sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Alimento básico francês, o pão perde o seu lugar à mesa


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Os franceses, ao que parece, estão perdendo a paixão. Não pela assistência médica gratuita nem por jornadas de trabalho reduzidas ou por férias mais longas em agosto.

Elaine Sciolino
Mas pelo pão.
Hoje em dia, o francês come, em média, apenas meia baguete por dia. Em 1970 ele comia quase uma baguete inteira e, em 1900, mais de três. As mulheres, que ainda são as principais responsáveis pelas compras na maioria das famílias, comem cerca de um terço a menos do que os homens, e os jovens quase 30% menos do que há uma década.
O declínio é tão preocupante que o Observatoire du Pain, lobby dos padeiros e produtores de farinha, iniciou uma campanha nacional em junho para enaltecer o pão, dizendo que ele promove a saúde, boas conversas e a civilização francesa.
"Coucou, tu as pris le pain?" ("Ei, você já comprou pão?") é o slogan da campanha. Seguindo os moldes da campanha publicitária norte-americana "Got Milk?", o slogan do pão foi estampado em outdoors e em sacos de pão em 130 cidades de todo o país.
"Os hábitos alimentares estão mudando", disse Bernard Valluis, copresidente do lobby. "As pessoas estão muito ocupadas ou trabalham até muito tarde e não conseguem ir à padaria. Os adolescentes estão pulando o café-da-manhã. Agora, quando virem a palavra 'coucou', queremos que isso seja um reflexo para os consumidores dizerem a si mesmos: 'Ah, preciso comprar pão hoje'."
O site da campanha (www.tuasprislepain.fr) explica que "a França é uma 'civilização do pão'" e que este alimento "faz parte da refeição tradicional 'à la française'".
O pão é descrito como saudável e útil para evitar aumento de peso. "Ele é rico em proteína vegetal e fibras e pobre em gordura; os glicídios são uma fonte de energia", diz o site, usando a palavra francesa para carboidratos.
Se as pessoas que estão em dieta querem "evitar comer algo com gordura e açúcar, o pão está lá", diz o site. "Seu efeito saciante permite que você espere a próxima refeição."
Além disso, há o efeito da simpatia: "Lembre-se de que comprar pão fresco no caminho para casa é uma maneira simples de mostrar a seus entes queridos que você pensou neles e em lhes dar prazer durante o dia".
Custando um pouco mais de um dólar, a baguette básica é um dos alimentos básicos mais baratos do país. Dez bilhões de baguettes são vendidas por ano na França.
Um festival nacional de pão é realizado todo mês de maio próximo à festa de Saint Honoré (o santo padroeiro dos padeiros), para que os franceses possam experimentar pães diferentes, aprender como o pão é feito e até mesmo aprender a ser padeiro.
Além disso, Paris realiza um concurso anual para escolher o melhor fabricante de baguete artesanal da cidade, e os pães do vencedor vão enfeitar as mesas do presidente François Hollande no Palácio do Eliseu durante um ano. No mês passado, depois de uma tarde de degustação de 152 baguetes, o júri escolheu as de Ridha Khadher, que deixou a Tunísia quando era adolescente, há 24 anos, para se tornar padeiro na França.
"É uma grande honra para um tunisiano ser eleito o melhor fabricante de baguetes", disse Khadher. "Eu me pergunto o que o presidente vai achar das nossas baguetes."
O pão está cedendo o seu lugar na mesa para rivais como cereais matinais, macarrão e arroz. A França ainda pode desfrutar da maior densidade de padarias independentes no mundo (32 mil), mas em 1950 havia 54 mil.
De acordo com o historiador norte-americano Steven L. Kaplan, que até os franceses consideram a maior autoridade mundial sobre o pão francês, a panificação seguiu duas tendências no século passado: um declínio constante na qualidade da maioria dos produtos, e o surgimento de uma nova geração de padeiros artesanais dedicados à excelência e à tradição.
"Esta campanha parece o miolo de uma baguete de farinha branca: insípida", disse ele. "Está pedindo às pessoas para comprarem pão como parte de sua rotina, como lavar as mãos ou escovar os dentes. Precisamos falar sobre o pão como um objeto de prazer. Precisamos celebrar os pães que fazem as papilas gustativas dançarem."

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