Falta tempo para o trabalho. Cuidado com os filhos, sobrecarga de afazeres em casa, culpa, horário difícil, machismo, tudo isso junto está freando a entrada da mulher no mercado de trabalho, depois do explosivo avanço nas décadas de 1970 e 1980.
Cássia Almeida E Cleide Carvalho
Cássia Almeida E Cleide Carvalho
Salário é 25% menor
Menos aposentadas
Em 2011, o homem gastava dez horas e oito minutos de sua semana com afazeres domésticos, enquanto as mulheres destinavam 22 horas e 13 minutos. Dez anos antes, o tempo dedicado pelos homens era oito minutos menor.
Para a economista Guiomar Aquilini, analista da Fundação Seade, o excesso de trabalhos ditos femininos traz consequência para toda a vida profissional da mulher: — Na aposentadoria isso fica claro. Enquanto 42,1% dos homens estão aposentados entre 50 e 75 anos, entre as mulheres essa parcela cai para 29,4%. Reflexo do trabalho não remunerado, dentro de casa.
A renda baixa desestimula ainda mais a entrada no mercado. Entre as 25% mais pobres da região, a taxa de atividade (mulheres que trabalham e que procuram emprego na população com 10 anos ou mais) caiu de 45,7% para 43,9% em dez anos. Entre as mulheres com mais renda subiu de 62,4% para 65,1%.
— Quando a renda é maior, é possível terceirizar o serviço.
O marido da psicóloga Yramaia Valini Rinaldi Cruz, de 42 anos, recebeu uma proposta para trabalhar em Salvador quando o segundo filho do casal tinha 1 ano e o primeiro, 2 anos. Como o ganho de Yramaia era pequeno, o casal se mudou e a psicóloga parou de trabalhar.
— Sempre quis ter família grande, mas depois que abandonei o emprego chorava de vez em quando. Não gostava de me sentir como dona de casa.
Três anos depois, a família retornou a São Paulo e já estava maior: nascera a terceira criança, uma menina, hoje com 12 anos. Novamente, optou por deixar as crianças sob os cuidados da avó. Mas os meninos tinham crescido. O primeiro tinha 6 anos, o segundo, 4. Ou seja, davam muito mais trabalho do que quando eram bebês. E ainda tinha a menina, de apenas 1 ano, que exigia atenção constante: — Foi horrível. Aí vi que não valia a pena trabalhar.
Financeiramente, não dependíamos do que eu ganhava e percebi que me satisfazia mais cuidando das crianças. Desta vez, ficar em casa foi opção — afirma, que com as crianças maiores resolveu tornar o hobby de fotografar em profissão e montou um estúdio em casa.
Também foi por opção que Rachelle Cordeiro deixou o trabalho numa revendedora de carros ao engravidar deMatheus, hoje com 1 ano.
— Ele nunca teve um resfriado. Não quis pôr em creche, é muita criança junto. O pediatra diz que o melhor é a mãe ficar com o filho pelo menos até os 7 anos. Pretendo cuidar somente dele até os 5 anos e acho que consigo voltar ao mercado.
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