40 anos da libertação de Saigon – A vitória contra dois impérios
Leneide Duarte-Plon – O Vietnã de hoje é o resultado de 30 anos de guerra com França 
e EUA, que em matéria de barbárie não se diferenciam em nada do Estado Islâmico.
Dividir para dominar foi sempre o lema das grandes potências em todo o planeta. No Vietnã
 não foi diferente. No fim da guerra da Indochina, em 1954, a França perdeu sua colônia que, 
pelos acordos assinados em Genebra, passou a se chamar Vietnã, dividido em dois países –
 o Norte, comunista, e o Sul, sob a égide dos ocidentais. O exército francês capitulou diante 
da bravura do inimigo, que o venceu na batalha de Dien Bien Phu. As bombas de Napalm,
 fornecidas pelos americanos, foram utilizadas pela primeira vez pelos franceses na Indochina.
 Mesmo assim, a guerrilha dos aguerridos combatentes viet-mihn derrotou o antigo colonizador.
No ano seguinte, a guerra recomeçaria opondo o Exército Popular Vietnamita da República
 Democrática do Vietnã (Norte), governada por Ho Chi Minh, ao Vietnã do Sul, governado 
por um regime fantoche aliado dos Estados Unidos. Começava a Guerra do Vietnã, também
 conhecida como a Segunda Guerra da Indochina.
O povo vietnamita comemorou dia 30 de abril com uma grande parada em Ho Chi Minh-Ville 
(antiga Saigon) os 40 anos da tomada de Saigon, que culminou com a reunificação do país. 
Durante as comemorações o primeiro-ministro Nguyen Tan Dung denunciou os « crimes
 bárbaros » cometidos pelos Estados Unidos em seu país. Em 30 de abril de 1975, a
 entrada do exército do Norte na capital do Sul selou a unidade, sob um regime 
comunista que dura até hoje.
Nos anos 1950 e 1960, em plena guerra fria, para os Estados Unidos como para a 
França, a luta contra a “subversão comunista”, exportada pelo trio diabólico – URSS,
 China e Cuba – era um imperativo geopolítico. Daí a união de forças. Durante a guerra 
colonial na Indochina, 75% do equipamento do exército francês tinha origem 
norte-americana, segundo o historiador Alain Ruscio. Ele escreveu que os franceses
 foram os primeiros a usar o Napalm para bombardear o Exército Popular vietnamita,
 o Viet-minh.
Nos anos 60, a direita fascista francesa não perdoou ao filósofo Jean-Paul Sartre
 suas denúncias da tortura na Argélia, onde os bravos militares franceses queimavam
 vivos os muçulmanos suspeitos de ajudar a Frente de Libertação Nacional. O
 apartamento de Sartre foi atingido por uma bomba e o movimento de ex-combatentes
 pediu seu fuzilamento. Anos antes, na Indochina, o mesmo exército do “país dos
 direitos humanos” decapitara inúmeros viet-congs na guerra da Indochina.
Em matéria de barbárie, os fundamentalistas do Estado Islâmico não têm muito a ensinar…
A guerra contra dois impérios
O Vietnã de hoje é o resultado de 30 anos de guerra permanente contra duas 
potências ocidentais. Treinados pela China, de quem o líder comunista Ho Chi 
Minh era aliado, os combatentes vietnamitas, lutando numa guerra de guerrilha,
 humilharam a França em 1954 e, em 1973, levaram os americanos a se retirarem 
unilateralmente. Mas foi apenas a tomada de Saigon que marcou o fim da guerra,
 que continuou como uma guerra civil.
As potências ocidentais e seus aliados foram definitivamente vencidos graças ao gênio d
e Ho Chi Minh e de seu braço direito, o general Giap, que comandavam a Frente Nacional 
de Libertação do Vietnã do Sul (chamado de Viet Cong), apoiados pela China e pelos 
países comunistas do Leste da Europa. No Sul, a República do Vietnã (Vietnã do Sul) 
era sustentada militarmente pelos Estados Unidos apoiados por aliados (Austrália, 
Coreia do Sul, Tailândia e Filipinas).
No Vietnã, até a retirada unilateral e os acordos de Paz de Paris de janeiro de 1973, 
assinados entre Henry Kissinger e Le Duc Tho, os Estados Unidos tentavam barrar o 
avanço do comunismo. A terrível guerra do Vietnã deixou sequelas duradouras nos 
dois povos : mais de 1 milhão de combatentes vietnamitas e 2 milhões de civis 
. Do lado americano a guerra matou 58.177 soldados e fez 153.303 feridos.
No Sudeste asiático, os Estados Unidos despejaram 7,08 toneladas de bombas 
(na Segunda Guerra Mundial os aliados jogaram menos da metade, 3,4 toneladas),
 destruíram as plantações e as armas como o Napalm e o agente laranja deixaram
um saldo de terríveis doenças transmitidas de geração em geração.
Mulher de Giap morta sob tortura
O ano de 2013 marcou com um ponto final parte do passado colonial da França. Naquele ano morreram o general vietnamita Vo Nguyên Giap, aos 102 anos, o jornalista francês Henri Alleg, aos 92, e o general francês Paul Aussaresses, aos 95. Os três foram personagens primordiais na história da descolonização francesa. O “país dos direitos humanos” viu seu império colonial desmoronar no século 20, com as guerras de independência da Indochina e da Argélia, das quais os três homens foram protagonistas.
O jornalista e militante comunista Henri Alleg e o general Paul Aussaresses viveram 
pouco mais de nove décadas e estiveram em campos opostos na guerra de 
ndependência da Argélia. Quanto ao centenário general Vo Nguyên Giap, ele foi 
o grande herói do povo vietnamita, responsável pela vitória contra os franceses e, 
posteriormente, contra os americanos, ambos muito mais numerosos e mais fortes.
Morto em 4 de outubro de 2013, o general Vo Nguyên Giap foi um dos maiores 
estrategistas e líderes militares do século 20. Em maio de 1954, à frente dos 
guerrilheiros vietnamitas, o famoso Exército Popular Vietminh, criado no fim da 
Segunda Guerra Mundial, Giap expulsou os militares franceses definitivamete do 
território que a França chamava “Indochina francesa”, na famosa batalha de Dien
 Bien Phu, de triste memória para os franceses. Não é à toa que os jornais 
franceses não tocaram trombetas para anunciar os 40 anos da Libertação
 de Saigon. Aliás, todos eles, exceto o cumunista L’Humanité, escreveram 
Libertação de Saigon entre aspas.
A um jornalista francês, Giap contou: “Na batalha de Dien Bien Phu, para 
transportar um quilo de arroz aos soldados que faziam o cerco, era preciso 
consumir quatro no trajeto. Para fazer chegar ao local as armas, munições e 
os alimentos, utilizamos 260 mil pessoas, mais de 20 mil bicicletas, 11.800
 balsas, 400 caminhões e 500 cavalos”. As armas eram desmontadas para 
serem remontadas no destino. A densa floresta tropical, perfeitamente 
conhecida pelos guerrilheiros, servia de proteção para os nativos e de 
armadilha para os franceses. Como o frio da Rússia foi uma armadilha 
para as tropas de Napoleão, cujas batalhas foram minuciosamente estudadas por Giap.
Em 1940, durante a época colonial da Indochina francesa, a mulher 
de Giap, militante comunista como o marido, fora barbaramente torturada
 pelos militares franceses. Seu marido havia viajado à China para encontrar-se 
com o líder vietnamita Ho Chi Minh, refugiado naquele país. A história oficial do
 colonizador atribuiu a morte da mulher de Giap a um suicídio, tática empregada
 posteriormente na Argélia pelos mesmos militares franceses para justificar mortes 
sob tortura.
Texto postado originalmente em: