Após mais de 20 anos sem amparo, os jornalistas do Rio de Janeiro (RJ)
conquistaram, em maio deste ano, um piso salarial fixado em lei, estabelecido
em R$ 2.432,72. Porém, uma campanha patronal tenta reduzir este valor. Os patrões
querem impor o fechamento nos valores de R$ 1.600 para TV, de R$ 1.450 para
rádio e de R$ 1.550 para jornais e revistas.
Crédito:Reprodução
Sindicato questiona posicionamento da Globo e promete relatório do caso ao MPT
Na última segunda-feira (22/6), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio
de Janeiro (SJPRJ) realizou assembleia dividida em duas sessões, uma em sua
sede e outra no Bar Enchendo Linguiça, da Lapa, no centro da cidade, para
discutir a reposição salarial. Foi o oitavo encontro e reuniu um número histórico de
jornalistas: 229.
A ação das empresas de rádio e TV levou à aprovação de um acordo salarial
que rebaixa o piso, concede reajuste abaixo da inflação atual e prevê
pagamento parcelado do retroativo. A decisão não foi a mesma na votação
do segmento de jornais e revistas, que rejeitou a proposta dos patrões e segue
em negociação.
A assembleia da manhã foi conduzida por evidentes manobras patronais.
IMPRENSA apurou que editores e chefes da TV Globo circulavam entre os
profissionais para conduzir os votos favoráveis e contrários. A emissora teria
levado os jornalistas em seus carros de reportagem — o que foi negado pela
emissora. Quem liderava a equipe era o diretor de jornalismo, Marcelo Moreira,
que não escondeu seu posicionamento na votação, pedindo que
jornalistas levantassem ou abaixassem os braços.
Segundo a presidente do Sindicato, Paula Máiran, a redução foi aprovada
porque os votos das duas assembleias foram somados. A maioria —
101 —, votou contra o rebaixamento. Os demais jornalistas perderam por 11
votos.
O grupo que votou conforme a vontade dos patrões, sob falsas ameaças
de que teriam salários cortados em até 30% e que não receberiam parcela da
participação de lucros, pode fazer com que os jornalistas tenham reajuste de
7,13%, cujo retroativo a fevereiro poderá ser parcelado em até quatro vezes,
dependendo do número de profissionais empregados na empresa.
"Não é de agora que eles [patrões] cooptam os colegas para votar conforme
suas intenções. Fiquei satisfeita em perceber a reação do restante da
ategoria. Profissionais de vários veículos compareceram e ficaram chocados
com isso", disse.
Nas redes sociais, os jornalistas mostraram indignação com a aprovação
do acordo rebaixado e planejam uma mobilização para tentar impedir o resultado.
Paula destaca que os patrões alegam que os Sindicatos são inflexíveis, mas
reitera que eles não se dispuseram a negociar com a entidade. “A gente não
pode se dividir. Os vilões não são os jornalistas que votaram a favor, mas os
patrões”, afirmou.
O Sindicato preparou relatório para encaminhar ao Ministério Público do
Trabalho (MPT), que monitora a campanha. "O Sindicato, em momento
algum, vai se voltar contra os colegas. A gente denuncia porque
vimos e recebemos relatos. Queremos proteger o direito dos trabalhadores",
acrescenta.
Defesa
Defesa
Procurada por IMPRENSA, a Globo afirma que nenhum veículo foi
utilizado para transportar funcionários que participaram das assembleias,
que os trabalhadores “compareceram por livre e espontânea vontade".
"Em nenhum momento, foram forçados ou induzidos a votar a favor
da proposta patronal. Eles compreenderam que a conjuntura econômica
é adversa, para se tentar, no momento, obter ganhos maiores.
Essa posição foi defendida publicamente, por participantes”, explica em nota.
De acordo com a emissora, a entidade adiou a convocação e, com isso,
colocou em risco o prazo hábil para pagamento da Participação nos
Resultados (PPR) - que, segundo a lei, a PPR apenas pode ser paga
se houver acordo sindical. E, no caso do canal, o prazo é até julho.
A Globo diz também que a presidente do Sindicato convocou a Assembleia
para um bar – Enchendo Linguiça – "muito distante da emissora, o que
gerou reclamações". Uma nova mobilização dos funcionários fez que
com a entidade promovesse outra Assembleia para a sede da entidade,
também no centro.
“A Globo, em momento algum, propôs a redução do valor de piso, pois
o valor é automaticamente corrigido pelo índice acordado na convenção.
O mesmo índice que vale para a correção dos salários”, reforça.
* Com supervisão de Vanessa Gonçalves.
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