Uma das mais antigas culturas do mundo, onde os princípios básicos de respeito em sociedade são mantidos desde o surgimento da civilização, a cultura da sociedade árabe é muito receptiva, forte e tradicional. Mundialmente conhecida, e com costumes conservativos, o povo árabe não costuma expressas seus sentimentos pessoais. Problemas pessoais, seja entre amigos ou familiares, sempre são mantidos longe dos estranhos porque existe uma grande preocupação, em não permitir que outras pessoas saibam o que se passa em suas vidas, bem como não se vê nas ruas de países árabes, pessoas rindo em voz alta.
Veja alguns aspectos dos costumes árabes:
Privacidade
A privacidade, uma das características mais importantes da sociedade árabe, é visivelmente percebida através da construção civil, onde as casas e prédios costumam ser construídas com paredes bem largas, para proporcionar distância do barulho do trânsito. Uma das considerações mais importantes na construção de uma casa, é a garantia de que seus moradores não verão os seus vizinhos, de nenhuma parte da casa, e vice-versa. Quando em visita a casa de um árabe, é recomendável ficar próximo à porta, de maneira que, quando a porta se abrir, não seja visível o interior da casa, e só tomar a iniciativa de entrar quando for convidado, pelo anfitrião que estende a mão, com a palma para cima, dizendo: “tifaddal” (“entre”).
Cuidado com as palavras
As palavras são analisadas, uma a uma, mesmo que sejam elogios! Um simples elogio a algo do anfitrião árabe, faz com que ele se sinta obrigado a lhe oferecer, mesmo que seja de valor expressivo. Admire as coisas, mas sem exageros.
Cumprimentando as mulheres
Ao ser convidado à casa de um anfitrião árabe, ou para o seu escritório, e for apresentado a uma mulher, seja ela funcionária ou parente dele, não se deve beijá-la. Se ela estender a mão para cumprimentar, então a cumprimente, em outros casos, somente a cumprimente com palavras. Nunca comente a beleza da mulher de um árabe, seja ela, a esposa, a irmã, filha ou funcionária. Isto não será visto como um elogio!
Recebendo convidados
Receber um convidado é algo muito importante para árabe, onde todas as honras da casa serão apresentadas. Ele questionará o tempo inteiro se o convidado está sendo bem recepcionado (às vezes até de forma exagerada), e o servirá em quantidades além do normal. Existe uma preocupação grande em saber se o convidado está bem satisfeito. Para poder servir e apresentar as honras da casa, os membros da família são os últimos a comer. Quando você for convidado para almoçar, ou jantar, em um restaurante por um árabe, ele sempre pagará a conta, e o mesmo é esperado quando as posições se inverterem. Quando convidar um árabe, certifique-se sobre sua religião, e não lhe ofereça ou sirva álcool, carne suína e seus derivados, porque são itens proibidos aos muçulmanos, por exemplo.
A família árabe
A família árabe é centrada na figura do pai, e do irmão mais velho (no caso da ausência do pai), pois o homem da família é o provedor das necessidades da casa, a ele existe toda uma reverência e respeito, e a mãe é responsável pelos cuidados da casa, e dos afazeres domésticos. Em alguns países árabes, e nos países do Golfo, normalmente existem empregadas. O homem árabe sempre foi o tomador de decisões, e só as suas opiniões eram importantes. Com o tempo, a mulher tem se mostrado formadora de opinião na família árabe, interagindo com o marido, para juntos resolverem problemas que antes só convinham aos homens, e os filhos sempre são encaminhados a continuar seguindo as tradições de família. Os homens são suporte para o pai, e as filhas, apoio para a mãe, além de serem responsáveis pela ajuda nos serviços da casa.
A educação da família árabe
Os árabes têm por lei o direito ao ensino, tanto para homens quanto para mulheres. Nos países do Golfo, o governo também responde pelo ensino universitário. Em alguns países, existem escolas para meninas e escolas para meninos, e escolas mistas, cabendo aos pais escolher qual a melhor educação para os seus filhos.
Recebendo presentes
Quando o visitante receber um presente, ou oferecer a alguém um presente, o mesmo não deve ser aberto na frente das pessoas.
A mulher árabe na sociedade
Durante muitos anos, a mídia internacional apresenta a mulher árabe, como uma pessoa privada do acesso ao mercado de trabalho, o que não é verdade. Atualmente, o trabalho da mulher é fundamental em todos os países árabes; porém o mais comum, é que elas só saiam de casa para se casar, e em casos de separação, elas retornam a casa de seus pais.
Deveres sociais
Na sociedade árabe, a família não se resume a pai, mãe e filhos. As responsabilidades sociais são exercidas por todos os demais membros, onde todos constroem uma união, que se mantêm presente, em todos os momentos da vida familiar.
