outubro 2, 2014 09:34
Análise indica que perfis falsos influenciaram a discussão no Twitter e Facebook durante sabatina promovida pela TV Record no último domingo
Por Redação
Análise do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), encomendada pela Folha de S. Paulo, revela que, durante o debate com os candidatos à presidência realizado no último domingo (28) pela TV Record, a campanha de Aécio Neves (PSDB) utilizou perfis falsos para influenciar a discussão nas redes sociais.
Por meio do rastreamento das hashtags #debatenarecord e #VotoAecioSou45, os pesquisadores constataram que, em 15 minutos, as menções ao nome de Aécio triplicaram e praticamente se igualaram às menções à presidenta Dilma Rousseff (PT). Eles afirmam que, nesse caso, havia robôs operando a favor do tucano e retrucando qualquer citação à petista. Segundo Fábio Malini, coordenador do Labic, até o momento constatações semelhantes não foram feitas em relação aos demais candidatos.
Como funcionam
De acordo com Malini, por trás dos chamados perfis “BOTs” há um “ecossistema sofisticado de tentativa de manipulação da opinião por meio das redes sociais”, que atua em candidaturas estaduais e também presidenciais – como ocorreu com Aécio no debate. Os dados coletados pelo Labic apontam que esse ecossistema começou a funcionar nas eleições de 2010 e, desde então, já operou em outras situações, como durante as mobilizações contra a partilha dos royalties do petróleo – o #VetaDilma.
Por ora, o laboratório já identificou cem perfis BOTs. Para encontrá-los, normalmente se realiza um levantamento de seu histórico, comportamento e padrões de publicação. “Também verificamos a origem do avatar utilizado como imagem do perfil, e suas redes de relacionamento, de seguidores e seguidos (Twitter), de amigos, grupos e comentários em páginas (Facebook)”, explica Malini.
Embora os BOTs sejam criados com precisão, quando submetidos a uma avaliação mais criteriosa, é possível perceber certos padrões, dos quais Malini destaca quatro. O primeiro é a publicação de mensagens de apoio a candidaturas; o segundo, a produção contínua de mensagens de agressão/oposição a candidatos, políticos e partidos adversários; o terceiro, a criação de posts de simulação de rotinas diárias (comentários sobre a hora de almoçar, de sair do trabalho, de momentos de lazer etc); e o quarto, a participação planejada em acontecimentos públicos transmitidos pela imprensa (debates, sabatinas e outros eventos de exposição do candidato a ser promovido).
Ainda segundo Malini, para um usuário comum, é muito difícil reconhecer um perfil falso. “Esse é o dilema em termos democráticos”, explica. “Se havia, no século XX, filtro humano da relevância social (mesmo que contestado) que foi a imprensa, nas redes sociais, apesar de ampla democratização do pensamento que elas trazem, muitas ‘gangues digitais’ passaram a vender a capacidade de pautar a sociedade por meio de estratégias refinadas de geração de ‘trending topics’”.
Quem está por trás
Os pesquisadores do Labic constataram que a maioria dos BOTs está ligada à conta de Eduardo Trevisan, publicitário dono da Face Comunicação On Line Ltda. A empresa de monitoramento de redes recebeu até o início do mês, conforme a reportagem da Folha, R$ 130 mil da campanha de Aécio. “O que o estudo revela é uma profunda ligação interativa dos BOTS com @edutrevisan. O que isso significa? Que os BOTs retuitam continuamente o @edutrevisan em vários momentos”, esclarece Malini.
Também à Folha, Trevisan disse que não administra robôs e que é, na verdade, perseguido por eles. “Alguém criou uma estrutura colossal que dá retuítes em dois perfis meus, o pessoal e um outro”, defendeu-se. “Nossa função não é de acusar ninguém, mas apenas de fazer perguntas: por que BOTs retuítam milhares de vezes mensagens pró-Aécio de alguém e esse certo alguém se vê perseguido por BOTs que aumentam sua relevância na rede?”, contesta o coordenador do Labic.
A campanha tucana também negou a utilização de BOTs. Em nota, alegou que já havia percebido “comportamento anormal” em seus perfis no Twitter e que tem a preocupação de identificar os perfis que poderiam eventualmente prejudicar a campanha e denunciá-los ao Twitter”.
Foto de capa: Reprodução/informatica.blogs.uoc.edu
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