O sistema político dos EUA sob comando de Rupert Murdoch
Uma conversa gravada mostra que, no primeiro semestre de 2011, Murdoch pediu a Roger Ailes, chefe da Fox News, que fosse ao Afeganistão persuadir o general David Petraeus, antigo comandante das forças militares norte-americanas, a concorrer à presidência como candidato do Partido Republicano nas eleições deste ano. Murdoch prometeu financiar a campanha de Petraeus e apoiar o general com o aparato midiático da Fox News. O caso é perturbador para a imprensa porque desmonta a fachada democrática da política norte-americana. O artigo é de Jonathan Cook.
Jonathan Cook - Commondreams
Uma conversa gravada mostra que, no primeiro semestre de 2011, Murdoch pediu a Roger Ailes, chefe da Fox News, que fosse ao Afeganistão persuadir o general David Petraeus, antigo comandante das forças militares norte-americanas, a concorrer à presidência como candidato do Partido Republicano nas eleições deste ano. Murdoch prometeu financiar a campanha de Petraeus e apoiar o general com o aparato midiático da Fox News.
Os esforços de Murdoch não adiantaram porque Petraus não quis concorrer. “Diga a Ailes que se um dia eu concorrer”, diz Petraeus na gravação, “apesar de que não vou, mas se um dia eu concorrer a proposta será aceita”.
O caso de Petraeus é perturbador para a imprensa justamente porque desmonta a fachada democrática da política norte-americana, uma imagem construida cuidadosamente para que o eleitorado estadunidense se convença de que decide sobre o futuro político do país.
Bernstein está corretamente horrorizado não só com o ataque frontal à democracia mas com a atitude do Washington Post na publicação da matéria. O furo jornalístico foi enterrado na seção de Estilo do jornal e a editora do Post disse que a reportagem, apesar de “barulhenta”, não “justificaria uma primeira página”.
Alinhando-se à editora, o resto da grande mídia norte-americana ignorou ou menosprezou a reportagem.
Nós podemos assumir que Bernstein escreveu seu artigo sob pedido de Woodward, que assim demonstraria de forma encoberta o ultraje a que foi sujeito por seu jornal. A reportagem, com efeito, deveria causar um escândalo político. A dupla presumivelmente esperava que a história incitasse audiências no Congresso sobre o abuso de poder cometido por Murdoch, assim como aconteceu na Grã-Bretanha, onde investigações revelaram como o magnata controlava os políticos e a polícia britânicos.
Como observa Bernstein, “a corrupção por Murdoch de instituições democráticas fundamentais em ambos os lados do Atlântico é um dos casos de maior importância e alcance político e cultural dos últimos 30 anos, uma narrativa em curso sem igual.”
Bernstein só é incapaz de compreender porque os manda-chuvas da mídia não vêem as coisas como ele vê. Ele demonstra grande desalento perante “a falta de interesse da imprensa e dos políticos norte-americanos sobre o ocorrido. Não se sabe se o desinteresse é causado por medo do poderio de Murdoch e Ailes ou da pouca surpresa que traz a postura dos magnatas da mídia.”
Na verdade, nenhuma das explicações de Bernstein para tamanha falha é convincente.
Uma razão bastante mais provável para a aversão ao caso Ailes/Petraeus por parte da mídia norte-americana é que o caso oferece perigo à barreira construida pela mesma mídia que, com sucesso, oculta a cômoda relação entre as corporações (possuidoras da mídia) e os políticos do país.
O caso de Petraeus é perturbador para a imprensa justamente porque desmonta a fachada democrática da política norte-americana, uma imagem construida cuidadosamente para que o eleitorado estadunidense se convença de que decide o futuro político do país.
O caso revela a charada da disputa eleitoral. Poderosas elites manipulam o sistema com dinheiro e a mídia que eles comandam reduzem a escolha dos eleitores a dois candidatos quase idênticos. Esses candidatos sustentam as mesmas opiniões em 80% das questões. Mesmo as diferenças são resolvidas por trás dos panos pelas elites, seja por meio de lobistas, da mídia ou de Wall Street.
A reportagem de Woodward não prova que Murdoch ameaça a democracia. Ela revela a absoluta dominação do sistema político norte-americano pelas grandes corporações. Essas corporações controlam o que vemos e ouvimos e incluem, obviamente, os donos do Washington Post.
