Um impulso renovado pelo governo chinês para consolidar a indústria de lácteos do país poderá impulsionar uma rodada de negócios e de levantamento de capital no setor.
Os reguladores chineses acreditam que as companhias consolidadas terão melhor controle sobre suas cadeias de fornecimento, já que os especialistas citam a fragmentação pelos repetidos medos gerados por questões de segurança alimentar. A cadeia de fornecimento de lácteos da China continua dominada por pequenas fazendas. O governo vem impulsionando a reestruturação da indústria de lácteos doméstica desde 2008, quando foi encontrada a substância química melanina em fórmulas infantis fabricadas por 22 companhias. Milhares de crianças ficaram doentes e seis morreram.
O país agora visa criar um pequeno pool de pesos pesados nacionais do setor de lácteos que controlam linhas de produtos, incluindo leite em pó, fórmulas infantis e leite cru, bem como uma maior proporção de processamento de produtos lácteos.
O governo disse em junho que planeja formar cerca de 10 grandes companhias de leite em pó, cada qual com receitas anuais de mais de 2 bilhões de yuan (US$ 324,29 milhões) até o final desse ano. O número cairá para cinco em 2018, marcando a segunda fase de consolidação.
No final de maio, a Administração de Alimentos e Drogas da China revelou os resultados de uma revisão de seis meses da indústria de fórmulas infantis, emitindo permissões de produção para apenas 82 das 133 companhias que fizeram o requerimento. O Ministério da Indústria e Tecnologia de Informações disse no ano passado que queria reduzir o setor para 50 processadores até 2018. Em junho, o Conselho Estadual revelou um plano para impulsionar mais consolidação na indústria de fórmulas infantis.
Os produtores de leite cru continuam se consolidando também. De acordo com dados da corretora da Malásia, CIMB, o número de fazendas com rebanho leiteiro de mais de 1.000 vacas alcançaram 18% em 2013 na China, comparado com 5,5% em 2008. O número de fazendas com apenas uma a quatro vacas, por sua vez, caiu para 20% em 2013, de 32,4% em 2008.
Os medos de segurança alimentar na China impulsionaram um aumento nas importações de produtos lácteos, como fórmulas infantis, em detrimento dos produtos domésticos. À medida que a indústria se reestrutura, os produtores menores estão deixando a atividade, que levou a uma queda na produção de leite cru. Ao mesmo tempo, a demanda por produtos lácteos pelos consumidores chineses continua aumentando mais rápido do que a produção doméstica.
Isso poderá encorajar os maiores fabricantes de produtos lácteos, por exemplo, a adquirir produtores de leite cru para integrar suas cadeias de fornecimento.
O Conselho Estadual disse que fornecerá suporte financeiro, como linhas de crédito, para promover fusões e aquisições na indústria. Ao mesmo tempo, os investidores – encorajados pela crescente demanda – estão colocando dinheiro em companhias que acreditam que surgirão como vencedoras da última rodada de reestruturação.
“A recente direção da política do governo visa melhorar as questões de segurança alimentar no setor de lácteos da China dando suporte a participantes mais integrados”, disse o co-chefe do banco de investimentos para a China na J.P. Morgan Chase, Brian Gu. “É um mercado muito competitivo e os participantes com posições mais fracas serão desafiados e potencialmente consolidados”.
Os acordos no setor aumentaram como resultado. Em 2013, o setor de lácteos da China teve cerca de 10 fusões e aquisições, totalizando US$ 3,2 bilhões, de acordo com a Dealogic. Em 2014, 15 desses acordos foram anunciados, com um valor total de mais de US$ 2 bilhões. Em um acordo anunciado em fevereiro, a maior transação até agora nesse ano, a Beijing Sunlon, companhia de lácteos apoiada pelo governo de Pequim, e o conglomerado de Xangai, Fosun International Ltd., compraram participação na fabricante de produtos lácteos, Beijing Sanyuan Foods Co. Ltd., por US$ 653 milhões.
Embora a consolidação possa melhorar os padrões de segurança alimentar, firmas estrangeiras que investiram na indústria de lácteos da China no passado podem ainda estar cautelosas com a possibilidade de os últimos escândalos prejudicarem sua reputação para segurança, disse o diretor gerente da firma de consultoria de investimentos, Mahon China Investment, em Pequim, David Mahon. Essas companhias podem querer ter participações minoritárias tornando a private equity uma fonte potencialmente mais provável de capital, disse ele.
Em um recente acordo de private equity, Jack Ma, presidente executivo do Alibaba Group Holding Ltd., investiu US$ 320 milhões através de seu fundo, Yunfeng Capital, em uma unidade da Inner Mongolia Yili Industrial Group Co., uma das maiores companhias de lácteos da China, de acordo com dados do CIMB.
Os acordos também poderiam aumentar em mercados de capital, particularmente em Hong Kong, onde uma série de companhias chinesas recentemente levantou capital no mercado de ações. Ao entrar em mercados públicos, essas companhias de lácteos terão mais dinheiro para melhorar padrões de segurança e aumentar a produção. A seleção de companhias de lácteos menores também deixa espaço para expansão.
Três companhias de lácteos chinesas foram a público ou levantaram patrimônio em Hong Kong desde 2013, de acordo com a Dealogic. A maior das três foi a China Huishan Dairy Holdings Co. Ltd., que levantou US$ 1,5 bilhão via oferta pública inicial (IPO) em setembro. A YuanShengTai Dairy Farm Ltd., uma das maiores produtoras de leite cru da China, levantou US$ 452 milhões em uma IPO em novembro.
No mês passado, a China Shengmu Organic Milk Ltd., de Inner Mongólia, começou as vendas preliminares para uma IPO de US$ 300 milhões, visando registro na bolsa de Hong Kong em julho. O The Wall Street Journal também reportou em abril que a Beijing Sunlon está planejando uma IPO de US$ 300 a US$ 500 milhões em Hong Kong nesse ano.
Summer Wang, analista da corretora Bocom International, em Hong Kong, disse que espera que mais companhias de lácteos explorem mercados de capitais nesse ano, à medida que a indústria de lácteos chinesa busca acompanhar a demanda.
A reportagem é do The Wall Street Journal, traduzida pela Equipe MilkPoint Brasil.
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