, sócio-diretor do MilkPoint Inteligência, consultoria especializada no mercado lácteo, em 1996 o Brasil importou 2,3 milhões de litros de leite, o equivalente a 12,6% do total produzido no país. No ano passado, o país comprou no mercado externo 1,108 milhão de litros, cerca de 3% da produção nacional.
“O aumento da produção interna propiciou a redução da participação das importações no volume de abastecimento de lácteos no mercado brasileiro”, diz Galan.
Para Alvim, da CNA, o fator necessário à expansão da produção é o investimento em tecnologia. “Para se ter ideia, a produção média de leite na Nova Zelândia por ano é de 10 mil quilos por vaca. Já no Brasil, a média anual é de 1,5 mil quilos por vaca. Mesmo em Castro, no Paraná, considerada uma ilha de excelência no Brasil, a produção é de 6 mil quilos por vaca, o que mostra um longo caminho a percorrer”, diz.
Galan, do MilkPoint, afirma ainda ser preciso melhorar a legislação e fiscalização sanitárias. “Os critérios e procedimentos de qualidade ao longo da cadeia produtiva ainda não são seguidos por todos os agentes, o que causa desequilíbrios na competição e menor estímulo ao investimento em produção e na produtividade”, diz o consultor. Segundo Galan, ainda há diversas oportunidades de melhoria na padronização de procedimentos ligados à questão sanitária.
As informações são do Brasil Econômico.
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