Acho que não tem jeito… Vou ter que interromper minhas queridas numeralhas para falar do escândalo no futebol, certo? (Suspiro…) Para começar, é bom dar uma uma olhada para trás. Leu (ou já sabia)? Então, vamos lá:
1. Marcelo Campos Pinto: É o cara. Se você não é (muito) ligado em esporte pode não conhecê-lo, mas o diretor geral da Globo Esportes é a personalidade mais poderosa do ramo no Brasil, principalmente no que concerne ao futebol (mas não só). Em se tratando de CBF, ele manda prender, manda soltar, casa e batiza – nada do que se decide na entidade, seja em termos de seleção, seja, especialmente, em termos de competições nacionais (incluindo a Copa do Brasil, que aparece no relatório do governo dos EUA), é implementado se não levar o seu sinete. E isso há anos. Qualquer investigação minimamente séria sobre os escândalos que envolvem a Fifa e a CBF – de cujos dirigentes é unha-e-carne – pode deixar de ir em cima dele. Necessariamente deverá ser ouvido pela CPI e pela PF, a qual, possivelmente, com o avançar das investigações, terá que pedir a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico dessa figura.
2. J.Hawilla: É o personagem principal da trama até agora. Se Campos Pinto leva o escândalo para o coração da operação de esportes da Estrela da Morte, Hawilla atinge diretamente a família Marinho. Como já é notório, ele é sócio de Paulo Daudt Marinho, filho de João Roberto Marinho, na TV São José do Rio Preto, e o próprio JRM é sócio dos filhos de JH, Renata e Stefano , na TV Aliança Paulista, de Sorocaba, ambas componentes da rede da TV TEM, de Hawilla. Este disse que não fez nenhum acordo de delação premiada com a Justiça dos EUA – traduzindo: poderá vir a fazer, lá ou aqui, dependendo das circunstâncias. Estas podem mudar não só pela ameaça de prisão, mas também por ordem pessoal – talvez Hawilla, que estaria lutando contra um câncer na garganta, não queira deixar como legado para seus filhos e netos a mancha de um escândalo de corrupção internacional ligado ao nome da família.
3. Família Marinho/Grupo Globo: Estão com um problemão nas mãos, que pode ser dividido em três partes:
a. Política: Como visto, não dá para esconder as ligações das Organizações Globo com J.Hawilla apontadas acima. Como se tem insistido que Dilmão deveria saber o que ocorria no quinto ou sexto escalão do governo, não se pode agora dizer que João Roberto Marinho não tinha conhecimento do que fazia o sócio de seu filho e pai de dois de seus próprios sócios – ainda mais, que vamos convir, os mais jovens foram mesmo é usados como testas-de-ferro para os papais driblarem restrições legais à posse das emissoras de TV no interior de São Paulo. Raciocínio semelhante vale para o caso de Marcelo Campos Pinto – se o homem forte da Globo Esporte, postado no escalão imediatamente abaixo dos Irmãos Marinho, especialmente de Roberto Irineu, responsável pela TV, cometeu maus feitos, como se poderá acreditar que o fez sem, pelo menos, conhecimento dos chefes? “Amplo domínio dos fatos” não pode valer só para um lado.
b.Policial: Diante do quadro acima, já andam dizendo que os Marinho querem demitir Campos Pinto e este, óbvio, ameaçou botar a boca no mundo. Se o fizer…
c.Corporativa: A investigação certamente vai enfraquecer a capacidade da Globo de vencer as futuras concorrências por direitos esportivos. Os concorrentes poderão exigir que o sistema de escolha seja na base do envelope fechado ou do leilão por viva-voz, como deve ser em qualquer concorrência decente. Se um desses sistemas tivesse sido usado em disputas anteriores, em algumas a Globo não teria vencido, como ocorreu na ocasião da concorrência pela exibição dos Jogos Olímpicos de Londres, ganha pela Record.
Ainda nesse campo, a concorrência poderia tomar outras providências, que avento mais abaixo.
4. Ricardo Teixeira: Não posso fazer melhor do que o Luiz Carlos Azenha paraexplicar a importância deste conhecido personagem nesse imbroglio.
5. Romário: O Baixinho vai responder rapidamente uma pergunta fundamental: avaliou bem onde se meteu ao correr para criar a CPI da CBF no Senado? É que se levar a CPI a sério, vai, fatalmente, chocar-se com a Rede Globo, o que não fará nada bem a sua candidatura à prefeitura do Rio em 2016 (e a suas aspirações políticas em geral), que também será prejudicada se for leniente na apuração, pois mostrará que de cruzado moralizador e “coisa nova na política” não terá nada.
