quinta-feira, 10 de julho de 2014

Plinio de Arruda Sampaio: Presente


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ESCRITO POR REDAÇÃO   
QUI, 10 DE JULHO DE 2014


O Correio acordou mais triste. O Brasil também.  Foi-se Plinio, homem de profunda solidariedade, gentileza e alegria. Capacidade enorme para agregar ideias e pessoas.  Humor e paixão pela vida sempre tão presentes.

Desprendimento, olhar para o que era grande e amor pelo outro. Sorriso e cordialidade estiveram com ele até o último minuto.

Fez de sua vida como promotor público, político e militante uma experiência intensa, profunda e coerente com seus princípios.  Foi sempre, e ao mesmo tempo, firme e suave.

O Correio relembra a sua vida de exemplo e de luz.

Um lutador histórico

Promotor público aposentado e mestre em desenvolvimento econômico internacional pela Universidade de Cornell (EUA), Plínio já foi deputado federal por três vezes - uma delas na Constituinte de 1988 -, subchefe da Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo (1959-1961), secretário de Negócios Jurídicos da Prefeitura da capital paulista (1961).

Por sua firme atuação em defesa de uma verdadeira reforma agrária e dos direitos dos trabalhadores, Plínio foi um dos cem primeiros políticos cassados pelos militares e viveu doze anos no exílio.

Entre 1965 e 1975 exerceu o cargo de diretor de Programas de Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), coordenando projetos de reforma agrária em toda a América Latina e na maioria das nações caribenhas.

Fundador do Partido dos Trabalhadores, foi o autor do primeiro estatuto do PT, que assegurava à militância o poder de decisão sobre os rumos da agremiação.

Candidato ao Governo do Estado de São Paulo em 1990 e em 2006, Plínio tem sua trajetória de vida e militância estreitamente vinculada à esquerda católica e à defesa do direito à terra para os trabalhadores.

Em 2005, deixou o PT por não concordar com os rumos tomados pela sigla e ingressou no Partido Socialismo e Liberdade.

Foi presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária e diretor do portal de notícias Correio da Cidadania.

Em 2010, aos 80 anos de idade, e ao completar 60 anos de vida pública internacionalmente reconhecida pela coerência socialista, Plínio concorreu à presidência da República pelo Partido Socialismo e Liberdade.

Relembre ou conheça abaixo a história de Plínio Arruda Sampaio e seu papel em momentos decisivos da luta para construção de uma verdadeira superação das tragédias históricas brasileiras - a segregação social e a dependência externa que amarram o desenvolvimento de nosso país - e em defesa do socialismo democrático.

1930-1950
Filho do desembargador e jurista João Batista de Arruda Sampaio e de Maria Aparecida, Plínio Soares de Arruda Sampaio nasceu na cidade de São Paulo, em 26 de julho de 1930.

O mais velho de cinco irmãos, desde muito jovem conviveu com a política dentro de casa.

O pai era um dos quadros do antigo Partido Democrata Cristão (extinto pela ditadura militar).

Plínio cursou o ensino fundamental no Ginásio Perdizes, completou o curso científico no Colégio Rio Branco e, em 1950, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Nessa época, atuava na Juventude Universitária Católica (JUC), à qual presidiu, e na Juventude Democrata Cristã. Também fez parte do Movimento Universitário do Desfavelamento.

Formou-se em 1954, ingressando no mesmo ano na carreira de promotor público. E em janeiro de 1955, casou-se com a bibliotecária Marietta Ribeiro de Azevedo, com quem viveu por toda a vida.

Foi subchefe da Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo na gestão Carvalho Pinto (1959 e 1961), quando coordenou o Plano de Ação. As metas físicas desse Plano - o primeiro a abranger todas as atividades da gestão - foram integralmente cumpridas, desempenho inédito na história do planejamento do Brasil.

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Plínio com o pai, em 1931.

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Na turma de formandos da Faculdade de Direito da USP de 1954 (no meio, agachado).

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O casamento com Marietta Sampaio, em 12 de janeiro de 1955.


1960
Em 1961, Plínio assumiu a Secretaria de Negócios Jurídicos da Prefeitura da capital paulista.

Eleito deputado federal, em 1962, Plínio foi uma das lideranças do movimento para sintonizar o PDC com as forças progressistas. Nessa época, aderiu ao socialismo cristão, posição que ostenta até hoje.

Em seu primeiro mandato (1963-64), relatou o projeto de emenda constitucional de reforma agrária do governo João Goulart. Seu parecer favorável à proposta foi rejeitado pela Comissão Especial de Reforma Agrária da Câmara dos Deputados, hegemonizada pela direita reacionária que articulou o golpe civil-militar no Brasil.

No período em que exerceu o mandato, foi indicado pelos jornalistas que faziam a cobertura do Legislativo um dos dez melhores parlamentares do país.

Com o golpe, Plínio engrossou a lista dos cem primeiros cassados. À época, o cargo de promotor público, que exercia desde 1954, também foi cassado, só sendo reconhecido novamente em 1984, quando foi anistiado e aposentado.

Em 1964, foi viver exilado no Chile, onde começou a atuar como técnico da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), trabalhando na reforma agrária daquele país.

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Plínio embarca para o exílio em 1964.

