Tem certas coisas que a gente ouve, vê, participa e até mesmo passa a tomar conhecimento por meios de terceiros, que nos faz carregá-las para sempre. Vira e mexe tá aquelas ‘’certas coisas’’ a batucar diretamente na nossa cabeça. Comigo este fato sempre acontece com frequência. Eu não sei se é por dever de ofício de ser jornalista - temos ouvir muito mais do que falar ou registrar – é juntar a quantidade para tentarmos chegar a uma qualidade.
Não faz muito tempo a filosofa capixaba Viviane Mosé, em entrevista a Jô Soares, comentou que existem duas situações no cotidiano das pessoas e dos grupos, que mostram com clareza o relacionamento e forma que se leva a vida. Viviane com a sua habilidade verbal, de quem está acostumada e vivenciada no contato com grupos de pessoas, falou sobre a forma e o pacto.
Segundo ela forma é uma situação onde a relação entre as pessoas é baseada numa ilusão de ótica. Pelo menos foi o que entendi. Seria uma situação em que duas pessoas estivessem conversando normalmente. Mas uma terceira pessoa ao presenciar aquele encontro, poderia imaginar o paraíso. São gentilezas, elogios, massagens nos egos e todos belos adjetivos imagináveis.
No que diz respeito ao pacto, Viviane me levou a imaginar um confronto feroz de idéias, pontos de vista e posições sobre determinado assunto. Quem chegasse repentinamente e desavisado, logo imaginária que de uma hora para outra iria presenciar um confronto que saltaria das palavras e dos argumentos, para a confrontação física. Um duelo estava para começar e certamente teria vítimas.
Fico a imaginar com relação ao item da forma. Quantas e quantas vezes pessoas convivem e se relacionam dentro da forma da mentira, mas revestida de um caráter cretino e mesquinho. Um superior hierárquico falando para o subordinado de uma forma carinhosa, quem escuta apenas parte da conversa, não imagina que mais tarde vai ficar sabendo de ali estava sendo consumada uma demissão, ou como se diz no popular: estava sendo iniciada mais “fritura”. Existe a situação em que o subordinado em relação ao superior hierárquico estava apenas a fazer o jogo da forma visual, mas com o objetivo de ir sempre um pouco mais adiante – do tipo engana que ele gosta.
Viviane quando voltou a falar do pacto, fiquei a imaginar e disto sempre volto a imaginar as relações entre pessoas, delas com os chefes, nas famílias ou nas empresas. Imaginei confrontos e debates quando se tem como ponto principal o pacto, que aqui poderia ser substituído por meta, compromisso, objetivo comum ou coisa que o valha e, ou que tenha o mesmo significado de estamos efetivamente no mesmo barco.
Sempre me vem à memória a figura do agricultor filósofo João Martins, lá de Cachoeirinha, Rio Novo do Sul, que tem uma casa que dá fundos para um rio que é abastecido por um grande número de nascentes, sendo que muitas destas nascentes são de áreas que o seu pai Marcelino começou a reflorestar há mais de 80 anos, mas que ele pactuado com a visão do pai vai seguindo plantando. Este mesmo João Martins, outro dia vendo uma manifestação de um pequeno grupo estudantes em frente à Assembléia Legislativa, foi rápido e taxativo: precisamos de gente que abracem as causas. Eu entendi como: precisamos de mais pactos de gente. Lá estava meu filho Vinícius de Andrade Mansur, era um no pequeno grupo.
Viviane, obrigado pelas palavras e pelo teu sentimento na entrevista com Jô Soares, mas estou na expectativa de que volte ao tema, e que o faça crescer e que todos nós o espalhemos.
ronaldmansur@gmail.com
Interessante o texto. Tentei achar a entrevista da Viviane Mosé no Youtube, mas ainda não está publicada. Abraço.
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