Veja alguns deveres sociais:
•Quando alguém viaja, ou retorna de viagem, parentes próximos e distantes vão recebê-lo no aeroporto.
•Quando adoece, é muito comum todos ficarem extremamente preocupados, deixando seus afazeres diários, e permanecendo na casa da pessoa, ou no hospital. É comum, quando se visita um enfermo, levar doces, chocolates, frutas, biscoitos ou flores.
•Em casamentos, é costume que as pessoas levem dinheiro, ouro, ou algo para a nova casa do casal.
•Quando nasce um bebê, visitas e presentes são esperados de todos os membros da família. Em algumas comunidades, a mulher ainda fica quarenta dias na casa de sua mãe, para poder ser cuidada pelas irmãs e pela mãe.
Negociando com árabes:
Há um provérbio árabe que diz que se não se negocia de forma rentável, não se negociará durante muito tempo. Portanto, todo negócio deve ser feito de forma que ambas as partem ganhem. Se há interesse de se negociar continuamente com árabes, é preciso conhecer seus diferentes estilos, enfoques, costumes e também sua religião. Existem 200 milhões de árabes em 22 estados que se estendem do norte da África e Oriente Médio, do Oceano Atlântico até o Golfo de Omã, e ao longo da Ribeira Sul do Mediterrâneo. E cada estado possui suas próprias peculiaridades, diferenças, conceitos, costumes e estruturas e capacidades econômicas, distintas.
A língua árabe é a força unificadora mais importante entre esse povo, ainda que haja dialetos regionais, sua escrita e raízes clássicas, impõem sua supremacia em toda a nação árabe. Se você deseja negociar com os árabes, aprenda o idioma, mesmo que seja o básico. Muitos homens de negócios do mundo árabe falam inglês, francês, espanhol e português, além de diplomas de universidades ocidentais. Os produtos que deverão ser exportados para países árabes, devem conter um rótulo ou etiqueta em árabe.
É aconselhável também, que se aprenda e se informe com certa antecedência, as informações básicas do islã, bem como sua história, suas crenças, e tratar com respeito suas manifestações e costumes.
Em alguns países ocidentais, o que se conhece sobre o islã é quase nulo, e muitas informações equivocadas, levam a ofensas grotescas. Leis, ética e sistemas comerciais, variam de um país árabe para outro, mas em todos eles, existem elementos culturais comuns. No meio empresarial árabe, a família exerce uma dominante influência nos negócios (sejam eles pais, tios, irmãos, sobrinhos, etc.), e as obrigações para com a família não são tratadas de forma rápida, é necessário a existência de esperança, assistência, apoio, socorro mútuo, onde impera o protecionismo cordial.
As negociações com árabes, estão sempre ligadas ao seu entorno, seja ele o deserto, o clima, meio social e político, que exerce grande influência em seu comportamento como comerciantes. Ainda que suas atitudes em relação ao tempo aparentem que os negociantes árabes são indiferentes ao relógio (tempo é dinheiro), equivoca-se quem acredita que eles não saibam que o tempo é mais importante, do que eles dão a entender, por meio de seu comportamento. O que impera nesses momentos é a paciência.
A paciência na cultura árabe é considerada uma virtude, os árabes não gostam de abordar os assuntos relativos a negócios, precipitadamente. Encontrar-se com um árabe, ou iniciar uma conversa de negócios com ele logo de início, é considero má educação. Árabes primeiro conversam sobre assuntos sociais, e depois abordam os assuntos de negócios. “A paciência tem raízes amargas, mas frutos muito doces”, segundo outro provérbio árabe.
O comerciante árabe pode comportar-se educadamente diante de uma gafe, e às vezes, aparenta uma ingenuidade extraterrena, com respeito a ele mesmo, mas não se engane, porque ele não o é, como geralmente pensam muitos ocidentais. Os árabes também não gostam de confrontos cara a cara e disputas, o que para eles, isso é considerado uma grosseria, salvo em casos extremos; em geral, os árabes são hospitaleiros, amáveis, e cavalheiros por tradição.
Entretanto, ele se recusa a tomar decisões de forma rápida, ainda que sua demora, na tomada de uma decisão, pareça indicar um desacordo em algum ponto da proposta. Escutar atentamente o que ele tem a dizer, poderá lhe ajudar a detectar o problema; nesse ponto, a comunicação será de suma importância. Quando se demonstra compreensão em relação às normas sociais do povo árabe, consequentemente ele também se mostra mais disposto, e interessado, em suas propostas. Um empresário brasileiro geralmente despertará um afeto secular em um negociante árabe, em virtude da enorme simpatia que os árabes já têm pelos brasileiros, em virtude de seus laços culturais e da hospitalidade que tem unido ambos os povos há mais de 130 anos.
