quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Com um grito na voz


Fernando Gómez expõe a agenda e as principais conclusões do encontro "Democratizar a palavra na integração dos povos", organizado por ALAI e ALER.

Por Fernando Gómez (*)
Equador, Quito - Aconteceu em Quito, entre os dias 4 e 6 de novembro, o encontro “Democratizar a palavra na integração dos povos” que, com a participação de mais de 40 delegados e delegadas de movimentos sociais e de um amplo leque de meios populares, rádios comunitárias e até do canal venezuelano Telesur, deixou constituído o Fórum Latino-americano de Comunicação para a Integração.
O encontro, convocado pela Agência Latino-americana de Informação (ALAI) e a Associação Latino-americana de Educação Radiofônica (ALER), girou em torno de cinco eixos: formação e capacitação, agenda informativa comum, tecnologia, incidência política e sustentabilidade. Durante três dias os e as participantes elaboraram propostas e sugeriram estratégias em torno da comunicação e da integração a partir de um olhar das organizações sociais.
As limitações dos meios de comunicação populares para interpelar com seu discurso as grandes maiorias da sociedade foi a principal autocrítica que percorreu o debate. Para superar essa limitação, foi decidido elaborar uma agenda de trabalho comum que vise romper o isolamento e a dispersão, que permita uma maior integração “com justiça e igualdade entre povos, entre mulheres e homens e com respeito à natureza”. Como outro acordo de trabalho, foi proposto realizar coberturas conjuntas frente conjunturas repressivas e outros acontecimentos que se referem aos interesses populares, além dos próximos processos eleitorais de Honduras, Chile, Venezuela e El Salvador.
Os avanços em vários países da região quanto à “democratização da comunicação” ocuparam um lugar central nos debates do encontro, como a recente estreia da Lei Orgânica de Comunicação no Equador. Entretanto, ficou claro que os avanços são resultado de processos de lutas e por isso se afirmou a necessidade de aprofundá-los. Em torno disso, o jornalista uruguaio Aran Ahronian ressaltou que “uma lei não cria a comunicação”, porque “a comunicação é criada pelo campo popular”.
O documento final, produto do encontro, que será apresentado aos diferentes mandatários da região, inclui uma convocatória “a todos os povos latino-americanos para somar esforços para fazer valer o direito à comunicação”. Também ressalta que “a democratização da cultura, da educação, da informação e da comunicação social são requisitos imprescindíveis para a consolidação de democracias participativas”.
Para os movimentos sociais já não importam só os meios de comunicação quando fazem conhecidas “as verdadeiras lutas”, mas hoje em dia a comunicação é parte de suas agendas e se transformou em um terreno estratégico na hora das disputas políticas, culturais e ideológicas que se desenvolvem em nosso continente. Por esse motivo se destacou na declaração final do foro que “a importância de consolidar uma agenda para uma comunicação que promova a integração requer o impulso dos movimentos sociais, dos Estados nacionais e das instâncias regionais”. 
A comunicação acompanhou o processo organizativo de muitos movimentos sociais do continente, que compreendem que não podem assumi-la como ferramenta instrumental, mas como um âmbito de luta, onde dar visibilidade às suas propostas e aproximá-la aos diversos espaços de transformação. A comunicação não é um campo exclusivo dos comunicadores e das comunicadoras, e necessita da participação ativa daqueles que formam parte dos diferentes processos políticos.
As organizações devem continuar trabalhando na conformação desta visão não instrumental da comunicação, para que seja verdadeiramente uma prática de vida e não apenas uma declaração.
Para os meios de comunicação populares é fundamental dar passos na prática e, ao mesmo tempo, ir construindo novas teorias que tenham a ver com suas realidades, idiossincrasias, que permitam visualizar o projeto político que acompanham diariamente.

Os meios de comunicação populares deverão seguir construindo-se a partir de espaços de referência, como são os movimentos sociais e políticos que diariamente impulsionam lutas e debates que não encontram lugar de visibilidade nos grandes meios de comunicação. O encontro “Democratizar a palavra na integração dos povos” serviu para pensar as contribuições da perspectiva comunicacional comunitária, livre e alternativa, as políticas de ação que incrementem e ampliem a organização do campo popular.
*Integrante do meio comunitário Radionauta FM 106.3 e membro da equipe de comunicação da Articulação Continental de Movimentos Sociais para o ALBA.
Tradução: Liborio Júnior
Créditos da foto: alai
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