Aprontando-se para integrar a União Europeia, em 1º de julho, Zagreb lançou um vasto programa de privatizações que atinge em particular uma de suas indústrias mais antigas: a construção naval.
Jean-Arnault Dérens
Jean-Arnault Dérens
Estaleiros vendidos ou falidos
Enfim, o Estado croata liquida suas empresas. E, na falta de comprador para Kraljevica, decretou-se a falência dos estaleiros. Apenas a privatização dos estaleiros de Trogir se deu com relativo sucesso. Um cais será transformado em marina e centro de reparação de iates, enquanto a produção de navios será mantida. Essa pequena instalação foi comprada por um investidor croata, Danko Končar. O Estado participará de sua reestruturação com 60 milhões de euros em cinco anos. O acordo assinado em maio/abril prevê a diminuição do corpo de funcionários de 1.200 para novecentas pessoas. Otimista, o engenheiro Slavko Bilota sublinha que as aposentadorias obrigarão a empresa a contratar novos funcionários.
A situação dos estaleiros de Split se revelou complicada após sua aquisição pelo grupo DIV, por uma soma simbólica – 500 mil kunas (R$ 200 mil). Propriedade do empresário Tomislav Debeljak, a empresa não comunicou nenhum planejamento sério sobre o relançamento das atividades. Por outro lado, confirmou no início de junho que a quase totalidade dos 3.150 funcionários será demitida. Cerca de 1,5 mil funcionários serão recontratados por contratos temporários, segundo critérios ainda incertos. O DIV também promete recrutar quinhentos ex-funcionários, mas também em regime temporário. A vila operária de Split não se deixa vencer facilmente, mas o novo dono indiciou dirigentes sindicais por “violências”, e eles foram proibidos de ingressar no local.
Apostar tudo no turismo?
A identidade de Istrie é igualmente indissociável dos estaleiros de Uljanik, em Pula. Nessa pequena região de 200 mil habitantes, a construção naval representaria ainda cerca de 30 mil postos de trabalho diretos ou indiretos. Aqui, a produção não parou e o caderno de encomendas permanece cheio, apesar do fim dos subsídios públicos em 2006. Uljanik chegou até a se candidatar à compra dos estaleiros 3-Mai, em Rijeka. Mas o futuro industrial de um grupo como esse permanece incerto. Mais que a ferramenta de produção industrial, é sua localização que suscita controvérsias: a pequena ilha de Uljanik está no coração da Baía de Pula, em frente ao calçadão que contorna o mar e as arenas romanas da cidade. Por enquanto, o futuro turístico de Pula reside em Muzil, uma antiga base militar criada em 1859 pela frota austro-húngara, utilizada pelos marines iugoslavos, depois pelos croatas e desativada desde 2007. No local, os habitantes da vila passeiam, tomam banho de mar, pescam, fazem piqueniques ou organizam festivais alternativos. Um projeto prevê sua privatização e transformação em complexo turístico de alto luxo, com um hotel de 2.500 leitos, campo de golfe, marina etc.
A morte programada dos estaleiros navais levará a cabo o processo de desindustrialização do país. A Croácia pode apostar tudo no turismo? As regiões litorâneas são as mais afetadas pelo desemprego, que atinge oficialmente 22% da população ativa e um terço da população com menos de 25 anos. Muitos jovens precisam se contentar com pequenos bicos, que em geral não pagam mais de 20 euros ao mês. Para Šegvić, a Croácia entra na União Europeia “sem nenhuma preparação real”: “Nossa economia foi devastada e não temos nada a oferecer além de serviços aos países da rica Europa do Norte. Na União Europeia, a Croácia será um país de segundo escalão, como todos os Estados da Europa do Sul”.
Jean-Arnault Dérens redator-chefe do Courrier des Balkans.
Ilustração: Iturrusgarai
1 Ler Loïc Trégourès, “Croatie: le Hajduk Split fête cent ans de football et d’histoire” [Croácia: o Hajduk Split festeja cem anos de futebol e história], Le Courrier des Balkans, 18 fev. 2011.
2 Ler Diane Masson, “Croatie. Dernière ligne droite vers l’Union européenne” [Croácia, na reta final para a União Europeia], Grande Europe, n.14, nov. 2009. Disponível em: <www.ladocumentationfrancaise.fr>.
2 Ler Diane Masson, “Croatie. Dernière ligne droite vers l’Union européenne” [Croácia, na reta final para a União Europeia], Grande Europe, n.14, nov. 2009. Disponível em: <www.ladocumentationfrancaise.fr>.
Nenhum comentário:
Postar um comentário