Ramadan:
Durante o mês do Ramadan, todos os árabes (homens e mulheres), que já tenham chegado à puberdade, devem se abster de comer, beber, fumar, usar perfumes e ter relações sexuais durante o dia, entre o nascer do sol até o por do sol. Para os muçulmanos o dia começa a ser contado, após o por do sol, quando já não se diferencia uma linha branca de uma preta, e não a meia noite, como ocorre no calendário ocidental cristão. Os muçulmanos possuem cinco obrigações religiosas básicas, chamadas de “os cinco pilares do Islã”, que constroem a sua fé, e que devem ser obrigatoriamente realizadas por cada muçulmano.
São eles:
•Credo (chahada), que consiste em aceitar e repetir todos os dias: “Não há outro Deus a não ser Deus, e Mohammad (Maomé) é o seu profeta”;
•Oração (salat), que consiste em realizar cinco orações diárias, em horários pré-determinados, com o rosto voltado para Meca;
•Caridade (zacat), onde durante os 40 dias do mês do Ramadan (o nono mês do calendário islâmico) é obrigatório, jejuar do nascer do sol até o por do sol;
•Peregrinação a Meca (haj), onde ao menos uma vez na vida, todo muçulmano adulto que tenha condições, de fazer uma peregrinação à Meca.
Bastante rigoroso, o ritual consiste em dar sete voltar em torno da Caaba (Mesquita de Meca), e só pode ser feito uma vez por ano, em datas específicas. O acesso à região só é permitido aos muçulmanos, que devem alcançar um estado de pureza ritual, antes de chegar à Meca.
Cerca de 2 milhões de muçulmanos fazem o Haj, Muitos o fazem a pé, de navio, ou de avião, vindos de todas as partes do mundo, onde a fé e a cultura islâmica continuam até hoje, a formar a vida das pessoas no Oriente Médio, no norte da África e sudoeste da Ásia.
Resumindo, se você deseja negociar com árabes, observe o seguinte:
•Não subestime a capacidade intelectual e profissional dos empresários árabes;
•Em reuniões de negócios, não aborde o assunto diretamente, introduza a conversa com assunto familiares e sociais, que para eles, é importantíssimo;
•Não sente com as pernas cruzadas, mostrando o solado do sapato para árabe, isso é considerado um desrespeito a ele;
•Sempre agradeça a generosa hospitalidade que ele lhe ofereceu;
•Jamais fale de um árabe para outro árabe;
•Não se esqueça de que ser chamado de “habibi” é um ponto positivo, do inicio de uma duradoura amizade;
•Beijos nas bochechas como forma de saudação, significa que há uma amizade já consolidada, assim como o aperto de mãos;
•Respeite os jejuns, e não fume na presença de um árabe durante o mês do Ramadan, ou evite viajar neste período para fechar negócios, pois este é um mês de reflexão e oração para os muçulmanos;
•Espere até que lhe ofereçam o café árabe, e mesmo que para você seja estranho beber um café que não foi coado, quebre seus paradigmas e experimente, e você verá que pode ser muito bom (e você pode acrescentar açúcar em sua xícara sem problemas), e não recuse os chás que também lhe serão oferecidos na sua chegada;
•Conscientize-se de que a cultura árabe estará com um árabe, mesmo que ele tenha saído de seu país de origem, portanto, respeite suas vestimentas, tradições, costumes e cultura e mantenha um comportamento observador, mas não o comprometa com nenhuma atenção desnecessária, ou contenha-se para não cometer nenhuma gafe ou ofensa;
•Inicie uma pesquisa sobre a cultura árabe, inclusive o idioma, e mostre a ele que você conhece, nem que seja um pouco, sobre sua cultura, costumes e tradições, e pergunte o que você não souber, mas demonstre interesse, isso o fará feliz e honrado e contará muitos pontos a seu favor;
•Na cultura árabe as pessoas mais velhas são veneradas e respeitadas, não trate com indiferença ou desinteresse uma pessoa em virtude de sua avançada idade, isso seria totalmente desrespeitoso.
•Aumente seus conhecimentos, expanda seus horizontes e descubra mais sobre os árabes, tente comprar um papiro, o primeiro papel do universo, e consulte o seu contato árabe pedindo-lhe que lhe conte algumas das lindas historias desse povo, você se surpreenderá com o tanto que irá aprender e descobrir, e o seu contato, obviamente irá apreciar imensamente o seu interesse.
•E “nunca” chame um árabe de turco! Estude a geografia dos mapas se for preciso.
Therese Mourad
Gazeta de Beirute
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