09/03/2015 12:17
Moradoras da periferia de Fortaleza (CE) conseguiram apoio para
reescrever suas histórias e planejar o futuro
Brasília, 9 – Cuidar dos filhos, do marido e dos afazeres domésticos já
foi a atividade principal de muitas mulheres, como a cearense Antônia
Eliane Rodrigues Lino, 46 anos. Casada e mãe de quatro filhos, a
beneficiária do Bolsa Família começou a reescrever sua história nos
últimos três anos. “Tinha muitos sonhos, mas vivia em casa deprimida.
Acreditava que mulher tinha que estar dentro de casa, cozinhar, lavar,
passar, cuidar de filho.”
A trajetória da cearense começou a mudar quando ela foi ao Banco
Comunitário Palmas, na periferia de Fortaleza (CE). Antônia precisava
de um empréstimo para quitar uma dívida, mas saiu de lá com uma
oportunidade de melhorar de vida e conquistar espaço no mundo do
trabalho. “Eu estava inadimplente e fui fazer um empréstimo de
R$ 50 para pagar algumas contas. Foi quando me perguntaram
se eu tinha interesse em fazer alguma atividade. Eu disse
Os agentes de inclusão do banco deram conselhos sobre a
importância da independência da mulher e sugeriram que Antônia
fizesse o curso de culinária oferecido pela instituição para
mulheres de baixa renda. Com o aprendizado, ela começou a
produzir e vender bolos, salgados e tapioca.
Com um novo empréstimo, comprou um fogão melhor, já pensando
em dar continuidade à atividade. “Passei a fazer pratinhos com
creme de galinha e arroz para vender nas feiras de economia
solidária.” E ela não parou por aí. Antônia fez também um curso
de consultora comunitária. Há três anos, integra o grupo de
mulheres emancipadas do Bolsa Família e participa de oficinas
de educação financeira.
“Muitas mulheres não saem de casa, são presas ao marido, filhos,
não conseguem trabalhar, ter seu dinheiro. E nós as aconselhamos
a participar do grupo, ensinamos como economizar, estimulamos
a trabalhar, falamos da importância em fazer cursos para que elas
tenham uma profissão e não dependam de ninguém”, ressalta.
Há sete meses, Antônia conseguiu montar o próprio negócio –
um mercadinho na garagem de sua casa. “Estou muito feliz e
me sinto emancipada. Gosto muito do grupo. Tanto que depois
que abri meu comércio fico muito dividida porque não consigo estar lá o tempo todo.”
Ela também conseguiu voltar a estudar, graças ao apoio do grupo
de mulheres emancipadas do Bolsa Família, e planeja fazer faculdade.
“O grupo me despertou essa vontade. Hoje sei que sou capaz.”
A cearense Eliane Medeiros do Nascimento, 33 anos, mãe de dois
filhos, também deu um novo rumo para sua vida. Beneficiária do
Bolsa Família, ela faz parte do grupo de mulheres emancipadas e
conta que conseguiu realizar um sonho antigo: fazer o curso de corte
e costura. “Não sabia nem colocar a linha numa agulha”, lembra.
Agora ela está em processo para abrir sua própria confecção para
Mesmo trabalhando, ela diz que vai continuar participando das
atividades com as mulheres. “Da mesma forma que me senti mais
valorizada, vencendo a barreira de sair de dentro de casa, da tristeza
e da falta de ânimo, quero proporcionar o mesmo pra elas.” Eliane já
tem vários planos para futuro, como ingressar na faculdade de Direito.
“Quero ser advogada para defender as mulheres vítimas de violência.
Um dia vou conseguir porque hoje confio muito em mim.”
Incentivo – À frente da oficina de educação financeira para mulheres
beneficiárias do programa de transferência de renda, Angeline Freire
explica que o objetivo é incentivá-las a conquistar a independência
financeira e a se valorizar enquanto mulheres. Ela conta que, por
meio de um simples questionário, essas mulheres aprendem a colocar
no papel os gastos com a despesa familiar, por exemplo. A atividade
surgiu a partir da observação de que grande parte das mulheres que
pegava empréstimo no banco comunitário tinha o nome negativado.
“Muitas mulheres não sabiam lidar com o orçamento familiar e teriam
dificuldades para comandar um negócio. O objetivo maior da oficina é
fazer com que consigam distinguir o que é prioridade.”
Angeline, beneficiária do Bolsa Família, coordena o grupo de
mulheres emancipadas pela sua história de vida. “É importante
que elas tenham exemplos no grupo de pessoas que conseguiram
vencer.” Vítima de violência doméstica, ela se sentiu mais confiante
em sair dessa situação quando passou a receber o benefício. “Era uma
ajuda a mais e eu não precisava travar uma luta com meu ex-marido
para me ajudar a sustentar meus filhos.”
Segundo ela, o grupo ajuda na divulgação dos cursos, na realização
da oficina de educação financeira com as beneficiárias e na mobilização
do maior número de mulheres. “Queremos dar oportunidade para as
mulheres que por toda a vida cuidaram da família e se esqueceram
de cuidar de si”, diz.
Angeline destaca ainda que esse incentivo é importante para que
elas cresçam profissionalmente e possam, inclusive, deixar o programa
de transferência de renda. Ela mesma pretende melhorar ainda mais a
sua condição de vida e abrir espaço para que outras mulheres possam
se beneficiar com o Bolsa Família. “É uma grande ajuda, mas quero vencer
ainda mais e ser vista como uma pessoa que conseguiu superar tudo, que
é guerreira, que vai atrás, que é determinada. E eu me sinto assim.”
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