Postado em 28 set 2015
Abaixo, um trecho da entrevista que concedi a Adriano Silva, do Projeto Draft, sobre o DCM. Nele, trato de um tema particularmente fascinante na história do jornalismo brasileiro moderno: a destruição da cultura editorial da Veja.
O Diário do Centro do Mundo critica veículos como a Veja por praticar um jornalismo de tese, comprometido com um dos lados do debate. O DCM não faz exatamente a mesma coisa – só que do lado oposto?
As críticas do DCM à Veja se devem muito mais à desonestidade e à canalhice do que a qualquer outra coisa.
Tenho o maior respeito por algumas publicações engajadas com causas conservadoras, como a inglesa The Economist.
Mas o que a Veja faz é outra coisa: mente, distorce, trapaceia. Não é jornalismo conservador. É gangsterismo editorial.
Não fosse a legislação complacente brasileira sobre crimes de imprensa, a Veja já tinha quebrado faz tempo, tantas as barbaridades não provadas que publica sem nenhum cuidado.
Você trabalhou 10 anos na Veja, nos anos 80. Não era assim já naquela época? O que houve com a Veja?
Não. A Veja era completamente diferente. A Veja, da fundação até o início dos anos 90, tinha diretores de redação brilhantes, que serviam de contraponto ao dono, Roberto Civita.
Estou falando do Mino Carta primeiro, e depois do Guzzo e do Elio Gaspari.
Com eles, a Veja foi a escola de jornalismo mais admirada do Brasil.
A queda do Collor fez mal ao Roberto. Ele começou a se achar editor e a se comportar como tal sem ter competência para isso.
Neste processo de auto-agigantamento, ele se cercou de diretores bem abaixo dos que fizeram a Veja ser o que era, como o Tales Alvarenga e o Eurípedes Alcântara, e deu à revista as suas feições.
A cultura editorial que vigorou do Mino ao Guzzo e Elio acabaria destruída. Jamais a Veja publicaria uma capa, como fez, em que falava de contas no exterior do Lula com base em documentos cuja veracidade ela admitiu no texto não ter conseguido provar.
O caso Romário é filho dessa destruição de cultura editorial.
O problema se acentuou com a chegada do PT ao poder. Aí virou um valetudo em que o jornalismo, em si, foi abandonado no esforço de derrubar o Lula, primeiro, e depois a Dilma.
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