Fernando Gómez expõe a
agenda e as principais conclusões do encontro "Democratizar a palavra na
integração dos povos", organizado por ALAI e ALER.
Por Fernando Gómez (*)
Equador, Quito - Aconteceu em Quito, entre os dias 4
e 6 de novembro, o encontro “Democratizar a palavra na integração dos povos”
que, com a participação de mais de 40 delegados e delegadas de movimentos
sociais e de um amplo leque de meios populares, rádios comunitárias e até do
canal venezuelano Telesur, deixou constituído o Fórum Latino-americano de
Comunicação para a Integração.
O encontro, convocado
pela Agência Latino-americana de Informação (ALAI) e a Associação
Latino-americana de Educação Radiofônica (ALER), girou em torno de cinco eixos:
formação e capacitação, agenda informativa comum, tecnologia, incidência
política e sustentabilidade. Durante três dias os e as participantes elaboraram
propostas e sugeriram estratégias em torno da comunicação e da integração a
partir de um olhar das organizações sociais.
As limitações dos meios
de comunicação populares para interpelar com seu discurso as grandes maiorias
da sociedade foi a principal autocrítica que percorreu o debate. Para superar
essa limitação, foi decidido elaborar uma agenda de trabalho comum que vise romper
o isolamento e a dispersão, que permita uma maior integração “com justiça e
igualdade entre povos, entre mulheres e homens e com respeito à natureza”. Como
outro acordo de trabalho, foi proposto realizar coberturas conjuntas frente
conjunturas repressivas e outros acontecimentos que se referem aos interesses
populares, além dos próximos processos eleitorais de Honduras, Chile, Venezuela
e El Salvador.
Os avanços em vários
países da região quanto à “democratização da comunicação” ocuparam um lugar
central nos debates do encontro, como a recente estreia da Lei Orgânica de
Comunicação no Equador. Entretanto, ficou claro que os avanços são resultado de
processos de lutas e por isso se afirmou a necessidade de aprofundá-los. Em
torno disso, o jornalista uruguaio Aran Ahronian ressaltou que “uma lei não
cria a comunicação”, porque “a comunicação é criada pelo campo popular”.
O documento final,
produto do encontro, que será apresentado aos diferentes mandatários da região,
inclui uma convocatória “a todos os povos latino-americanos para somar esforços
para fazer valer o direito à comunicação”. Também ressalta que “a democratização
da cultura, da educação, da informação e da comunicação social são requisitos
imprescindíveis para a consolidação de democracias participativas”.
Para os movimentos
sociais já não importam só os meios de comunicação quando fazem conhecidas “as
verdadeiras lutas”, mas hoje em dia a comunicação é parte de suas agendas e se
transformou em um terreno estratégico na hora das disputas políticas, culturais
e ideológicas que se desenvolvem em nosso continente. Por esse motivo se
destacou na declaração final do foro que “a importância de consolidar uma
agenda para uma comunicação que promova a integração requer o impulso dos
movimentos sociais, dos Estados nacionais e das instâncias regionais”.
A comunicação acompanhou
o processo organizativo de muitos movimentos sociais do continente, que
compreendem que não podem assumi-la como ferramenta instrumental, mas como um
âmbito de luta, onde dar visibilidade às suas propostas e aproximá-la aos
diversos espaços de transformação. A comunicação não é um campo exclusivo dos
comunicadores e das comunicadoras, e necessita da participação ativa daqueles
que formam parte dos diferentes processos políticos.
As organizações devem
continuar trabalhando na conformação desta visão não instrumental da
comunicação, para que seja verdadeiramente uma prática de vida e não apenas uma
declaração.
Para os meios de
comunicação populares é fundamental dar passos na prática e, ao mesmo tempo, ir
construindo novas teorias que tenham a ver com suas realidades,
idiossincrasias, que permitam visualizar o projeto político que acompanham
diariamente.
Os meios de comunicação
populares deverão seguir construindo-se a partir de espaços de referência, como
são os movimentos sociais e políticos que diariamente impulsionam lutas e debates
que não encontram lugar de visibilidade nos grandes meios de comunicação. O
encontro “Democratizar a palavra na integração dos povos” serviu para pensar as
contribuições da perspectiva comunicacional comunitária, livre e alternativa,
as políticas de ação que incrementem e ampliem a organização do campo popular.
*Integrante do meio
comunitário Radionauta FM 106.3 e membro da equipe de comunicação da
Articulação Continental de Movimentos Sociais para o ALBA.
Tradução: Liborio Júnior
Créditos da foto: alai
Voltar para o Índice
Nenhum comentário:
Postar um comentário