Nair Coelho dos Santos nos deixou, foi morar nas estrelas e de lá observa e faz os seus sábios comentários. De fala mansa e certeira, sempre colocava a sua posição, nunca um ponto final. Fazia de maneira a abrir um parágrafo a quem desejasse prosseguir a conversa, a vida. Assim era Nair Coelho dos Santos.
Certamente que a grande maioria das pessoas que lêem este texto não conheceu Nar Coelho dos Santos? É fácil para eu explicar, não sei se será de igual modo para os que estão lendo este texto: mas quem é esta mulher. Ela era uma cachoeirense que conheci no finalzinho da década de 60. Quando a conheci, a sua casa era habitada por uma população fixa e original de dez pessoas, ela e cinco filhas e quatro filhos. Mas a população flutuante que também girava em torno dela era imensa, maior que a população original. Eram os filhos do coração. Sempre havia lugar, não para mais um, mas para todos que chegassem. Eu me incluo neste grupo de agregado, tenho a certeza de que era o décimo filho. Mas tenho consciência de que muitos e muitos se consideram o seu décimo filho ou filha. Disputa dura.
A casa de Nair era território livre e sagrado em Cachoeiro de Itapemirim. O grupo ligado a ela pelo sentimento de liberdade, fraternidade e solidariedade era maior que o seu clã familiar. Éramos invasores e ocupávamos um espaço dos filhos e filhas de sangue.
Quando os filhos começaram a deixar Cachoeiro com destino a Vitória, ela tomou o mesmo rumo. Imagino como deve ter sofrido ver o seu núcleo familiar dividido. Ela acompanhou o grupo que saiu, com a intuição de mãe a proteger filhos e filhas. Ela veio para a terra estranha. Uma nova jornada.
Vieram os netos, que também gravitaram em torno de Nair. Vieram os netos dos agregados. A ligação era tão grande que meus filhos sempre falam vovó Nair. Recebi de Kátia Coelho dos Santos, filha de Nair, um texto maravilhoso e comovente, da lavra de Poliana, neta de Nair. Com alegria e emoção divido este espaço com Poliana, com dois parágrafos que seguem:
-Sabias como ninguém fazer sabedorias, e para nós era difícil entender de onde vinham. Se dos diversos livros que amavas, se do trabalho ao qual tanto se dedicou, se dos encontros que teve com esta família, destino de seus maiores e mais cuidadosos afetos. Se das mais diversas peripécias que os muitos que compartilhavam de sua casa colocavam em funcionamento. Muitos de sangue, é verdade, porém, outros muitos mais que em sua casa estavam porque dali algo nascia, se movimentava.
-Uma força, uma inquietação. Um vigor e curiosidade por tentar fazer da casa, espaço que para muitos retringe-se apenas ao particular, ao que se justifica na privacidade e no segredo, lugar de crescimento, de população de sentimentos e pensamentos. De chamar os que precisassem ou quisessem experimentar a mesa e a comida da casa de Dona Nair. Dali saíam todos bem alimentados. Dos pratos deliciosos da vovó e das conversas que iam de política à literatura, passando pela música, artes e futebol.
Aproveitando o final deste espaço, chamo Poliana para definir a vovô Nair: de seu pequenino tamanho pouco ultrapassou, mas suas mãos e seus abraços... Ah! eram feitos com a matéria prima mais ilimitada, mais dançante e sorridente.
Não é preciso dizer mais nada sobre esta mulher, Nair Coelho dos Santos.
ronaldmansur@gmail.com
Obrigada, Ronald.
ResponderExcluirBetânia
Ela era demais. foi uma grande amiga e mestra na arte da vida.Era prática,objetiva e certeira.Os seus comentários e análises eram definitivos.
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