28/08/2015 15:00
Tecnologia social que represa água da chuva transforma cotidiano dos
agricultores familiares do Rio Grande do Norte que começaram a produzir
e comercializar o excedente
Brasília, 28 – Quando a barragem subterrânea foi construída no sítio de Erivan
Bezerra, 39 anos, ele logo pensou: “Vou plantar cheiro verde. Agora, tem água.”
Essa história começou há pouco mais de seis meses na zona rural de Doutor
Severiano, município a 350 quilômetros de Natal (RN). Acostumados a enfrentar
longos períodos de estiagem, Erivan e a esposa Alexsandra Peixoto, 33, viram
a salvação da pequena lavoura brotar debaixo da terra.
Em fevereiro deste ano, no sítio da família, foi construída uma barragem
subterrânea, tecnologia social que garante água para produção e criação
de animais. Com a barragem, a água da chuva é represada a partir da fixação
de uma lona plástica resistente em uma vala escavada até encontrar o
cristalino – camada rochosa comum no Semiárido brasileiro. “Antes, não
produzia porque não tinha água. Tinha que buscar água a dois quilômetros,
lá no pé da serra, para os animais. Agora, a barragem está segurando a água
no solo”, comemora o agricultor.
Ubirajara Machado/MDS
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Ao ver a água surgir do chão, a família não perdeu tempo e agarrou a
oportunidade de trabalhar. O casal já comercializou mais de R$ 1 mil para
o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) neste ano. “A nossa expectativa
é melhorar cada vez mais”, afirma Erivan, que pretende atingir a cota de
R$ 6,5 mil do programa até o próximo mês.
Eles cultivam 20 produtos, entre hortaliças, coco, banana, cajarana e cajá,
além de criar aves e gado. O “mói” (maço) de cheiro verde, conta Erivan,
é vendido a R$ 1. “Levo em média 40 pés para vender de porta em porta.
Tenho que fazer um ‘mói’ grande para bater a concorrência.” Além disso,
Erivan e Alexsandra fazem cocadas e polpas de frutas para vender na
vizinhança. O dinheiro ajuda a família a pagar a mensalidade da faculdade
da agricultora, que cursa o 5º semestre de Pedagogia.
Ubirajara Machado/MDS
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E não foi só a produção que melhorou. Alexsandra conta que a qualidade da
alimentação da família também está melhor, graças a programas como o Bolsa
Família e o PAA. O casal, que tem uma filha de 9 anos, conta que só compra no
mercado o que não consegue produzir. “Antigamente, ficávamos presos no básico,
como arroz e feijão. Hoje, a gente tem renda e pode ir ao mercado”, diz Alexsandra,
que recebe R$ 200 do Bolsa Família.
Transformação – O casal Francisco Reginaldo Gaudêncio, 31, e Carinéia
Rodrigues, 31, também teve a oportunidade de mudar de vida depois da
construção de uma barragem subterrânea. Em outubro do ano passado,
a tecnologia transformou a paisagem da pequena propriedade no município de
Apodi (RN).
A lona inserida no solo possibilita que a água permaneça no local. Com isso, a
plantação de milho, feijão e frutas, como manga, coco, seriguela e goiaba,
vingaram mesmo com um período longo de estiagem. Os produtos colhidos
melhoram a alimentação que é reforçada pelos ovos e as galinhas que o
casal continua criando. Com o acesso à água e com o milho plantado na
propriedade, eles conseguiram aumentar a criação de 15 para 80 galinhas
entre outubro de 2014 e junho de 2015.
Beneficiária do Bolsa Família e com um filho de três anos em casa, ela sabe
bem a importância de uma alimentação adequada para a família. “A renda
principal da casa vem do Bolsa, que é utilizado para comprar alimentos e
remédios quando necessário.”
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Antes de receber a tecnologia, o casal de agricultores familiares teve que
vender as sete cabeças de gado que possuíam, porque não tinham mais
como alimentá-los. “A rotina era esperar que Deus mandasse a chuva. E
fomos vendendo os animais”, conta Gaudêncio. “Deu uma tristeza muito
grande, mas não tinha como dar comida para eles.”
Mas o acesso à agua mudou esta realidade. “Não queremos mais sair daqui.
Queremos continuar produzindo, porque a vida melhorou muito”, disse.
“A minha expectativa é produzir mais e comprar os animais que tive que
vender por causa da seca.”
Leite – No Rio Grande do Norte existem 87% das barragens subterrâneas
que foram implantadas em todo o Semiárido. Além de apoiar a agricultura,
essas tecnologias sociais, construídas pelo Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS) e pelo Instituto de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Rio Grande do Norte (Emater/RN), ainda reforçam a criação
de animais e a produção de leite.
Paulo Luciano Gomes, 52 anos, a esposa Reginária de Menezes, 28, e a filha
Maria Paula, 6, moram na comunidade de Melancias, em Apodi (RN). Com
a barragem subterrânea, Gomes conseguiu melhorar a alimentação dos
caprinos. Desde outubro de 2014, o agricultor familiar produz mais forragem
para alimentar os animais. Em menos de um ano, a criação passou de 130
para 180 cabras. “Se não tivesse essa barragem, já tinha vendido o rebanho.”
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Para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), ele entrega diariamente mais
de 20 litros de leite. No fim do mês, recebe quase R$ 1 mil. A expectativa do
agricultor para os próximos meses é dobrar a entrega. “Desde quando comecei
a vender o leite de cabra, nunca faltou aquele salário que vem do programa”,
contou. “Estamos prevenidos com essa barragem e a produção de leite vai aumentar.”
Pedro Martins Freire, 38, tem a mesma confiança de Paulo. Ele cria vacas em
Doutor Severiano (RN). Com a barragem subterrânea, ele consegue ganhar
mais do que um salário mínimo por mês. E o dinheiro tem destino certo: a
alimentação dele, da esposa e das duas filhas. “Antes, não ganhava R$ 400
por mês. Aumentei a produção porque temos mais capim e mais forragem
para os animais.”
Por dia, Freire venda cerca de 60 litros de leite bovino na modalidade de
Leite do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA Leite). “Hoje, temos
como nos planejar e saber quanto vamos receber no fim do mês.”
A alegria se torna completa ao saber que o produto, depois de ser beneficiado
, é entregue na escola onde a filha mais nova Maria do Socorro Freire, 11
anos, estuda. “É uma satisfação saber que o alimento que produzo volta
para a minha família.”
Ubirajara Machado/MDS
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No passado, a seca e a falta de oportunidades obrigaram o produtor a ir para São
Paulo para trabalhar na construção civil. “Ficava lá seis, oito meses”, lembra. A
barragem subterrânea, além de reter a água no solo da propriedade, também
segurou Pedro no sertão. Agora, ir a São Paulo, só se for para passear. “Para
mim não tem lugar melhor do que esse aqui não. Aqui eu tenho saúde, tenho paz.”
Recuperação – De acordo com a diretora de Fomento à Produção e à Estruturação
Produtiva do MDS, Rocicleide Ferreira, as barragens subterrâneas são tecnologias
que se adaptaram muito bem no Semiárido porque utilizam materiais simples,
como a lona, e não exigem tanta mão de obra. Uma escavadeira se encarrega
de fazer o buraco no terreno até chegar à rocha, localizada muitas vezes a
menos de cinco metros de profundidade.
As tecnologias têm incluído produtivamente os agricultores familiares da região.
“A solução, já se sabia, não é ‘combater’ a seca, pois é um fenômeno próprio
da região. A solução é dar oportunidade ao nordestino a conviver com a ela e
a superar seus efeitos”, afirma. Ela destaca ainda que, onde as barragens
subterrâneas estão sendo implantadas, a mata ciliar também está sendo recuperada.
Informações sobre os programas do MDS: 0800-707-2003 mdspravoce.mds.gov.br Informações para a imprensa: Ascom/MDS (61) 2030-1021 www.mds.gov.br/saladeimprensa |
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