Afonso Locatelli, um descendente de italianos como milhares e milhares de capixabas, nasceu, mora e trabalha lá de São Roque do Canaã, hoje ele é conhecido nacionalmente pela produção artesanal de tonéis de madeira para armazenar cachaça e vinho. Faz tonéis de dois a vinte mil litros. A fama de competência foi vindo na medida exata que os seus tonéis chegavam ao destino final. Eles estão em praticamente todos os Estados do Brasil. O sucesso não veio de imediato ou caiu do céu, ele chegou por força do trabalho e pelo uso que os compradores faziam da encomenda.
Eu cheguei até a indústria de Afonso não somente por indicação de algumas pessoas amigas. Eu lá fui guiado, principalmente pela visão que tive em muitos alambiques que ia conhecendo pelo interior do Estado. Tonéis bem feitos e cumprindo a sua sagrada missão (guardar bem e preservar a cachaça). Sempre tinha a mesma resposta sobre sua procedência: quem fez foi o Afonso Locatelli, lá de São Roque do Canaã. Não tive nenhuma dúvida, um dia eu iria até lá. Não demorou muito para bater na porta da casa de Afonso e Maria José.
Não é preciso nem dizer que o Jornal do Campo da TV Gazeta registrou o trabalho do Afonso Locatelli. No ar a reportagem foi o maior sucesso, coisa natural quando se tem uma mensagem dita por quem preenche por completo o slogan do programa: aqui fala quem faz.
Recentemente Afonso passou a produzir a cachaça Suprema, daquelas que a gente não toma apenas uma. Um velho sonho realizado, produzir a sua cachaça, ser dono de um alambique. Outro dia passado por São Roque fui bater ponto na casa da família Locatelli. Conversa vai conversa vem ouvi uma história que é mais ou menos o seguinte:
È comum no final de tarde no interior as pessoas visitarem os conhecidos. Num dia qualquer do ano passado Afonso tinha na sua varanda três amigos produtores de cachaça. Uma quarta pessoa chega e vai direto a ele: eu vim pegar a minha encomenda. Eram 150 litros da cachaça. Como tudo já estava acertado, foi o tempo de colocar encomenda no carro e dar um cheque de 750 reais. Como entre amigos não existe ou não deve existir segredo, os amigos ficaram sabendo o valor que Afonso havia recebido por litro.
O freguês satisfeito com a compra despediu-se, deu partida no seu carro e tomou seu rumo. Assim que Afonso retornou a varanda ouviu a seguinte colocação:
-Para eu conseguir 750 reais numa venda de cachaça que você acabou de fazer, além de ter de levar a mercadoria no comércio ou no endereço que o freguês me indicar: tenho de entregar 150 litros várias vezes.
Afonso me disse que ao ouvir a colocação do amigo, não teve dúvida: ele não falava somente por si, mas pelos três. Olhou para o grupo e falou:
- Quando resolvi montar o meu alambique, durante a sua construção e desde a primeira destilação, até hoje, nunca e em momento algum eu pensei em vocês. O meu objetivo era outro, eu pensava no meu cliente futuro. Imaginava que o meu comprador deveria receber uma cachaça de qualidade, se bem recebido e atendido na minha casa, para voltar sempre e repetir a encomenda.
Nós que moramos num Estado que tem gente com a competência, visão e simplicidade de realização de um Afonso Locatelli, deveríamos todos os dias refletir: será que ao meu lado tem uma pessoa que merece um elogio, um reconhecimento e um apoio de minha parte? Sou omisso ou reconheço o valor? Bato palmas ou alimento a inveja? Alegrar com a alegria dos outros é um ótimo caminho.
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