Ricardo Noblat
Nada há de absurdo em se discutir o eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff no rastro do escândalo da Petrobras.
Em um regime democrático, a Constituição prevê que o Congresso pode, sim, derrubar o presidente da República. Foi o que aconteceu com o ex-presidente Fernando Collor no final de 1992.
Acusado de roubar e de ter deixado roubar, Collor despachou uma carta para o Congresso renunciando ao cargo. O Congresso, simplesmente, ignorou a carta e cassou seu mandato. Assumiu Itamar Franco, o vice-presidente.
Em momento algum correu perigo a ainda frágil democracia instalada no país depois de 21 anos de ditadura militar.
Muito bem. Só que não há por enquanto nenhum motivo, sequer um pretexto razoável, para que se cogite a queda da presidente.
Goste-se ou não, Dilma foi legitimamente reeleita. Derrotou Aécio Neves por uma diferença superior a três milhões de votos. O próprio Aécio telefonou para ela parabenizando-a.
Não se pode impedir ninguém de pregar o impeachment. Nem mesmo de pregar um golpe militar.
O extraordinário da democracia é que ela garante a liberdade até mesmo dos que se opõem a ela.
Mas quem tenha o mínimo de responsabilidade política e social não pode ouvir calado os que incitam ao ódio e à quebra da legalidade. Por asco, dessa gente eu quero distância.
Este país já teve ditadura de mais e liberdade de menos.
E quem provou na pele a violência do estado de exceção ou apenas ouviu falar das várias maneiras como ela se manifestou, está obrigado a dar testemunho para que isso jamais se repita. Jamais.
Não existe ditadura ruim ou boa. Toda ditadura é abominável, seja civil ou militar. Ela desperta os instintos mais primitivos dos que a exercem. E deixa cicatrizes para sempre.
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