ESCRITO POR LUIZ EÇA |
SEGUNDA, 25 DE AGOSTO DE 2014 |
Se a situação do povo de Gaza já era precária, com a terceira guerra movida por Israel tornou-se desastrosa.
Nos 45 dias que já duram os ataques, estima-se que os danos causados à economia da Faixa foram três vezes piores do que os causados pela primeira guerra de Gaza, em 2008-2009. Que, aliás, excederam em destruições os “feitos” do exército de Israel na segunda guerra, em 2012.
Nada menos do que 360 fábricas e oficinas foram riscadas do mapa, segundo a Federação das Indústrias de Gaza.
Entre as restantes, a maioria teve de suspender a produção devido à chuva de bombas.
Tudo somado, as perdas já passam de mais de 570 milhões de dólares, o que não é pouco para as empresas de Gaza que, em geral, são modestas.
Por sua vez, a organização de alimentos e agricultura da ONU (FAO) informa que 42.000 acres de terras de cultivo sofreram pesados danos e metade da criação de aves foi perdida devido aos bombardeios ou pela impossibilidade de os agricultores prestarem cuidados, já que o acesso às granjas próximas à fronteira com Israel ficou impossível.
A ação do exército israelense para vibrar um golpe decisivo na já combalida economia de Gaza avançou com a aviação, a artilharia e os tanques destruindo a única usina de energia elétrica de Gaza.
A economia tem agora de enfrentar um forte obstáculo ao seu desenvolvimento normal, pois somente a reconstrução da usina levará de seis meses a um ano.
Isso se as autoridades israelenses consentirem na importação do cimento necessário, o que é sempre difícil, pois temem que seja usado na construção de túneis.
Também a estação de tratamento de água precisará ser reconstruída, pois foi dos primeiros alvos dos mísseis certeiros da aviação de Israel.
A ONG inglesa OXFAM informa que o bombardeio de poços, tubulações e
reservatórios causou a contaminação da água fresca com esgotos e o vazamento pelas ruas de Gaza de 15 mil toneladas de detritos sólidos.
De agora em diante, a população de Gaza só poderá consumir metade da água disponível antes da guerra.
É difícil de acreditar que o Hamas tenha instalado estruturas militares nesses locais – fábricas, granjas e usinas.
A precisão cirúrgica com que foram reduzidas a escombros faz supor que a intenção era mesmo vibrar um duro golpe na economia de Gaza.
Essa mesma precisão foi vista no ataque a quarteirões residenciais inteiros, transformados em ruínas pelos projéteis israelenses.
Frode Mauring, o representante especial da ONU para Programas de Desenvolvimento, calcula que entre 16 mil e 18 mil lares foram totalmente destruídos e 30 mil sofreram pesados danos.
E a estimativa é que levarão 18 anos para reconstruir estas casas, caso o bloqueio de Gaza continue, limitando a entrada de pessoas e materiais necessários às obras.
A ONU previa que haveria 50 mil desalojados a serem colocados em seus abrigos.
Mas, foi muito pior: entre 350 mil e 400 mil cidadãos apareceram em busca de abrigo.
A maioria deles obedecia às ordens do exército de Israel para que abandonassem seus lares que seriam bombardeados.
Essa prática do exército, segundo a jornalista israelense Amira Hass, é : “Sadismo e hipocrisia disfarçados de piedade. Uma mensagem gravada obrigando centenas de milhares de pessoas a fugir de seus lares alvejados para um outro lugar, igualmente perigoso, a 10 quilômetros de distância”.
De fato, as bombas israelenses não pouparam abrigos da ONU, matando muitos dos palestinos ali refugiados
Somando todos aqueles vitimados pela agressão israelense, verificou-se que até hoje (23 de agosto) morreram cerca de 2020 pessoas, das quais pelo menos 80% eram civis desarmados.
Nada menos do que 469 crianças foram mortas, sendo que mais de três mil saíram feridas. Mas o sofrimento da população infantil de Gaza foi além.
Em conferência de imprensa em Nova Iorque, no dia 21, Pernilla Ironside, representante da UNESCO, afirmou que 373 mil crianças de Gaza precisam de “ajuda psicológica imediata”. E a Unesco só conta com 50 psicólogos na região, que teriam condições de atender apenas 3 mil crianças.
Traumatizadas pelas bombas e mísseis, que não param de cair em sua volta, matando e destruindo, sentem que para elas não existe nenhum lugar seguro em Gaza. Muitas viveram a guerra de 2008-2012. Dificilmente se livrarão das marcas desse horror que se repete.
Mas a guerra lhes infringirá mais danos. Todo o sistema de educação infantil de Gaza já está irreparavelmente lesado; 219 escolas não escaparam da mira dos artilheiros e pilotos israelenses, sendo que em 22 delas nada restou.
E o exército de Israel se proclama o mais ético do mundo.
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Luiz Eça é jornalista.
Website: Olhar o Mundo.
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