Para o Cremesp, a relação está contaminada e por vezes ultrapassa o limite da ética
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Pelo menos 38% de todos os médicos paulistas prescrevem medicamentos que são indicados pela indústria farmacêutica. As informações são de uma pesquisa do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo).
No caso de equipamentos médico-hospitalares, que são usados para diagnóstico e tratamento de doenças, a eficiência dos representantes é a maior de todas: 71% dos médicos recomendaram os produtos após visita das empresas. Para grande parte dos médicos, essa prática vem desde os anos de faculdade, já que 74% declararam que presenciaram ou receberam benefícios durante a graduação.
Dentre todos os médicos paulistas, a pesquisa mostrou que 32% dizem acreditar que o relacionamento com a indústria está totalmente fora de controle; 35% criticam os interesses financeiros e influências das fábricas na prescrição; 33% souberam ou presenciaram ganhos de comissão por recomendação de procedimento desnecessário e 33% consideram insuficiente a regulamentação ética.
A influência dos laboratórios é ainda maior quando os médicos recebem representantes das empresas, já que 48% dos médicos admitem que receitaram medicamentos após visita dos propagandistas das fábricas. De acordo com a pesquisa, oito em cada dez médicos recebem essas visitas.
Diante dessa influência, cerca de um terço dos médicos desconfia dessa relação com as fábricas, que, segundo o Cremesp, está contaminada e chega a ultrapassar os limites da ética.
Alguns médicos disseram que essa relação se tornou comercial, e não científica. Outros profissionais chegaram a dizer que as empresas tentam comprá-los com presentes e vantagens.
Mesmo com essa desconfiança, 62% dos médicos avaliam positivamente a relação com as empresas que fabricam medicamentos, órteses, próteses e equipamentos médico-hospitalares. As principais razões são que essas indústrias realizam um bom atendimento, além de trazerem novos medicamentos e informações cientificas atualizadas.
Benefícios das indústrias
Ainda de acordo com a pesquisa, 93% dos médicos receberam nos últimos 12 meses brindes ou benefícios de até R$ 500 da indústria farmacêutica e de equipamentos. Já 58% receberam objetos para o consultório, enquanto 34% receberam almoços ou jantares e 15% receberam ingressos para eventos culturais e de lazer.
Além disso, 37% dos médicos disseram que receberam benefícios superiores a R$ 500, como viagens para congressos nacionais e internacionais e convites para participar de cursos.
Nenhum médico afirmou que recebe prêmios por prescrever medicamentos ou equipamentos a seus pacientes. No entanto, 12% deles disseram conhecer colegas que recebem tais comissões.
A partir dessa pesquisa, o Cremesp espera ampliar o debate sobre a necessidade de mais transparência e de maior divulgação do atual Código de Ética Médica. Além disso, o conselho busca aprimorar as relações entre os médicos e as empresas que fabricam e comercializam esses produtos.
A pesquisa do Cremesp foi realizada pelo Datafolha, entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010, após entrevista com 600 médicos de diversas especialidades.
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