petróleo, estúpido!
Um dos principais motivos pelos quais o Iraque ainda continua a ser visto como Zona de
Guerra pode ser encontrados nas dezenas de contratos de longo prazo para exploração dos
campos de petróleo por empresas estrangeiras (cerca de 60% das reservas). Tudo isso
reforça a necessidade de maior segurança em um país que ainda está lutando para formar
um governo após as disputadas eleições de março. Incapaz de impor uma solução militar e,
muito menos, transformar o país em um modelo dos valores ocidentais a ser difundido para
região, como se previa no início da guerra, os EUA tentam evitar uma retirada humilhante ao
estilo Vietnã.
Reginaldo Nasser (*)
No dia 02/08/2010, exatamente 20 anos após a invasão iraquiana do Kuwait, que motivou a 1ª
guerra no Golfo em 1991 e o início do envolvimento direto dos EUA no Oriente Médio, o presidente
Barack Obama anunciou que, tal como já estava planejado desde sua campanha eleitoral, os EUA
deverão decretar o final das operações de combate no Iraque até 31 de agosto de 2010. Mas é difícil
acreditar que o envolvimento militar dos EUA no Iraque vai acabar. A previsão é que haverá uma
redução do número de soldados americanos de 90 para 50 mil "não-combatentes" até 2011. Mas o
que significa exatamente não-combatentes?
Trata-se muito mais de uma distinção política do que militar. Essas tropas deverão orientar
operações de luta contra o terrorismo, proteger os civis, treinar, assessorar e supervisionar Forças
de Segurança iraquianas ainda extremamente dependentes dos EUA. É também um exercício de
semântica, pois o que atualmente é denominado operações de combate será chamado de
"operações de estabilidade." Aliás, não se pode perder de vista o fato de que o número de empresas
de segurança tem aumento nos últimos anos (ver A privatização da segurança e a democracia nos
EUA Data:25/07/2010).
Aliás, alguns trechos do discurso de Obama deixam clara essa posição alertando para o fato de que
redução de tropas “não significa uma redução do compromisso dos EUA com o Iraque”, mas sim
uma mudança na natureza do compromisso.
O ex-oficial do Exército EUA e agora professor de relações internacionais da Boston University,
Bacevich, observa que Obama esta sendo dominado por aquilo que denominou "consenso de
Washington", uma associação entre a segurança nacional e ação internacional por meio de uma
política de guerra permanente ao redor do mundo. Uma característica-chave dessa guerra travada
em todos os domínios (militar, intelectual, política e cultural) é que fiascos da política externa não
podem ser permitidos pois provocam questionamentos sobre o sentido da política EUA. os líderes do
establishment de segurança nacional trabalham com afinco, fazendo-nos acreditar que quaisquer
eventuais erros nas guerras devem ser reconhecidos como erros de execução, e nada mais. Não se
pode permitir que ocorram outras “síndromes do Vietnã” que inibiriam o apoio da opinião pública
norte-americana para novas eventuais guerras. (Irã, por exemplo). “Revoluções no Mundo Árabe e Islâmico: Regimes Políticos, Síria e Irã - 2012
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Provavelmente, um dos principais motivos pelos quais o Iraque ainda continua a ser visto como
Zona de Guerra pode ser encontrados nas dezenas de contratos de longo prazo para exploração dos
campos de petróleo por empresas estrangeiras (cerca de 60% das reservas). Tudo isso reforça a
necessidade de maior segurança em um país que ainda está lutando para formar um governo após
as disputadas eleições de março.
Incapaz de impor uma solução militar, e muito menos transformar o país em um modelo dos valores
ocidentais a ser difundido para região, como se previa no início da guerra, os EUA tentam evitar
uma retirada humilhante ao estilo Vietnã. Para isso nada mais conveniente do que criar uma nova
forma de regime de protetorado para manter seu domínio sobre o país e a região.
Ensaia-se um novo tipo de ocupação econômica após essa “retirada”. No início deste ano, o FMI
aprovou um empréstimo de US$ 3,6 bilhões para o Iraque, vinculado a um conjunto rigoroso de
condições, incluindo uma ampla campanha de privatização e uma redução significativa nos gastos
públicos.
Walter Mead, um intelectual conservador, fez uma observação extremamente pertinente sobre o
poder econômico qualificando-o como um sticky power (poder pegajoso), que não se baseia nem na
coação militar (hard power), nem na identificação de valores (soft power); mas num conjunto de
instituições e práticas econômicas que têm a capacidade de atrair outros Estados para a órbita de
influência norte-americana. Esse poder está fundamentado sobre dois pilares, sistema monetário
internacional e livre comércio, que propicia aos países construir instituições que dão confiança aos
investidores estrangeiros, em concorrência com as propostas de investimentos estatal para o
desenvolvimento de suas economias.
Um outro intelectual conservador norte-americano, Niall Ferguson, escreveu um art
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