Confira os principais trechos da entrevista concedida pelo embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Mohamed Khalil Alzeben, ao UOL
UOL: Qual o impacto dos acontecimentos recentes no processo de paz?
ALZEBEN: Nós condenamos o sequestro [dos três jovens israelenses], condenamos o assassinato de civis sob qualquer pretexto. Só que Israel usa isso como pretexto para já lançar uma ofensiva contra todo o povo palestino. As atividades militares, a agressão e o genocídio não são contra o Hamas, são contra todo o povo palestino, e em qualquer leitura dos resultados destes bombardeios fica bem claro que o objetivo é uma guerra aberta ao povo palestino, ao processo de paz, à Autoridade Nacional Palestina.
UOL: Teme que possa piorar com uma invasão a Gaza?
Sim, tudo parece indicar que sim. Esta mobilização de 35 mil efetivos da reserva [Israel fala em 20 mil] não é para um passeio. Eles realmente estão preparando tudo e nós estamos (...) exortando todos aqueles países influentes envolvidos, encabeçados pelos Estados Unidos, para evitar esta entrada terrestre, para pôr fim a este conflito, para fazer um cessar-fogo.
UOL: Como tem sido o apoio do governo a essas pessoas?
Dentro das nossas possibilidades, estamos tratando de assistir. Gaza é uma faixa pequena que está cercada quase por todas as partes por Israel e onde Israel impede a entrada de alimentos, a entrada de medicamentos. É realmente uma situação catastrófica.
UOL: Israel justifica o alto número de civis mortos pelo fato de o Hamas instruir as pessoas a ficarem nos telhados, agindo como escudos humanos.
Gaza é um território de 365 quilômetros quadrados, praticamente menor do que Brasília, territorialmente falando, onde moram 1,6 milhão de habitantes. Obviamente, qualquer ataque está custando a vida de civis.
UOL: Do lado palestino, o sequestro dos jovens ocorreu pouco após o Hamas [grupo militante que tem um braço armado] e o Fatah [partido do presidente palestino Mahmoud Abbas] anunciarem um aguardado pacto de união. Como fica a situação de Abbas?
Eu acho que o povo palestino tem de escolher seu próprio governo. Israel não pode impor, como eu também não posso impor ao povo de Israel quem eleger. Quando elegeram [Ariel] Sharon, conversamos com Sharon, independentemente se gostávamos ou não. Quando elegeram [Ehud] Barak, fizemos a mesma coisa. Quando elegem Netanyahu e [o ministro de Relações Exteriores, Avigdor] Lieberman, tivemos de negociar com eles. Não escolhemos o time do adversário neste caso. E, neste caso, Israel também não tem o direito de interferir e impor quem escolhe o povo palestino.
UOL: Há críticas de que nem Netanyahu nem Abbas estariam interessados em um acordo de paz definitivo para não precisarem fazer concessões. O sr. concorda?
Eu acho que, neste caso, concordo com a primeira parte de que Netanyahu é que não quer a paz. Netanyahu quer um Estado judeu para os judeus, o que quer dizer que está negando os outros. Ele quer os palestinos sob o seu mandato, subordinados a ele, como cidadãos talvez de terceira categoria, como mão de obra barata.
UOL: Sobre o papel da comunidade internacional, teme que uma negociação mediada pelos EUA irá favorecer Israel?
Está favorecendo até o momento, lamentavelmente, Israel. Uma posição firme dos Estados Unidos pode solucionar o conflito hoje. Simplesmente, ordenar que seu representante na ONU, no Conselho de Segurança, aprove uma sanção firme contra esta política belicista do Estado de Israel contra os palestinos.
UOL: Mas, então, o sr. não vê luz no fim do túnel
Eu não perco a esperança. (...) Nós existimos como povo e vamos existir como Estado, vamos honrar nossos compromissos, respeitando o direito internacional, respeitando os nossos vizinhos, respeitando a vida dos civis, tanto deles quando dos nossos. Nos dói muito também a morte de um cidadão israelense, mas nos dói mais este massacre, este genocídio contra o nosso povo, tanto em Gaza como na Cisjordânia. Não tem outra solução a não ser estabelecer dois Estados para dois povos, com garantias internacionais. Nestes momentos, eu preciso de proteção internacional.
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