Os franceses, ao que parece, estão perdendo a paixão. Não pela assistência médica gratuita nem por jornadas de trabalho reduzidas ou por férias mais longas em agosto.
Elaine Sciolino
Elaine Sciolino

Mas pelo pão.
O declínio é tão preocupante que o Observatoire du Pain, lobby dos padeiros e produtores de farinha, iniciou uma campanha nacional em junho para enaltecer o pão, dizendo que ele promove a saúde, boas conversas e a civilização francesa.
O site da campanha (www.tuasprislepain.fr) explica que "a França é uma 'civilização do pão'" e que este alimento "faz parte da refeição tradicional 'à la française'".
O pão é descrito como saudável e útil para evitar aumento de peso. "Ele é rico em proteína vegetal e fibras e pobre em gordura; os glicídios são uma fonte de energia", diz o site, usando a palavra francesa para carboidratos.
Se as pessoas que estão em dieta querem "evitar comer algo com gordura e açúcar, o pão está lá", diz o site. "Seu efeito saciante permite que você espere a próxima refeição."
Custando um pouco mais de um dólar, a baguette básica é um dos alimentos básicos mais baratos do país. Dez bilhões de baguettes são vendidas por ano na França.
Um festival nacional de pão é realizado todo mês de maio próximo à festa de Saint Honoré (o santo padroeiro dos padeiros), para que os franceses possam experimentar pães diferentes, aprender como o pão é feito e até mesmo aprender a ser padeiro.
Além disso, Paris realiza um concurso anual para escolher o melhor fabricante de baguete artesanal da cidade, e os pães do vencedor vão enfeitar as mesas do presidente François Hollande no Palácio do Eliseu durante um ano. No mês passado, depois de uma tarde de degustação de 152 baguetes, o júri escolheu as de Ridha Khadher, que deixou a Tunísia quando era adolescente, há 24 anos, para se tornar padeiro na França.
"É uma grande honra para um tunisiano ser eleito o melhor fabricante de baguetes", disse Khadher. "Eu me pergunto o que o presidente vai achar das nossas baguetes."
O pão está cedendo o seu lugar na mesa para rivais como cereais matinais, macarrão e arroz. A França ainda pode desfrutar da maior densidade de padarias independentes no mundo (32 mil), mas em 1950 havia 54 mil.
De acordo com o historiador norte-americano Steven L. Kaplan, que até os franceses consideram a maior autoridade mundial sobre o pão francês, a panificação seguiu duas tendências no século passado: um declínio constante na qualidade da maioria dos produtos, e o surgimento de uma nova geração de padeiros artesanais dedicados à excelência e à tradição.
"Esta campanha parece o miolo de uma baguete de farinha branca: insípida", disse ele. "Está pedindo às pessoas para comprarem pão como parte de sua rotina, como lavar as mãos ou escovar os dentes. Precisamos falar sobre o pão como um objeto de prazer. Precisamos celebrar os pães que fazem as papilas gustativas dançarem."

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