segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

HISTÓRIA DO CAFÉ CONILON NO ESPIRITO SANTO -1


              “Ainda há pouco, quando estive no Rio de Janeiro, fiz aquisição de duas mil mudas e cincoenta litros de sementes de uma excelente qualidade de café, o “Conillon”, estando todas elas já distribuídas.”
            Esta citação está no relatório final do mandato do Governador Jerônimo de Souza Monteiro, que dirigiu o Espírito Santo de 1908 a 1912. Como se fosse uma profecia o Governador além de trazer e distribuir, ainda afirmava que a qualidade do café era “excelente”. Jerônimo foi um governante bem próximo do meio rural, com quem mantinha ótimas relações.
Para onde foram as mudas e as sementes do Conilon de Jerônimo Monteiro? Para pergunta é preciso realizar mais pesquisas nos documentos oficiais da época.
Na década de 80 conversando com o produtor Luiz Machado, proprietário da Fazenda das Flores, Castelo, sul do Estado, ele me relatou que das duas mil mudas do Conilon pelo menos oitenta foram levadas para Castelo. Ele ainda afirmou que viu quando menino o lote de mudas virar uma lavoura de oito mil pés e desta lavoura formaram-se outras lavouras. Falou também que algumas mudas foram encaminhadas para a comunidade de Monte Alverne, com uma altitude bem maior que na Fazenda das Flores, mas que elas não tiveram vida longa.
Quando nas décadas de 40 e 50 centenas de famílias do Sul do Estado se deslocaram para o Norte em busca de novas áreas para trabalhar, elas levavam na mudança, além de mudas de café arábica, mudas do Conilon originárias do lote doado por Jerônimo Monteiro, me afirmou seu Luiz Machado, que foi líder rural e chegou a ser Secretário da Agricultura na década de 50.
O Conilon sobreviveu praticamente como um clandestino até a grande erradicação ocorrida na década de 60. Falava-se até que o Conilon era veneno. A sua aparição como realidade econômica ocorre com a crise provocada com a erradicação das lavouras de café. Aqui aparece o polonês Eduardo Glazar, de São Gabriel da Palha, que vendo as conseqüências nefastas que a erradicação das lavouras havia deixado, conhecedor da existência do Conilon, fez o plantio e quando prefeito de São Gabriel da Palha ampliou a sua ação. Na Prefeitura continuou a sua ação e o seu sucessor Dário Martinelli prosseguiu. Eduardo voltou a ser prefeito e novamente foi substituído por Dário. Mantiveram a política de apoio irrestrito ao plantio do Conilon. Logo em seguida apareceu o financiamento para o plantio de café arábica em área acima de 400 metros de altitude. São Gabriel da Palha estava fora, porque a totalidade de sua área fica abaixo de 400 metros. Por ação da lavoura capixaba e dos representantes na Junta do Instituto Brasileiro do Café (IBC), Eduardo Glazar e Jair Coser, o Conilon passou a ter financiamento para o seu plantio.
No ano de 1975 foi realizada a primeira previsão oficial feita pelo IBC da produção do Conilon, que ficou com uma safra de 200 mil sacas. A atual foi estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 8,5 milhões de sacas.  Neste ano de 2011 a produção ficou em 8,5 milhões de sacas, um indicador de que milhares de pessoas estão trabalhando nas lavouras. O Conilon tem um importante peso na nossa vida econômica e social. Os demais estados produziram 2,8 milhões de sacas, sendo que toda tecnologia que usaram é capixaba, como grande parte dos proprietários, principalmente em Rondonia e Bahia.
Neste cenário temos dois pontos interessantes de serem comentados. O primeiro é de como chegamos a esta situação e como nós a entendemos. Na realidade os dois pontos convergem para um mesmo ponto: damos o devido valor e importância à nossa cafeicultura?
O grande passo no Conilon foi dado pelos técnicos do setor público estadual, por meio de pesquisas e experimentos que levaram o Espírito Santo ser destaque em todo Mundo. Uma gente que trabalhou duro e ganhou prestígio internacional, mas o ganho real interno não foi proporcional ao sucesso da lavoura até o consumidor final, passando pelos cafeicultores, comerciantes locais e exportadores. O Conilon faz parte da identidade, do imaginário e da realidade capixaba, sem ele a nossa agricultura seria de segunda classe? Tenho dúvidas qual seria a nossa classificação.
ronaldmansur.blogspot.com

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