Às 7 horas da manhã
estávamos reunidos no pátio do Liceu Muniz Freire. As veteranas estavam alegres
e satisfeitas: nós, calouras, também sentimos alegria e satisfação, mas um
tanto acanhadas e desconfiadas.
Depois da sineta
deu-se o grito de comando e a turma formou. Então apareceu o Diretor e falou e
alguns minutos e mandou que fôssemos para o salão.
Cumprindo as ordens do
Diretor e logo após iniciou a festa.
Recitativos e hinos
pelas veteranas, castigos pelas calouras, etc.
E por fim apareceu um
professor muito grande, que fala muito explicado, e mandou que as veteranas
dessem um trote nas calouras. Para as veteranas uma alegria, mas para as
calouras eu não sei explicar muito bem o que foi, mas suponho que tenha sido
uma surpresa.
Bem, depois de muita festa,
fomos novamente para o velho e racional pátio, quando chegamos lá nova surpresa
o portão fechado.
Eu e outras companheiras
estávamos conversando a respeito do trote quando uma veterana nos interrogou
interrompeu dizendo: tire o bolero! Abaixe sua gravara meia! Desamarre a
gravata! Falou tudo com tanto entusiasmo que parecia mais um soldado falando a
uns prisioneiros.
Nós ficamos um tanto
pensativas sem supor o que seria aquilo, quando uma da nossa turma gritou: É o
trote
E ai começou.
As veteranas
perseguiram as calouras como urubu na carniça.
Mas poucos minutos
depois nós já estávamos sob o domínio das veteranas: veio então uma veterana
tipo ‘’urubu rei’’ e mandou que ficássemos em forma. Mas as calouras já estavam
com vontade de brigar e não obedeceram. Daí a pouco o portão abriu e nós viemos
prá rua fazer um barulho infernal. Afinal, nós mostramos às veteranas que as calouras
deste ano não são tão burras quanto elas supunham. E eu ainda dou nosso grito
de glória: - Nem todo calouro é burro.
Nair Coelho, 9 de
abril de 1937
Jornal Socega Leão.
Número 1, ano 1. 9 de abril de 1937.
Na apresentação
jornal a estudante Zenith Azevedo , colega de Nair, fala: Querendo o Dr. Newton
Braga fundar em nossa turma um jornalzinho, para isso era necessário escolher
um nome. Depois de uma prolongada eleição, o nome preferido pela maioria dos
calouros foi: Socega Leão.
Trouxe este nome um certo
descontentamento entre colegas, achando alguns, não ser este título adequado
para um jornal de estudantes. Mas, como possuía uma maior quantidade de votos,
ficou sendo o vencedor.
Não havendo
tipografia no colégio, tivemos necessidade de fazê-lo escrito a mão e para esse
cargo foi eleita a nossa distinta colega Nair Coelho, que com seus esforços e
seu bom gosto há de fazer ir avante a nossa distração de estudante. O nosso
jornal tem por fim cogitar das cousas alheias, mas de maneira a não ofender. Aquele
que não quiser ser criticado que ande na linha, porque não havemos de dar
folga.
Zenith Azevedo
Eleita em classe para
redigir este artigo de apresentação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário