Jornal O Globo publica, nesta quinta-feira, editorial em defende a limpeza geral no futebol brasileiro, como se não tivesse nenhuma relação com os problemas; Globo, como se sabe, tem os direitos de transmissão de todos os torneios no Brasil, mesmo quando paga menos aos organizadores; sócio da emissora, o empresário J.Hawilla é peça central na engrenagem de propinas; ainda assim, o editorial da Globo acerta quando fala que é preciso abrir essa "caixa-preta"
4 DE JUNHO DE 2015 ÀS 06:42
247 – Sócia de J. Hawilla, pivô do escândalo de corrupção investigado pelo FBI no futebol mundial, e detentora dos direitos de transmissão dos torneios objeto de grandes somas de propina, Globo defende, em editorial publicado nesta quinta-feira no jornal O Globo, a moralização completa do futebol brasileiro, como se não tivesse qualquer relação com os problemas. Leia abaixo:
Saída de Blatter tem de ser apenas o início
As ações desfechadas a partir dos EUA se refletem no Brasil, e o país precisa fazer o dever de casa, para ajudar na reorganização das instituições do futebol
A renúncia de Joseph Blatter à presidência da Fifa parece estar longe de ser o último ato do processo de investigações da Justiça dos EUA para desmontar a rede transnacional de corrupção operada a partir da federação que comanda o futebol no planeta. Muito menos a prisão de altos dirigentes da entidade, semana passada, em Zurique — entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin —, episódio que provocou um terremoto no universo do esporte. E estes, além de outros desdobramentos mais imediatos das ações da força-tarefa de procuradores americanos e FBI, precisam ser, na verdade, a porta de entrada para um mundo até aqui envolto numa caixa-preta. Um subterrâneo resguardado contra mecanismos de controle, cujos “negócios” precisam vir à tona, não só para punir os envolvidos na movimentação de grandes somas de propinas, em subornos e ações ilegais de desinfetação de dinheiro sujo. As investigações também têm de ir fundo para, a partir de punições exemplares, preservar a credibilidade no esporte mais popular do mundo.
Projetar luz na estrutura financeira montada pela Fifa, e no seu modo de operar, é crucial para que se proceda a uma reforma estrutural do sistema. A beleza estética de um gol de Messi é evidência de que, dentro das quatro linhas, o futebol vai bem das pernas, quase tanto como ia à época das arrancadas de Pelé. No entanto, as investigações do FBI, que começam a desvendar um lado sujo na organização do esporte, mostram um perfil extracampo de crimes financeiros que podem ameaçar o futuro desse espetáculo para multidões.
No âmbito externo, as ações da Justiça e da polícia americanas hão de conduzir a uma limpeza ética para desmontar engrenagens viciadas que movimentam negócios de venda de direitos de transmissão de competições, operações de marketing e, também, escolha de sedes para as Copas. Não por acaso, estão sob suspeita as negociações em torno de mundiais já disputados (África do Sul) e por jogar (Qatar e Rússia). A saída de Blatter, que também entrou na mira do FBI devido a transações ilegais de seu braço direito, Jérôme Valcke, com a Concacaf, é uma tentativa de salvar um pouco as aparências e manter patrocinadores que podem recuar com a repercussão das denúncias. Mas precisa ser apenas o começo da história.
A luz, por óbvio, tem também de clarear os corredores da CBF. As ações desenvolvidas a partir do EUA certamente se refletirão no Brasil, mas o país também tem a obrigação de fazer o dever de casa. De imediato, criou-se uma CPI no Senado, mas a dúvida é saber se a comissão trabalhará sem ser manipulada por grupos que desejam manter tudo como está ou que sonham com uma desastrosa intervenção do Estado no esporte.
A abertura de inquérito, pela PF, para investigar transações do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira é positivo sinal de que a ponta da meada no Brasil poderá mesmo ser puxada. A ver. Aqui, como no resto do mundo, está em jogo o respeito a uma paixão popular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário