Antônio Mesquita Galvão
Doutor em Teologia Moral
Adital
O que é transgenia?
Foto: oliberario.org
Entende-se por transgênico um organismo que contém um ou mais genes transferidos artificialmente de outra espécie. Assim, transgenia, trans + gene, refere-se à mutação nos genes de algum organismo vivo. Um organismo transgênico é obtido quando se injeta um gene alheio no ovo fecundado ou nas células embrionárias que se geram nos primeiros estágios do desenvolvimento. Numa linguagem mais popular, pode-se definir transgênicos como "organismos criados em laboratórios, com técnicas de engenharia genética, que permitem ‘cortar’ e ‘colar’ genes de um organismo para outro, mudando sua forma e manipulando sua estrutura”.
Deste modo, transgênico é o gene adicionado ao genoma hospedeiro. Logo o novo caráter conferido por ele é transmitido à descendência. O principal legado da engenharia genética é a quebra das fronteiras entre as espécies, via transferência de genes entre espécies diferentes (transgenia), o que possibilita que qualquer ser vivo adquira novas características de vegetais, de animais ou até de humanos.
No aspecto político-econômico da transgenia, em tudo há que se enxergar o início de uma ofensiva total (made in USA), usando os três instrumentos mais importantes do poder econômico: a Organização Mundial de Comercio (OMC), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) – numa união de governos democraticamente eleitos, mas severamente prejudicados pela crise econômica. Desta vez, o objetivo não é o petróleo, mas obrigar o mundo a aceitar alimentos e cultivos modificados geneticamente. Os EUA e seus aliados do Primeiro Mundo, desejam que os chamados "países em desenvolvimento” (como no caso o Brasil) plantem (em a formalidade das pesquisas) as sementes transgênicas, para ver "que bicho vai dar”. Uma visão elementar da ética da saúde das pessoas pede que se tenha mais cautela ao aceitar tais alimentos.
O principal argumento daqueles que defendem o uso de transgênicos, que são principalmente as multinacionais agroquímicas, é que o uso desse novo método aumentará a produtividade e que será mais econômico para os pequenos agricultores. Essas empresas, principais produtoras de sementes transgênicas, têm patenteadas as técnicas de transgenia, e para utilizá-las, os agricultores terão que pagar royalties. Ora, isso faz com o produtor torne-se um escravo da empresa, isto é, terá que comprar toda a linha de produtos da mesma empresa. Os Estados Unidos são os maiores interessados na utilização da transgenia, já que a maioria das empresas que operam a biotecnologia são de lá. Quem descobriu a transgenia foi a China. De lá, pela biopirataria, a tecnologia veio para os EUA.
É lamentável a farra de produtos alimentícios modificados que se vê no Brasil. Aliás, não se vê, suspeita-se, pois as especificações de "produto modificado” nos rótulos (especialmente de alimentos infantis) são em letra tão pequena, que nem com lupa, em alguns casos, se consegue ler. Há dias, consegui descobrir num chocolate vendido aqui, de uma multinacional suíça, o agregado "soja modificada”. Ora, soja em chocolate já é um absurdo, transgênica, pior ainda.
Para ajudar o combate e a conscientização popular, o Greenpeace, a mais conceituada ONG ambientalista do mundo, está disponibilizando na sua página www.greenpeace.org.bro resultado de uma grande pesquisa feita junto às maiores empresas que fabricam alimentos no Brasil.
Nesse "guia do consumidor”, foram detectados produtos transgênicos em sopinhas infantis, papinha para nenê, farinhas de milho, fubá, milho para pipoca (em micro-ondas), farinha para polenta, mistura para pão de queijo, mistura para bolo, óleo de soja e de milho, molhos de tomate, mostarda, shoyu, maioneses, caldos em tabletes, sopas cremes, macarrão instantâneo, biscoitos (comuns e recheados), balas, chocolates em barra e em unidades, cobertura de bolos, bebidas achocolatadas, leites fermentados, iogurtes, bebidas lácteas, sobremesas cremosas, gelatinas, salsichas, apresuntados, margarinas, gorduras vegetais, salsichão, peito de frango e peru, patês, etc. Todos esses alimentos são altamente cancerígenos.
