Devido
a sua ampla adaptação a diferentes condições de solo e clima, o cultivo do
abacateiro ocorre em países como México, Chile, EUA, África do Sul, Espanha,
Israel, Austrália, Nova Zelândia e Peru. O Brasil, no entanto, ocupa apenas a
7ª posição, produzindo 152.181 toneladas em 11.637 hectares distribuídos em
todo o país, principalmente nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul. Em
entrevista, Simone Rodrigues da Silva, docente do Departamento de Produção
Vegetal (LPV) na área de fruticultura, abordou os motivos da participação
ainda restrita do país nesse mercado e apresentou pesquisas desenvolvidas na
ESALQ com intuito de melhorar a produção e a qualidade do fruto.
Porque
a participação do Brasil ainda mostra-se tímida nessa cultura?
Simone
Rodrigues da Silva: A participação
brasileira no mercado mundial ainda é muito restrita principalmente pela
baixa produtividade e qualidade dos frutos decorrentes da falta de condições
adequadas de manejo, assistência técnica especializada, desenvolvimento de
pesquisa local, problemas de logística ao longo da cadeia de comercialização
e de uma política nacional para a expansão da cultura.
Quem
mais produz abacate no país?
SRS: O Estado de São Paulo é o principal produtor, com 82.014
toneladas anuais, que representam 53,9% da produção nacional, seguido de
Minas Gerais, com participação de 18,7%, Paraná (10,4%) e a região Nordeste
(6,2%). Os pomares de abacateiros estão distribuídos por todo o Estado de São
Paulo, mas 75% da área total plantada concentra-se em 39 municípios, sendo os
principais Mogi-Mirim, Jardinópolis, Bauru, Santo Antônio da Posse,
Araras e Tupã.
Mas a
produção mostra uma tendência de ascensão?
SRS: Historicamente, o cultivo de abacate no Brasil é descrito
como uma cultura de ‘interesse crescente e alto potencial produtivo’, no
entanto, a produção nacional diminuiu no tempo de 474.538 t em 1990 para
139.089 t em 2009 (-70%).
A que
podemos atribuir essa queda?
SRS: Podemos atribuir ao interesse dos produtores por culturas de
maior rentabilidade, por ser erroneamente considerada uma fruta “gordurosa” e
pelo hábito do brasileiro em consumi-la como sobremesa, batida com açúcar e
leite, o que limita sua expansão.
Mas
suas características nutritivas podem reverter esse quadro?
SRS: Pesquisas recentes confirmam a alta qualidade nutritiva e
nutracêutica do abacate, comprovando seu efeito na redução dos níveis
sanguíneos de colesterol ruim (HDL), colesterol total e triglicérides, além
de seu efeito no controle da glicemia em pacientes diabéticos. Outros estudos
têm sido conduzidos sobre o aproveitamento industrial do abacate para a
extração de óleo e álcool utilizados na geração de biocombustível e na
fabricação de tintas, cosméticos, medicamentos e alimentos.
Temos
potencial para exportar abacate?
O
aumento no preço pago pela fruta nos últimos anos, principalmente as tardias,
vem estimulando o plantio de novos pomares em São Paulo e Minas Gerais. O
cultivo da variedade de exportação ‘Hass’, também conhecida como “avocado”
tem se expandido no Estado de São Paulo, permitindo o crescimento expressivo
das exportações brasileiras, gerando divisas, emprego e renda por ser
ofertada na entressafra do Hemisfério Norte, o que garante bons preços pagos
pelo mercado europeu.
Mas
esta ainda não é uma realidade?
Com a
intensificação das pesquisas desde 2009, podemos afirmar que o Brasil tem
grande potencial de expansão do abacate tanto no mercado interno como no
externo, mas para que isso se concretize em médio prazo, é preciso
desenvolver campanhas internas de marketing para divulgação de novos modos de
consumo da fruta como o uso em saladas, pratos salgados, sanduíches, patês e
guacamole.
Como a
ESALQ pode contribuir para a expansão dessa cultura?
Atualmente,
no Departamento de Produção Vegetal, desenvolvemos vários estudos
direcionados à cultura do abacate. Entre outros, pesquisamos o ciclo
fenológico e manejo de Phytophthora em pomares de abacateiro
no Estado de São Paulo; o uso de vegetação intercalar para obtenção de
cobertura morta na cultura do abacateiro visando minimizar os danos causados
por Phytophthora cinnamomi; fazemos a avaliação horticultural de
porta-enxertos para abacateiro Hass; observamos o uso de reguladores de
crescimento vegetal para aumento da produção e o controle do vigor em
abacateiros; a aplicação de paclobutrazol (cultar) em primavera para aumento
da produção em abacateiro Hass; o efeito de distintos substratos e agentes de
controle biológico no desenvolvimento inicial e na sanidade de porta-enxertos
de abacateiro em condições de viveiro e a Interferência de espécies de Brachiaria no
desenvolvimento inicial de abacateiro.
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