Elas cobram 70% menos que o oligopólio financeiro e fazem sucesso pelo mundo. Aqui, adivinhe quem quer torná-las clandestinas
Por Daniela Frabasile
Dezenas de milhões de brasileiros contratam todos os anos serviços de seguros – e sentem-se frequentemente lesados por eles. Os prêmios (valores pagos para segurar um bem, ou a própria vida) são considerados abusivos; o setor é controlado por pouquíssimas empresas financeiras, cujos lucros são bilionários. Há quem suspeite que, em alguns casos, elas envolvem-se com quadrilhas (de roubo de automóveis, por exemplo). Nos últimos anos, finalmente, surgiu uma alternativa.
São as cooperativas de seguros, mais uma inovação impulsionada pela internet. Ao invés de contratarem a proteção de um intermediário financeiro, grupos de pessoas associam-se e contratam, entre si, a reposição de bens eventualmente perdidos. O sistema baseia-se em uma mensalidade e no rateio, entre todos os associados, dos prejuízos materiais sofridos. Diferente do seguro comum, em que o usuário paga para cobrir possíveis danos futuros, os associados pagam pelo dano que já aconteceu.
A vantagem é enorme. No Brasil, as despesas de seguros de automóveis chegam a ser 70% mais baratos que os cobrados pelas operadoras tradicionais – certamente porque estes embutem lucros extravagantes. A novidade está se espalhando. Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), os proprietários de mais de 1 milhão de carros optaram pelas cooperativas, cujos serviços são chamados de “proteção veicular”.
Este sucesso pode custar caro. Agindo como um cartel, o oligopólio das seguradoras que colocar as cooperativas na ilegalidade. Para isso, conta com o Estado e a mídia. O braço estatal é a Susep, Superintendência dos Seguros Privados. No ano passado, o órgão passou a qualificar os serviços prestados pela proteção veicular como “seguros pirata”.
Como não foi suficiente, a mídia foi acionada. Esta semana, pelo menos um dos jornais matutinos da Rede Globo produziu vasta matéria, “alertando” os usuários sobre os supostos “riscos” a que estariam expostos, em caso adesão às cooperativas. A reportagem não foi capaz de apresentar um único exemplo de consumidor insatisfeito.
A truculência do setor de seguros no Brasil contrasta com a naturalidade com que a inovação foi recebida, por exemplo, na Alemanha – talvez o país do mundo em que a cultura de segurar bens é mais difundida. Lá existe, há anos, a Friendsurance, associação alemã que permite ao segurado conectar-se com outros, formar grupos de ressarcimento recíproco e obter descontos progressivos, à medida em que inclui mais usuários no sistema.
Segundo o Friendsurance, que já virou tema de matéria na prestigiada The Economistesse tipo de seguro acaba sendo mais barato também por inibir algo frequente no setor: as fraudes. Por se conhecerem, as pessoas sentem-se constrangidas em prejudicar outros membros do grupo. Outra vantagem é a redução no custo das vendas, uma vez que essa forma de serviço multiplica-se de modo viral, de pessoa para pessoa.
Não haverá na Alemanha, provavelmente, uma rede de TV que se preste a demonizar o Friendsurance; ou um órgão público que procure colocá-lo fora da lei. No Brasil, a Susep faria melhor se fiscalizasse o novo serviço, ao invés de tentar inviabilizá-lo; e se tentasse verificar, entre o cartel das seguradoras, por que pequenas empresas são capazes de prestar o serviço cobrando menos da metade do preço.
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