segunda-feira, 25 de maio de 2015

Empresas brasileiras investem no exterior: cerveja, vinho e... Café


Por Carlos Henrique Jorge Brando
postado há 2 dias atrás

A recente declaração do presidente da Nestlé sobre as aquisições da 3G Capital na indústria alimentícia mundial chamou a atenção para as políticas de corte de preços dos investidores brasileiros e seu possível impacto revolucionário sobre outras empresas do setor. Muitas coisas foram faladas e escritas sobre os recentes negócios da 3G, mas nada ou muito pouco foi falado sobre a forte presença que a empresa tem hoje no negócio café.

A entrada da 3G no setor café ocorreu com a compra da rede Burger King, que possui café em seu cardápio, tanto no café da manhã quanto durante todo o dia. A cadeia de fast-food hoje serve o café Seattle’s Best Coffee que pertence a Starbucks.

Subsequentemente, o Burger King comprou a Tim Hortons, empresa de fast-food líder no Canadá que tem o café como um dos principais produtos de seu portfólio. O slogan da companhia “Always Fresh” (“Sempre Fresco”, em tradução livre) foi criado em conexão com seus cafés, descritos como legendários em seu website. A Tim Hortons é um dos maiores importadores e vendedores de café no Canadá.

Porém, o mais importante empreendimento da 3G com ramificações no negócio café foi a aquisição da Kraft Foods, a maior companhia alimentícia dos Estados Unidos. As marcas de café da Kraft incluem Maxwell House, um dos líderes de mercado nos EUA, Gevalia, Yuban, Sanka (solúvel) e Tassimo (sistema de monodose).

Empresas de propriedade da 3G, que por sua vez é propriedade de três mega-investidores brasileiros – Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles – oferecem hoje todos os tipos de produtos de café para consumidores americanos e canadenses: torrado e moído, solúvel e monodose, vendidos por quilo ou por xícara, no varejo e em lojas de café. Além disto, a 3G controla marcas líderes como a Maxwell House e a Tim Hortons.

A entrada de uma empresa brasileira no rol das tradings multinacionais de café verde foi feita pelas mãos de outro mega-investidor local, André Esteves, e seu banco de investimento, o BTG Pactual. O braço de trading de commodities da empresa absorveu um grupo de executivos da ex-Armajaro para criar uma operação de café que hoje tem escritórios, compra e exporta café na Colômbia, Costa Rica, Quênia, Cingapura e Indonésia, além do Brasil. Talvez seja cedo demais para dizer isto, porém, ao analisar as ambições da BTG e sua história, pode-se especular que eles desafiarão os líderes deste setor em alguns anos.

A terceira, bem menor mas também relevante, entrada de empresas brasileiras no mercado internacional de café foi a compra da Mocoffee suíça, empresa que vende máquinas e cápsulas de café, pela capixaba Wine.com.br, a maior comercializadora de vinhos pela internet da América Latina. Presente em 17 países, a Mocoffee foi criada por Eric Favre, o inventor do pioneiro sistema da Nespresso.

Se analogias são geralmente traçadas entre os negócios de café e vinho, este não tem sido o caso da cerveja e o café. O fato dos sócios fundadores da 3G Capital controlarem a maior operação de fabricação de cerveja do mundo, a AB InBev, e agora possuírem uma importante posição na fabricação e venda de produtos de café, me deram a ideia de propor uma analogia entre cerveja e café. Os dois negócios são caracterizados por poucas e grandes marcas líderes na maior parte dos mercados e uma série de pequenas marcas: cervejas locais feitas por micro-cervejarias e cafés especiais vendidos por lojas de café independentes. Esta analogia vai um passo adiante, por um lado com os bares de cerveja, às vezes controlados pelas próprias marcas de cervejas, e por outro lado com as cadeias de lojas de café. É curioso mencionar aqui que o cobre, o latão e a madeira, materiais que caracterizam a decoração da loja conceito da Starbucks aberta recentemente em Seattle, recordam uma antiga cervejaria!

Embora os especialistas em café estejam sempre atentos à sofisticação do negócio de vinho, com múltiplas qualidades e preços, sem mencionar o apelo do luxo, talvez a analogia mais prática seja com o negócio de cervejas. Fica aqui a sugestão para que seja explorada esta outra analogia, talvez por investidores brasileiros... quem sabe?

Nenhum comentário:

Postar um comentário