Vale a pena conferir nas páginas indicadas, para que se consiga, na busca da qualidade de vida, consumir alimentos naturais e não algo modificado quimicamente. É dever da bioética denunciar qualquer tipo de ameaça à saúde ou à vida humana, em especial das crianças. E o que se vê é uma ponderável gama de alimentos infantis eivados de transgênicos.
Com a palavra, os técnicos
Em uma semente geneticamente modificada há uma série de vírus (venenos químicos e biológicos) capazes de combater os inimigos naturais da planta. Esse processo traz uma ponderável economia em pesticidas, antifungos, e exterminadores de inço, gerando, sem dúvidas, lucro e aumento de produtividade. Disse acho, porque não sei a relação custo-benefício entre a semente normal, não modificada, mais o tratamento profilático, e o que custa a modificada, já com a "vacina” inclusa. Com a semente modificada há quase 100% de possibilidades de safra integral. E o efeito desses produtos no solo?
A rigor, nenhum dos pedidos de liberação comercial de produtos transgênicos está acompanhado de um estudo de impacto ambiental. Embora a matéria seja complexa, há o entendimento de que estes estudos são necessários conforme determinam o artigo 225 da Constituição Federal, a Lei Ambiental e a Resolução 237/97 do CONAMA, o que não teria sido observado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Com base no artigo 225 da Constituição Federal, há uma sentença judicial que exige o estudo de impacto ambiental, acompanhado do relatório de impacto no meio-ambiente, como condição indispensável para o plantio em escala comercial (em massa) da soja roundup ready (leia-se Monsanto). É interessante ler o que nos diz frei Sérgio Görgen:
"A primeira preocupação relativa aos transgênicos é com a saúde. Todos os alimentos transgênicos que nos querem enfiar goela abaixo no mercado brasileiro possuem um imenso grau de envenenamento – envenenamento dos alimentos e envenenamento da natureza, da terra. A repercussão que isso trará à saúde humana ninguém conhece. O que se sabe é que experiências feitas no Reino Unido, com ratos, demonstraram que a imunidade dos ratos que consumiram alimentos transformados geneticamente foi significativamente abalada, inclusive com diminuição do tamanho do cérebro desses ratos. (...)O segundo elemento é referente à questão do meio-ambiente. Não se tem segurança do que a transgenia, quer dizer, a modificação genética, pode trazer ao meio-ambiente. Pode criar problemas à chamada biodiversidade, isto é, pode arrasar com um enorme número de plantas que existem hoje na face da terra, fazendo com que o Planeta Terra fique mais pobre na sua vida, como também criar aquilo que chamamos de superinços, quer dizer, plantas que se tornam resistentes a venenos cada vez mais forte, até chegar ao ponto de nenhum mais matar”(1).
A grande verdade, e que confunde a muitos, é que melhoramento genético (que é salutar) não é o mesmo que transgenia (que é duvidoso). O melhoramento genético, ao estilo clássico, vem pela biotecnologia, empregada há várias décadas nas lavouras do Brasil e do mundo. O grande problema com os alimentos transgênicos é o risco que deles pode advir. Esse impacto precisa ser cuidadosamente avaliado. O que ainda não ocorreu.
"Plantas transgênicas ou OGM (organismos geneticamente modificados) são plantas que têm inserido em seu genoma uma seqüência de material genético (DNA) manipulado em laboratório por técnicas moleculares ou biotecnológicas. O DNA inserido pode ser da mesma ou de outra espécie. (...) A ameaça à diversidade biológica decorre da liberação de um OGM devido às propriedades do transgene ou de sua transferência e expressão em outras espécies. A adição de um novo genótipo numa comunidade de plantas pode proporcionar vários efeitos indesejáveis. A principal ameaça à espécie humana decorre de possíveis efeitos provocados pelo consumo de alimentos oriundos de plantas transgênicas”(2).
A Igreja não é contra!
Ante o drama da fome que sofre grande parte da humanidade, a Santa Sé pediu mais informações e que se aprofunde nos conhecimentos sobre os organismos geneticamente modificados (OGM). Assim anunciou o arcebispo Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício para a Justiça e a Paz, após a Conferência ministerial sobre Biotecnologia, que foi celebrada em Sacramento (Califórnia) de 23 a 25 de junho de 2003. A Igreja não é contra o uso dos transgênicos, conforme teimam em afirmar alguns detratores ou mal informados. Ela apenas deseja que a comunidade científica declare que a utilização de OGM não é prejudicial ao homem, aos animais e à natureza.
"A Santa Sé compreende a urgente necessidade de oferecer segurança alimentícia a todas as pessoas, especialmente às que sofrem por causa da pobreza, da fome e da má alimentação”, afirmou o prelado em sua intervenção na Conferência. "A presença de uma delegação na reunião ofereceu à Santa Sé a oportunidade de observar, escutar os testemunhos de especialistas e poder aprender sobre os diferentes programas e projetos que envolvem o uso de OGM”, reconheceu. "Saciar a fome é essencial. Encontrar meios para consegui-lo é um imperativo. Ao mesmo tempo, a Santa Sé continua estudando o mais amplo uso de organismos geneticamente modificados”, revelou. "A informação que foi recolhida será muito útil para que a Santa Sé desenvolva uma visão clara sobre o uso dos OGM”, explicou Dom Martino. Estas declarações foram colhidas junto ao site Zenit – o mundo visto de Roma(3).
Por seu interesse em conclaves desse tipo, fica evidenciada a preocupação da Igreja com a questão dos transgênicos. A informação leva à participação, e a participação enriquece. O uso de OGM – afirma a Igreja – necessita ser amplamente discutido de maneira que se possa tomar decisões, sensatas e bem formadas a favor dos que recebem e utilizam estes produtos. Isto permitirá a estas pessoas seguirem no caminho para um desenvolvimento sustentável.
A reunião de Sacramento, da qual participaram ministros de agricultura, cientistas e agentes sanitários de mais de cem países, se caracterizou pelo confronto de posições entre a União Europeia (que não enviou ministros) e os Estados Unidos. Rússia e os EUA nesta matéria têm visões opostas.
A euforia dos transgênicos
Por oportuno, e vinculado ao assunto, transcrevo uma matéria que publiquei em jornais, em junho de 2003 (dez anos atrás): "Ibirubá (295 km de POA) acolheu, em maio/2003, o I Fórum Nacional da Soja Transgênica, onde foram debatidos assuntos ao plantio com sementes modificadas (transgênicas). Fui convidado a participar do evento, mas uma atividade anteriormente agendada me impediu. Como assessor da Comissão Especial de Bioética, eu venho estudando já há algum tempo o problema dos alimentos geneticamente modificados. Não tenho "outros interesses” nem me incluo no rol dos "inocentes úteis”, por isso sinto-me à vontade de discorrer sobre o tema. O que se busca com a transgenia das sementes? Aumentar a produção! Ótimo! Aumentar o lucro, os ganhos! Melhor ainda! A que preço, em termos de saúde futura dos consumidores? Ninguém sabe! E como ninguém sabe a extensão dos riscos de uma mutação desse porte, seria recomendável um mínimo de bom senso, e não apenas se atirarem à fábula, com a avidez de quem só pensa no lucro.
Uma semente transgênica é um coquetel, sabe-se lá de quê. Imune às pragas e a outros assaltos, mas recheada de vírus, que não se sabe quais suas consequências, a médio prazo (falo em 6-10 anos) à população. Estou escrevendo um livro, que ficará concluído no fim do ano, "Bioética, a ética a serviço da vida”, no qual dedico um capítulo exclusivo à manipulação genética das sementes. Não se pode ver as coisas só pelo lado da produção e do lucro. A ética se impõe, prioritariamente. Um deputado que se manifestou, na azáfama deslumbrada da tardia descoberta da pólvora, equivocou-se ao unir os juízos "transgênicos” e "fome zero”. Do milho que se colhe, 10% vai para o consumo humano; 30% para o animal e 60% para as indústrias e para a exportação. Com a soja, quase 100% vai para o exterior.
O problema é que os países ditos civilizados, não consomem produtos modificados, eles os transformam e devolvem, em forma de matriz para iogurte, para as tantas matérias primas que as multinacionais daqui buscam de lá. Boa parte dos queijos industrializados que se come, têm também esses componentes. Os fabricantes, perfilados à teoria globalizada de que não deve haver barreiras à produção, e o que que vale é a felicidade (leia-se lucro) do mercado, falam na "equivalência substancial” conceituada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para permitir o livre comércio internacional, sem que haja uma definição legal brasileira para ela.
O que se nota nesse acalorado debate, é a imposição de interesses, políticos e econômicos, em cima de um projeto que até pode ser bom, mas que ainda não mereceu a aprovação isenta da comunidade científica internacional. Isso sem falar nas restrições internacionais ao comércio de produtos modificados. Ninguém pode avaliar as consequências desses agentes no organismo humano, especialmente nas gestantes e nas crianças. Há quem fale em retardo, em dificuldades motoras e até em câncer. No caso de certas espécies de milho que oferecem por aí, nota-se que a propaganda da empresa ignora que o Zea mays tunicata tem no Brasil (MT e MS) seu centro de dispersão capaz de provocar dano à biodiversidade da superfície, conforme ensina o professor Sebastião Pinheiro (In: Os riscos dos transgênicos, Ed. Vozes, 2000, 61-92).
Sei que, por conta do mencionado Fórum, aquela operosa região vive a natural euforia dos transgênicos, como se todos os problemas da agricultura estivessem a um passo de se solucionar. Cuidado! Não quero ser "desmancha prazer” nem "joãozinho do passo certo”, mas por uma questão de consciência, como é meu feitio ético, quis passar a meus leitores o que ouvi, li e estudei em cursos e seminários. Não é fácil bradar "o rei está nu”, enquanto todos ao redor teimam em ver a beleza e a qualidade de suas imaginárias vestes”(4).
Uma pessoa da capital, conhecida minha, totalmente isenta, que esteve presente ao evento, informou haver notado que a tônica maior dos debates foi o aspecto econômico, a produtividade, conquista de mercados e o lucro. Ninguém, ou quase ninguém questionou o aspecto dos riscos dos transgênicos à saúde humana, ao meio-ambiente e à biodiversidade.
Notas:
(1) In: Riscos dos Transgênicos, Ed. Vozes, 2001.
(2) R. O. NODARI e M. P. GUERRA, Biossegurança de Plantas Transgênicas, apud Riscos dos Transgênicos, op. cit. Os autores da matéria são professores titulares do Departamento de Fitotecnia, no curso de pós-graduação em Recursos Genéticos Vegetais, da Universidade Federal de Santa Catarina.
(3) http://www.zenit.org ; E-mail: infoportuguese@zenit.org
(4) Artigo, sob o mesmo título, que publiquei no jornal Diário de Canoas (09/06/2003) e no Alto Jacui, de Ibirubá (06/06/2003), ambos no RS.
Foto: oliberario.org
Entende-se por transgênico um organismo que contém um ou mais genes transferidos artificialmente de outra espécie. Assim, transgenia, trans + gene, refere-se à mutação nos genes de algum organismo vivo. Um organismo transgênico é obtido quando se injeta um gene alheio no ovo fecundado ou nas células embrionárias que se geram nos primeiros estágios do desenvolvimento. Numa linguagem mais popular, pode-se definir transgênicos como "organismos criados em laboratórios, com técnicas de engenharia genética, que permitem ‘cortar’ e ‘colar’ genes de um organismo para outro, mudando sua forma e manipulando sua estrutura”.
Deste modo, transgênico é o gene adicionado ao genoma hospedeiro. Logo o novo caráter conferido por ele é transmitido à descendência. O principal legado da engenharia genética é a quebra das fronteiras entre as espécies, via transferência de genes entre espécies diferentes (transgenia), o que possibilita que qualquer ser vivo adquira novas características de vegetais, de animais ou até de humanos.
No aspecto político-econômico da transgenia, em tudo há que se enxergar o início de uma ofensiva total (made in USA), usando os três instrumentos mais importantes do poder econômico: a Organização Mundial de Comercio (OMC), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) – numa união de governos democraticamente eleitos, mas severamente prejudicados pela crise econômica. Desta vez, o objetivo não é o petróleo, mas obrigar o mundo a aceitar alimentos e cultivos modificados geneticamente. Os EUA e seus aliados do Primeiro Mundo, desejam que os chamados "países em desenvolvimento” (como no caso o Brasil) plantem (em a formalidade das pesquisas) as sementes transgênicas, para ver "que bicho vai dar”. Uma visão elementar da ética da saúde das pessoas pede que se tenha mais cautela ao aceitar tais alimentos.
O principal argumento daqueles que defendem o uso de transgênicos, que são principalmente as multinacionais agroquímicas, é que o uso desse novo método aumentará a produtividade e que será mais econômico para os pequenos agricultores. Essas empresas, principais produtoras de sementes transgênicas, têm patenteadas as técnicas de transgenia, e para utilizá-las, os agricultores terão que pagar royalties. Ora, isso faz com o produtor torne-se um escravo da empresa, isto é, terá que comprar toda a linha de produtos da mesma empresa. Os Estados Unidos são os maiores interessados na utilização da transgenia, já que a maioria das empresas que operam a biotecnologia são de lá. Quem descobriu a transgenia foi a China. De lá, pela biopirataria, a tecnologia veio para os EUA.
É lamentável a farra de produtos alimentícios modificados que se vê no Brasil. Aliás, não se vê, suspeita-se, pois as especificações de "produto modificado” nos rótulos (especialmente de alimentos infantis) são em letra tão pequena, que nem com lupa, em alguns casos, se consegue ler. Há dias, consegui descobrir num chocolate vendido aqui, de uma multinacional suíça, o agregado "soja modificada”. Ora, soja em chocolate já é um absurdo, transgênica, pior ainda.
Para ajudar o combate e a conscientização popular, o Greenpeace, a mais conceituada ONG ambientalista do mundo, está disponibilizando na sua página www.greenpeace.org.bro resultado de uma grande pesquisa feita junto às maiores empresas que fabricam alimentos no Brasil.
Nesse "guia do consumidor”, foram detectados produtos transgênicos em sopinhas infantis, papinha para nenê, farinhas de milho, fubá, milho para pipoca (em micro-ondas), farinha para polenta, mistura para pão de queijo, mistura para bolo, óleo de soja e de milho, molhos de tomate, mostarda, shoyu, maioneses, caldos em tabletes, sopas cremes, macarrão instantâneo, biscoitos (comuns e recheados), balas, chocolates em barra e em unidades, cobertura de bolos, bebidas achocolatadas, leites fermentados, iogurtes, bebidas lácteas, sobremesas cremosas, gelatinas, salsichas, apresuntados, margarinas, gorduras vegetais, salsichão, peito de frango e peru, patês, etc. Todos esses alimentos são altamente cancerígenos.
Vale a pena conferir nas páginas indicadas, para que se consiga, na busca da qualidade de vida, consumir alimentos naturais e não algo modificado quimicamente. É dever da bioética denunciar qualquer tipo de ameaça à saúde ou à vida humana, em especial das crianças. E o que se vê é uma ponderável gama de alimentos infantis eivados de transgênicos.
Com a palavra, os técnicos
Em uma semente geneticamente modificada há uma série de vírus (venenos químicos e biológicos) capazes de combater os inimigos naturais da planta. Esse processo traz uma ponderável economia em pesticidas, antifungos, e exterminadores de inço, gerando, sem dúvidas, lucro e aumento de produtividade. Disse acho, porque não sei a relação custo-benefício entre a semente normal, não modificada, mais o tratamento profilático, e o que custa a modificada, já com a "vacina” inclusa. Com a semente modificada há quase 100% de possibilidades de safra integral. E o efeito desses produtos no solo?
A rigor, nenhum dos pedidos de liberação comercial de produtos transgênicos está acompanhado de um estudo de impacto ambiental. Embora a matéria seja complexa, há o entendimento de que estes estudos são necessários conforme determinam o artigo 225 da Constituição Federal, a Lei Ambiental e a Resolução 237/97 do CONAMA, o que não teria sido observado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Com base no artigo 225 da Constituição Federal, há uma sentença judicial que exige o estudo de impacto ambiental, acompanhado do relatório de impacto no meio-ambiente, como condição indispensável para o plantio em escala comercial (em massa) da soja roundup ready (leia-se Monsanto). É interessante ler o que nos diz frei Sérgio Görgen:
"A primeira preocupação relativa aos transgênicos é com a saúde. Todos os alimentos transgênicos que nos querem enfiar goela abaixo no mercado brasileiro possuem um imenso grau de envenenamento – envenenamento dos alimentos e envenenamento da natureza, da terra. A repercussão que isso trará à saúde humana ninguém conhece. O que se sabe é que experiências feitas no Reino Unido, com ratos, demonstraram que a imunidade dos ratos que consumiram alimentos transformados geneticamente foi significativamente abalada, inclusive com diminuição do tamanho do cérebro desses ratos. (...)O segundo elemento é referente à questão do meio-ambiente. Não se tem segurança do que a transgenia, quer dizer, a modificação genética, pode trazer ao meio-ambiente. Pode criar problemas à chamada biodiversidade, isto é, pode arrasar com um enorme número de plantas que existem hoje na face da terra, fazendo com que o Planeta Terra fique mais pobre na sua vida, como também criar aquilo que chamamos de superinços, quer dizer, plantas que se tornam resistentes a venenos cada vez mais forte, até chegar ao ponto de nenhum mais matar”(1).
A grande verdade, e que confunde a muitos, é que melhoramento genético (que é salutar) não é o mesmo que transgenia (que é duvidoso). O melhoramento genético, ao estilo clássico, vem pela biotecnologia, empregada há várias décadas nas lavouras do Brasil e do mundo. O grande problema com os alimentos transgênicos é o risco que deles pode advir. Esse impacto precisa ser cuidadosamente avaliado. O que ainda não ocorreu.
"Plantas transgênicas ou OGM (organismos geneticamente modificados) são plantas que têm inserido em seu genoma uma seqüência de material genético (DNA) manipulado em laboratório por técnicas moleculares ou biotecnológicas. O DNA inserido pode ser da mesma ou de outra espécie. (...) A ameaça à diversidade biológica decorre da liberação de um OGM devido às propriedades do transgene ou de sua transferência e expressão em outras espécies. A adição de um novo genótipo numa comunidade de plantas pode proporcionar vários efeitos indesejáveis. A principal ameaça à espécie humana decorre de possíveis efeitos provocados pelo consumo de alimentos oriundos de plantas transgênicas”(2).
A Igreja não é contra!
Ante o drama da fome que sofre grande parte da humanidade, a Santa Sé pediu mais informações e que se aprofunde nos conhecimentos sobre os organismos geneticamente modificados (OGM). Assim anunciou o arcebispo Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício para a Justiça e a Paz, após a Conferência ministerial sobre Biotecnologia, que foi celebrada em Sacramento (Califórnia) de 23 a 25 de junho de 2003. A Igreja não é contra o uso dos transgênicos, conforme teimam em afirmar alguns detratores ou mal informados. Ela apenas deseja que a comunidade científica declare que a utilização de OGM não é prejudicial ao homem, aos animais e à natureza.
"A Santa Sé compreende a urgente necessidade de oferecer segurança alimentícia a todas as pessoas, especialmente às que sofrem por causa da pobreza, da fome e da má alimentação”, afirmou o prelado em sua intervenção na Conferência. "A presença de uma delegação na reunião ofereceu à Santa Sé a oportunidade de observar, escutar os testemunhos de especialistas e poder aprender sobre os diferentes programas e projetos que envolvem o uso de OGM”, reconheceu. "Saciar a fome é essencial. Encontrar meios para consegui-lo é um imperativo. Ao mesmo tempo, a Santa Sé continua estudando o mais amplo uso de organismos geneticamente modificados”, revelou. "A informação que foi recolhida será muito útil para que a Santa Sé desenvolva uma visão clara sobre o uso dos OGM”, explicou Dom Martino. Estas declarações foram colhidas junto ao site Zenit – o mundo visto de Roma(3).
Por seu interesse em conclaves desse tipo, fica evidenciada a preocupação da Igreja com a questão dos transgênicos. A informação leva à participação, e a participação enriquece. O uso de OGM – afirma a Igreja – necessita ser amplamente discutido de maneira que se possa tomar decisões, sensatas e bem formadas a favor dos que recebem e utilizam estes produtos. Isto permitirá a estas pessoas seguirem no caminho para um desenvolvimento sustentável.
A reunião de Sacramento, da qual participaram ministros de agricultura, cientistas e agentes sanitários de mais de cem países, se caracterizou pelo confronto de posições entre a União Europeia (que não enviou ministros) e os Estados Unidos. Rússia e os EUA nesta matéria têm visões opostas.
A euforia dos transgênicos
Por oportuno, e vinculado ao assunto, transcrevo uma matéria que publiquei em jornais, em junho de 2003 (dez anos atrás): "Ibirubá (295 km de POA) acolheu, em maio/2003, o I Fórum Nacional da Soja Transgênica, onde foram debatidos assuntos ao plantio com sementes modificadas (transgênicas). Fui convidado a participar do evento, mas uma atividade anteriormente agendada me impediu. Como assessor da Comissão Especial de Bioética, eu venho estudando já há algum tempo o problema dos alimentos geneticamente modificados. Não tenho "outros interesses” nem me incluo no rol dos "inocentes úteis”, por isso sinto-me à vontade de discorrer sobre o tema. O que se busca com a transgenia das sementes? Aumentar a produção! Ótimo! Aumentar o lucro, os ganhos! Melhor ainda! A que preço, em termos de saúde futura dos consumidores? Ninguém sabe! E como ninguém sabe a extensão dos riscos de uma mutação desse porte, seria recomendável um mínimo de bom senso, e não apenas se atirarem à fábula, com a avidez de quem só pensa no lucro.
Uma semente transgênica é um coquetel, sabe-se lá de quê. Imune às pragas e a outros assaltos, mas recheada de vírus, que não se sabe quais suas consequências, a médio prazo (falo em 6-10 anos) à população. Estou escrevendo um livro, que ficará concluído no fim do ano, "Bioética, a ética a serviço da vida”, no qual dedico um capítulo exclusivo à manipulação genética das sementes. Não se pode ver as coisas só pelo lado da produção e do lucro. A ética se impõe, prioritariamente. Um deputado que se manifestou, na azáfama deslumbrada da tardia descoberta da pólvora, equivocou-se ao unir os juízos "transgênicos” e "fome zero”. Do milho que se colhe, 10% vai para o consumo humano; 30% para o animal e 60% para as indústrias e para a exportação. Com a soja, quase 100% vai para o exterior.
O problema é que os países ditos civilizados, não consomem produtos modificados, eles os transformam e devolvem, em forma de matriz para iogurte, para as tantas matérias primas que as multinacionais daqui buscam de lá. Boa parte dos queijos industrializados que se come, têm também esses componentes. Os fabricantes, perfilados à teoria globalizada de que não deve haver barreiras à produção, e o que que vale é a felicidade (leia-se lucro) do mercado, falam na "equivalência substancial” conceituada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para permitir o livre comércio internacional, sem que haja uma definição legal brasileira para ela.
O que se nota nesse acalorado debate, é a imposição de interesses, políticos e econômicos, em cima de um projeto que até pode ser bom, mas que ainda não mereceu a aprovação isenta da comunidade científica internacional. Isso sem falar nas restrições internacionais ao comércio de produtos modificados. Ninguém pode avaliar as consequências desses agentes no organismo humano, especialmente nas gestantes e nas crianças. Há quem fale em retardo, em dificuldades motoras e até em câncer. No caso de certas espécies de milho que oferecem por aí, nota-se que a propaganda da empresa ignora que o Zea mays tunicata tem no Brasil (MT e MS) seu centro de dispersão capaz de provocar dano à biodiversidade da superfície, conforme ensina o professor Sebastião Pinheiro (In: Os riscos dos transgênicos, Ed. Vozes, 2000, 61-92).
Sei que, por conta do mencionado Fórum, aquela operosa região vive a natural euforia dos transgênicos, como se todos os problemas da agricultura estivessem a um passo de se solucionar. Cuidado! Não quero ser "desmancha prazer” nem "joãozinho do passo certo”, mas por uma questão de consciência, como é meu feitio ético, quis passar a meus leitores o que ouvi, li e estudei em cursos e seminários. Não é fácil bradar "o rei está nu”, enquanto todos ao redor teimam em ver a beleza e a qualidade de suas imaginárias vestes”(4).
Uma pessoa da capital, conhecida minha, totalmente isenta, que esteve presente ao evento, informou haver notado que a tônica maior dos debates foi o aspecto econômico, a produtividade, conquista de mercados e o lucro. Ninguém, ou quase ninguém questionou o aspecto dos riscos dos transgênicos à saúde humana, ao meio-ambiente e à biodiversidade.
Notas:
(1) In: Riscos dos Transgênicos, Ed. Vozes, 2001.
(2) R. O. NODARI e M. P. GUERRA, Biossegurança de Plantas Transgênicas, apud Riscos dos Transgênicos, op. cit. Os autores da matéria são professores titulares do Departamento de Fitotecnia, no curso de pós-graduação em Recursos Genéticos Vegetais, da Universidade Federal de Santa Catarina.
(3) http://www.zenit.org ; E-mail: infoportuguese@zenit.org
(4) Artigo, sob o mesmo título, que publiquei no jornal Diário de Canoas (09/06/2003) e no Alto Jacui, de Ibirubá (06/06/2003), ambos no RS.
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