Triste é notar que os jornalistas da mídia corporativa são incapazes de enxergar além dos parâmetros que os donos da mídia impõem. E isso inclui mesmo os mais talentosos da categoria: Woodward e Bernstein.
(*) Jonathan Cook venceu o prêmio de jornalismo Martha Gellhorn em 2011. Seus dois últimos livros são sobre a Palestina. Seu novo website éhttp://www.jonathan-cook.net.
Tradução de André Cristi
Os esforços de Murdoch não adiantaram porque Petraus não quis concorrer. “Diga a Ailes que se um dia eu concorrer”, diz Petraeus na gravação, “apesar de que não vou, mas se um dia eu concorrer a proposta será aceita”.
O caso de Petraeus é perturbador para a imprensa justamente porque desmonta a fachada democrática da política norte-americana, uma imagem construida cuidadosamente para que o eleitorado estadunidense se convença de que decide sobre o futuro político do país.
Bernstein está corretamente horrorizado não só com o ataque frontal à democracia mas com a atitude do Washington Post na publicação da matéria. O furo jornalístico foi enterrado na seção de Estilo do jornal e a editora do Post disse que a reportagem, apesar de “barulhenta”, não “justificaria uma primeira página”.
Alinhando-se à editora, o resto da grande mídia norte-americana ignorou ou menosprezou a reportagem.
Nós podemos assumir que Bernstein escreveu seu artigo sob pedido de Woodward, que assim demonstraria de forma encoberta o ultraje a que foi sujeito por seu jornal. A reportagem, com efeito, deveria causar um escândalo político. A dupla presumivelmente esperava que a história incitasse audiências no Congresso sobre o abuso de poder cometido por Murdoch, assim como aconteceu na Grã-Bretanha, onde investigações revelaram como o magnata controlava os políticos e a polícia britânicos.
Como observa Bernstein, “a corrupção por Murdoch de instituições democráticas fundamentais em ambos os lados do Atlântico é um dos casos de maior importância e alcance político e cultural dos últimos 30 anos, uma narrativa em curso sem igual.”
Bernstein só é incapaz de compreender porque os manda-chuvas da mídia não vêem as coisas como ele vê. Ele demonstra grande desalento perante “a falta de interesse da imprensa e dos políticos norte-americanos sobre o ocorrido. Não se sabe se o desinteresse é causado por medo do poderio de Murdoch e Ailes ou da pouca surpresa que traz a postura dos magnatas da mídia.”
Na verdade, nenhuma das explicações de Bernstein para tamanha falha é convincente.
Uma razão bastante mais provável para a aversão ao caso Ailes/Petraeus por parte da mídia norte-americana é que o caso oferece perigo à barreira construida pela mesma mídia que, com sucesso, oculta a cômoda relação entre as corporações (possuidoras da mídia) e os políticos do país.
O caso de Petraeus é perturbador para a imprensa justamente porque desmonta a fachada democrática da política norte-americana, uma imagem construida cuidadosamente para que o eleitorado estadunidense se convença de que decide o futuro político do país.
O caso revela a charada da disputa eleitoral. Poderosas elites manipulam o sistema com dinheiro e a mídia que eles comandam reduzem a escolha dos eleitores a dois candidatos quase idênticos. Esses candidatos sustentam as mesmas opiniões em 80% das questões. Mesmo as diferenças são resolvidas por trás dos panos pelas elites, seja por meio de lobistas, da mídia ou de Wall Street.
A reportagem de Woodward não prova que Murdoch ameaça a democracia. Ela revela a absoluta dominação do sistema político norte-americano pelas grandes corporações. Essas corporações controlam o que vemos e ouvimos e incluem, obviamente, os donos do Washington Post.
Triste é notar que os jornalistas da mídia corporativa são incapazes de enxergar além dos parâmetros que os donos da mídia impõem. E isso inclui mesmo os mais talentosos da categoria: Woodward e Bernstein.
(*) Jonathan Cook venceu o prêmio de jornalismo Martha Gellhorn em 2011. Seus dois últimos livros são sobre a Palestina. Seu novo website éhttp://www.jonathan-cook.net.
Tradução de André Cristi
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