6. Polícia Federal: Com as investigações de nomes bacaninhas acabou ganhando o respeito de muitos brasileiros. No entanto, nos últimos tempos, mais precisamente depois dos escândalos do HSBC (aliás, que fim levou?) e Carf (que iniciou, com o nome de Operação Zelotes, mas não aprofundou), alguns começaram a se perguntar se a capacidade investigativa da PF não funciona apenas contra os políticos, mais especificamente de um determinado lado do espectro ideológico. Tem uma chance de ouro de demonstrar que quem pensa assim está errado/a, mas, para isso vai ter que contrariar amigos e benfeitores antigos.
7. Ministério Público: Da mesma maneira que a PF, age rápido quando as suspeitas são contra determinadas pessoas e instituições de determinada tendência política e é muito lerdo – chegando à inércia – quando o caso afeta “cidadãos acima de quaisquer suspeitas”, definição que abrange empresários poderosos e amigos ou políticos apoiados por estes (casos HSBC e do Carf também podem ser lembrados aqui). Também tem a oportunidade de mostrar que pode ser ágil em qualquer situação – o seu caso tem um agravante em relação à PF: a atuação do MP brasileiro será inevitavelmente comparada com a da equipe comandada por Mrs. Loretta Lynch. Por enquanto, os procuradores estão quietos, algo estranho pois sempre estão entre os primeiros a pular para frente dos holofotes em casos de repercussão como este.
8. Concorrência: Se algum dia houve uma oportunidade da concorrência quebrar o monopólio da Globo nas transmissões esportivas, principalmente no futebol, é esta. Não só o Darth Vader esportivo está sob ataque, como a própria Estrela da Morte encontra-se enfraquecida em si, bem como estão alguns de seus principais parceiros. A concorrência (leia-se ESPN, Fox e TBS/Esporte Interativo) pode agir por três lados:
a.Jornalístico: Usando suas equipes para cobrir com afinco e profundamente o caso. Há gente competente e motivada em número suficiente para fazer bom trabalho investigativo e criar ainda mais embaraços por aqui, sem contar, claro, a cobertura lá nos EUA, pois, afinal, todas são norte-americanas. Por enquanto, só a ESPN tem corrido atrás com um pouco mais de vigor.
b.Legal: O fato de todas serem norte-americanas abre outro possível flanco de ataque. Dentre o monte de leis imperialistas que os EUA possuem, deve ter alguma que diz que empresas estadunidenses prejudicadas em seus negócios por atos de corrupção perpetrados por concorrentes podem processá-las por lá. Se resolverem botar aqueles advogados formados em Harvard, Yale e Stanford para processar a Globo em solo americano, só as despesas legais serão um abalo considerável para as finanças dos Marinho.
c.Inteligência: Se pode contratar advogados e botar os coleguinhas para apurar, a concorrência também pode contratar empresas internacionais de investigação tipo Kroll, Pinkerton e outras para correr atrás em paralelo ao FBI. Talvez seja exagero, mas pode ser que, na avaliação das matrizes da ESPN, TBS e Fox, o mercado do futebol brasileiro valha o investimento.
9. Governo: Já mandou investigar, mas dado que a PF tem notórias e históricas relações amistosas com a CBF, o ministro José Eduardo Cardozo terá que vigiar de perto – e, talvez, até chutar alguns traseiros – para o pessoal trabalhar direito. E é bom que o ministro da Justiça faça isso porque, como no caso do MP, também terá seu trabalho comparado ao de Mrs. Lynch, para quem, como já se viu, do pescoço para cima, tudo é canela. Agora, tem que ver primeiro se o governo vai querer mesmo correr atrás. A dúvida vem do fato de que este governo (assim como seu antecessor) sempre tratou os “barões da mídia” com luvas de pelica e rapapés, apesar de estes devolverem as gentilezas com mordidas, pontapés e cusparadas.
10. Veículos de comunicação: Vamos ver se os veículos vão seguir o antigo preceito do baronato midiático segundo o qual barão não pode falar mal de barão. A dúvida vale, principalmente, para Estadão, Folha e IstoÉ, já que Globo e Época, por motivos óbvios, e Veja, por questões de estratégia política, vão seguir o mandamento ao pé da letra.
11. Coleguinhas: Situação difícil. Os que trabalham na Rede Globo, principalmente no esporte, ficarão de crista baixa (o resto que labuta no Grupo também, mas menos), pois não deve ser fácil manter a cabeça erguida ganhando o pão numa empresa suspeita de corrupção (talvez possam pegar umas lições com a galera da Petrobras, mas acho que o pessoal não vai querer muita conversa). E precisar falar sobre o caso fingindo que não têm nada com ele não vai ajudar nem um pouco a elevar o moral. Já os coleguinhas da concorrência poderão curtir a desgraça alheia (uma das grandes felicidades humanas), se estão de longe, mas o pessoal do Esporte ficará com um pé atrás – afinal, emprego não está fácil e a Globo ainda será parte importante do mercado por um longo tempo.
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