27/04/2015 18:35
Diretor do documentário “Doméstica”, Gabriel Mascaro, participou da primeira
edição do projeto Cine com Debate
Brasília, 27 – O documentário “Doméstica”, do cineasta pernambucano Gabriel Mascaro,
foi exibido nesta segunda-feira (27), durante a primeira edição do projeto Cine com Debate,
promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
O longa-metragem apresenta uma visão contemporânea sobre a relação de trabalho
e afeto entre empregadores e empregados domésticos, a partir de cenas cotidianas
capturadas pelos filhos dos patrões.
No Dia Nacional das Empregadas Domésticas, a exibição do filme resultou em um
debate com participação do cineasta, da produtora Rachel Daisy Ellis e da gerente
de programas da ONU Mulheres Brasil, Ana Carolina Querino. "A principal riqueza
do filme é retratar os elementos que mostram o quão complexa é essa relação do
trabalho doméstico. Dar visibilidade a isso é principal ponto positivo do documentário",
enfatizou Ana Carolina.
Em entrevista, Gabriel Mascaro e Rachel Ellis falam sobre a vulnerabilidade social
e as demais temáticas envolvidas no projeto. Leia a seguir a íntegra da conversa.
Como foi o processo de retratar as diferenças sociais entre patrões e empregados? Gabriel Mascaro – Na nossa pesquisa, começamos a perceber que a relação do
trabalho doméstico não é um fenômeno puramente da classe alta brasileira nem da
classe média alta. Ele é transversal para as várias classes sociais. Essa relação
escravocrata no trabalho do contemporâneo faz parte da cultura brasileira. Então,
fazer esse filme também era problematizar isso e trazer uma discussão fundamental
para superar essa relação de trabalho que a gente via como problemática, pois
mistura o afeto dentro de casa. A potência do filme, inclusive, é mostrar como
esse afeto é o agente mais problemático dentro dessa relação de trabalho.
Quais as temáticas sociais que estão destacadas no filme? Rachel Ellis – O filme traz grandes temas, mas a preocupação principal é tentar
acessar uma camada de relação de poder que é tão presente no dia a dia de muitas
famílias brasileiras e as pessoas não percebem. A filmagem dos adolescentes mostra
isso de uma forma sutil e toca as pessoas. Os temas de raça e gênero também são
muito fortes, pois a maioria das domésticas são mulheres e negras.
Mascaro – Ao mesmo tempo, o filme não quis ficar batendo o martelo nessa questão
de gênero e raça, mas também subverter um pouco isso. No filme, temos um
personagem masculino, que é doméstico, branco e do olho claro. Curiosamente,
quando exibimos o documentário, as pessoas se tocam com a história dele.
O filme tenta, além de mostrar esses temas, desafiar esses paradigmas.
Muitas domésticas recebem Bolsa Família como complemento de renda.
Como vocês veem isso?
Mascaro – Eu acho que é uma questão fundamental garantir as mínimas
condições e, inclusive, de construir uma relação de independência dessas
relações de poder. Se essa empregada tem uma ajuda como o Bolsa Família,
ela terá condições melhores de escolha. É de capacidade de escolha que
estamos falando, porque o grande problema é a falta de capacidade de
escolha que as domésticas estão enfrentando.
Rachel – Eu acho que o Bolsa Família é incrível e fundamental, mas tem
também uma questão muito importante, que foi tratada pela PEC das Domésticas:
a garantia de direitos e salários justos. O Bolsa Família vai aliviar para as
domésticas, mas essa quebra na cultura de trabalho é o fundamental.
Existem muitos mitos e preconceitos contra a população mais pobre.
Esse documentário também promove o debate em relação ao assunto?
Mascaro – O filme mostra uma realidade brasileira e cada um vai reagir de
uma forma. Ele é honesto e sutil. O que está em questão é o jogo de relação
de poder e a apresentação do outro. O afeto é o grande problema na
discussão do trabalho doméstico, porque é uma escala de valor que nos
não conseguimos mensurar. O desafio mesmo é romper essa barreira
histórica de relação de trabalho entre patrão e empregado doméstico.
Qual a importância dessas discussões sociais nesse novo projeto,
que é o Cine com Debate?
Mascaro – É um espaço muito rico de intercâmbio de ideias. Sem dúvida
é uma das exibições mais importante do filme, pois estamos encontrando
pessoas que formulam políticas públicas que mudam o país.
Informações sobre os programas do MDS: 0800-707-2003 mdspravoce.mds.gov.br Informações para a imprensa: Ascom/MDS (61) 2030-1021 www.mds.gov.br/saladeimprensa |
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