A produção de frutas irá colorir a paisagem do sertão do Piauí com a implantação, pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), do projeto de irrigação Marrecas-Jenipapo. As obras já alcançam 60% de execução e têm previsão de conclusão para janeiro de 2016. O custo inicial estimado é de R$ 46,5 milhões; os recursos são do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O projeto está sendo instalado no Assentamento Marrecas, a uma distância de 31 km da sede do município de São João do Piauí, a 500 km de Teresina, capital do estado. Cerca de 200 famílias de produtores do assentamento serão diretamente beneficiadas, e 600 empregos indiretos serão criados no perímetro – que também terá reflexos sobre a economia de 13 municípios do seu raio de abrangência, os quais reúnem uma população de aproximadamente 80 mil pessoas.
No momento, estão sendo implantadas as infraestruturas hídricas como canais, drenagem, estradas, rede de energia, reservatórios, unidades de bombeamento, limpeza da área e demarcação dos lotes. Quando concluído, serão mil hectares irrigados para fruticultura, distribuídos pelos produtores familiares que irão cultivar, cada um, uma média de cinco hectares. Atualmente, com apoio da Codevasf, uma área irrigada de 90 hectares já é explorada pelos assentados.
Segundo explica o gerente Regional de Empreendimentos de Irrigação da 7ª Superintendência Regional da Codevasf, Maximiliano Saraiva Arcoverde, esse projeto tem grande importância para os produtores porque vai fornecer um avanço na produção por meio de melhorias tecnológicas.
“Toda tecnologia irrigada permite um retorno melhor dos investimentos. O produtor que atualmente trabalha com agricultura de sequeiro, que fica dependente das chuvas, muitas vezes escassas, tem perdas. Isso vai acabar. Com a agricultura irrigada você tem uma garantia de insumo produtivo que é a água, tem a possibilidade de adotar novas tecnologias, que é a parte da irrigação, trabalhar culturas mais nobres como a fruticultura, e tudo isso permite que o produtor tenha um ganho na sua renda e uma possibilidade melhor para exercer o seu trabalho”, afirma.
O gerente, que é engenheiro agrônomo, acrescenta que o assentamento Marrecas é destaque na região porque consegue produzir por meio da irrigação e atender aos mercados dos municípios próximos, fornecer alimentos para a merenda de escolas da região, além de as famílias produzirem boa parte do que consomem.
“Hoje os agricultores movimentam a economia dentro do próprio assentamento. Com esses mil hectares, eles serão capazes de movimentar a economia em outras regiões, extrapolando o mercado do Piauí, como em Petrolina, por exemplo. Isso permite um salto na renda do município”, conta.
Aumento de renda
Um grande salto na renda foi o que aconteceu com a família da agricultora Maria de Lourdes Pereira Souza, de 44 anos. Moradora do assentamento desde 1989, ela conta que havia muita dificuldade para produção. Segundo Maria de Lourdes, na década de 90 o então superintendente da Codevasf, Hildo Diniz, incentivou uma experiência no assentamento com a água de um poço jorrante que havia no local, o segundo maior do estado.
“Com a ajuda da Codevasf, que me deu orientação técnica, eu comecei a cultivar goiaba, mesmo com a resistência da família, que não acreditava que desse certo. Trabalhei com minhas filhas e na primeira safra produzi cinco mil, depois dez mil, 15 mil, 20 mil. Provei para eles que dava certo”, comemora.
Hoje, ela e a família têm sete hectares irrigados, onde produzem uva de mesa e goiaba; e já plantaram melancia e maracujá. “Consegui reformar minha casa, comprar duas casas na cidade, comprar um carro zero km, moto, terreno e dei educação aos meus três filhos. Então se eu disser que o acompanhamento da Codevasf foi fundamental, eu estou falando a verdade”, ressalta.
Sobre o assentamento
O projeto de irrigação Marrecas-Jenipapo, localizado no Assentamento Marrecas, fica a uma distância de 31 km da sede do município de São João do Piauí, a 500 km de Teresina, capital do Estado. Atualmente, existem duas Agrovilas, a de Capim Grosso e a do assentamento Marrecas, com infraestrutura de estradas vicinal, sistemas de abastecimento d’água, rede de energia, duas escolas e um posto médico com mais de 227 famílias residentes.
Os produtores rurais já cultivam uma área irrigada de aproximadamente 90 hectares irrigados, uma parte com o sistema de irrigação tipo aspersão, destinada a culturas temporárias como feijão, milho, abóbora e melancia e outra com microaspersão, dirigida principalmente à fruticultura, como mamão, goiaba e uva das variedades Itália melhorada, Benitaka e Brasil. Como a cultura de uva é destaque na região, elas são produzidas de forma escalonada, com produtividade de 27 toneladas por hectare.
São 13 os municípios que estão no raio de implantação do projeto: São João do Piauí, Simplício Mendes, Dom Inocêncio, Campo Alegre do Fidalgo, Coronel José Dias, Socorro do Piauí, Ribeiro do Piauí, Nova Santa Rita, Paes Landim, Capitão Gervásio, Bela Vista, Pajeú do Piauí e João Costa.
O projeto de irrigação levará água do rio Piauí, a partir da barragem Jenipapo, aos lotes familiares. Estudos de viabilidade indicam que a produção agrícola do município deverá subir de 5.684 toneladas por ano para 17.584 toneladas e a renda média anual deverá subir de R$ 822 para R$ 5,5 mil.
Os investimentos no Marrecas-Jenipapo poderão transformar o estado do Piauí em um dos grandes produtores de frutas da região Nordeste, especialmente de uva, devido à existência de condições favoráveis de solo, clima e disponibilidade de água. A localidade já dispõe de infraestrutura de 25 km de estradas, dois sistemas de abastecimento de água, 22 km de ligações elétricas, duas escolas e um posto médico.
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