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Despachando com o governador Carvalho Pinto no Palácio dos Campos Elíseos.

1970
Em 1971, foi transferido pela FAO para os Estados Unidos, onde trabalhou como vice-diretor do Programa Cooperativo FAO-BID, o que lhe deu a oportunidade de realizar missões técnicas em todas as nações da América Latina e na maioria dos países do Caribe. Desde 1975, atuou como consultor da entidade.

Nos Estados Unidos, articulou-se com setores progressistas e com personalidades do movimento negro, figuras como os deputados Andrew Young e William Fountroy, para denunciar as arbitrariedades da ditadura no Brasil.

De volta ao país, em 1976, dedicou-se à formação de um partido socialista.



1980
Na esteira das greves metalúrgicas do ABC, a luta de Plínio por um partido que organizasse a classe trabalhadora se concretizou quando Luiz Inácio Lula da Silva lhe pediu para redigir uma proposta de estatuto para o Partido dos Trabalhadores que enfatizasse o poder dos núcleos de base.

Pelo PT, Plínio se elegeu deputado federal mais duas vezes, uma delas na Constituinte de 1988, quando foi líder da bancada do partido e membro das comissões de Regimento Interno, Sistematização e Redação. Na função de relator do capítulo do Poder Judiciário da Constituição, foi decisivo para a criação da Justiça Especial e pela atribuição de poderes ao Ministério Público para defender direitos difusos e coletivos.

Nesse período, fundou a Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria – junto com dom Luciano Mendes de Almeida e Betinho – e atuou intensamente em apoio aos movimentos populares, especialmente ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e às comunidades eclesiais de base da igreja católica.


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Plinio e Marietta, em outubro de 88, no jardim do Congresso, quando os constituintes plantaram as árvores símbolos da Constituição cidadã.



1990
No PT, depois de ser candidato ao governo de São Paulo, em 1990, Plínio foi se afastando da direção partidária, por entender que esta se desviava da proposta socialista.

Em 1996, fundou a Sociedade para o Progresso da Comunicação Democrática – entidade sem fins lucrativos que edita desde então o “Correio da Cidadania”. Criado com o objetivo de colaborar com a construção da mídia democrática e independente, o “Correio” foi editado primeiramente em versão impressa e posteriormente passou a ser veiculado pela internet. Há 18 anos o periódico publica uma visão crítica de acontecimentos políticos, econômicos e sociais, fazendo contraponto à uniformidade editorial da grande imprensa.

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Momentos da campanha para o Governo do Estado, em 1990.

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Plínio com movimentos sociais na campanha de 1990.

2000
Em 2000, Plínio foi acometido por dois graves problemas de saúde, dos quais recuperou-se e teve alta em 2007. Politicamente, continuou a atuar nesse período.

Em 2005, numa última tentativa de fazer o PT voltar à sua orientação socialista, candidatou-se a presidente da sigla.

A reincidência de escândalos e desvios de rota agravaram-se no PT. Plínio resolveu então filiar-se ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), formado também por ex-petistas decepcionados e militantes que saíram do PSTU.

Um ano depois, foi o candidato do partido a Governador de São Paulo, destacando-se nos debates pela firmeza e solidez do seu discurso anticapitalista. Com uma campanha que totalizou gastos de apenas 86 mil reais, ficou em quarto lugar entre os candidatos.

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Plinio com DomTomás Balduino.

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Plínio recebeu de Serra a Medalha da Ordem do Ipiranga - mais alta comenda do Estado de SP - pelos serviços prestados ao Estado, em 29 de setembro de 2009.


2010

Em 2010, Plínio Arruda Sampaio resgatou a coerência de sua trajetória socialista como elemento base de sua candidatura à Presidência da República pelo PSOL.

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Durante debate entre os pré-candidatos do PSOL, em fevereiro de 2010, na cidade de São Paulo.

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Plinio na CPMI da terra, em março de 2010.

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Na conferência que o indicou como candidato do partido à Presidência da República, no Rio de Janeiro, em abril de 2010.

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Ao final da convenção nacional que homologou sua candidatura, no dia 30 de junho, Plínio comemora.

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Plínio com Dom Cappio.

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Plinio em campanha presidencial, em Belém do Pará, com Edmilson Rodrigues (eleito deputado estadual naquele pleito), Fernando Carneiro (ex-presidente do Psol/PA e então candidato a governador), Marinor Brito (candidata ao Senado) e a militância do Psol.


Últimos anos

Desde 2010, até os últimos momentos de sua vida, Plínio, um cristão-socialista e grande visionário, à frente de seu tempo, além das palestras e atuação com os movimentos sociais, dedicou-se especialmente à juventude, debatendo um projeto de país. Participou  com muito entusiasmo das grandes manifestações de junho de 2013 no Brasil.

Para isso, usava com maestria as redes sociais, sendo destaque na mídia tradicional por esta prática e um dos 10 maiores influenciadores, através de seu conjunto de perfis, no histórico dia 13/06 de 2013.

Plinio lutou até o último instante e viu iniciar o processo político que sempre defendeu, o povo na rua e a participação popular.

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Plinio na manifestação pela redução das tarifas de transporte coletivo em São Paulo, em 13 de junho de 2013.
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO EM QUI, 10 DE JULHO DE 2014

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